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Censo 2022: São Gonçalo é a cidade que mais perdeu habitantes no Brasil; veja ranking

Ela está no topo dos municípios com mais de 100 mil habitantes que encolheram desde 2010; Violência é fator decisivo para deixar a cidade, dizem moradores

Cristo Redentor, no Rio de JaneiroCristo Redentor, no Rio de Janeiro - Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Localizada na Região Metropolitana do Rio, São Gonçalo foi a cidade que mais perdeu habitantes do país entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, segundo o Censo do IBGE de 2022. Os dados divulgados nesta quarta-feira mostram que a população caiu de 999.728 para 896.744, o que representa uma queda de 10,3%. É o maior índice de variação população negativa do Brasil.

Nas ruas da cidade, os moradores especulam que a violência urbana é um dos principais motivos que podem explicar a redução populacional. Há 70 anos morando no bairro Boavista, um aposentado de 80 anos que preferiu não se identificar acredita que a presença cada vez mais ostensiva do tráfico tem afastado as pessoas da cidade.

"Antes era um paraíso. Podia ficar em frente de casa batendo papo com os amigos. Hoje, é uma dificuldade para entrar e sair de casa, com barricadas, toque de recolher, confronto. Isso expulsou muita gente daqui. Os imóveis também desvalorizaram. O que antes era R$ 300 mil, hoje se vende por R$ 100 mil", relata o morador, que pensa em se mudar, mas é contrariado pela esposa, que quer ficar perto dos netos.

 

Crise sanitária

Além da falta de segurança pública, a crise sanitária provocada pelo coronavírus foi um fator levado em consideração por dona Arina Siqueira Pereira, de 76 anos. Nascida e criada no município, ela não pensa em se mudar, ao contrário da filha.

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"Acho que a Covid-19 matou muita gente em São Gonçalo, isso deve ter contribuído. Tinha vacina, mas as pessoas não queriam tomar. Eu tomei minhas doses todas", conta a aposentada, que ainda trabalha panfletando nas ruas do Centro da cidade.

Ela complementa:

— Eu morava numa casa que construí no bairro Santa Catarina, mas vendi. Hoje moro no Engenho Pequeno tem 40 anos. Não quero me mudar. Todo mundo me conhece. Minha filha mais nova morava de aluguel perto de mim, mas se mudou para Itaipuaçu. O marido comprou uma casa lá — conta dona Arina.

Êxodo para Maricá

O êxodo de moradores de São Gonçalo para Maricá, cidade que, por sua vez, teve aumento de mais de 50% em número de habitantes, tem sido cada vez maior, como percebeu o taxista Eduardo Ribeiro, de 62 anos.

"Dos passageiros que eu pego daqui de São Gonçalo, uns 70% têm parentes que foram morar em Maricá ou estão querendo ir para lá, onde a população cresceu assustadoramente. No bairro onde eu trabalho, Venda da Cruz, muita gente foi para lá por ter mais vantagem, mais qualidade de vida, é perto da praia. A violência daqui é outro fator que acaba atrapalhando", disse o taxista.

Dona de uma loja de roupas no Centro de São Gonçalo, a comerciante Kátia Ferraz, de 59 anos, teme que a redução de moradores impacte os negócios.

"Reduzindo o número de pessoas, o comércio também sente. A gestão atual tem que melhorar as condições de vida e trabalho aqui. Tem que ter emprego, melhores salários, aumentar o poder aquisitivo das pessoas", pondera Kátia.

O que diz a prefeitura

Em nota, a prefeitura de São Gonçalo informa que “recebeu com reservas a informação de que o município sofreu uma redução de mais de 200 mil habitantes”. A nota diz ainda que os dados “não refletem a realidade, já que o município possui 495.325 inscrições imobiliárias” e que “tendo uma média de 2,9 habitantes por residência, segundo o próprio IBGE, só de população dentro das inscrições imobiliárias poderíamos estimar um quantitativo de 1.436.442 habitantes”.

A prefeitura argumenta que o resultado se deve a um “número insuficiente de recenseadores” e que “a quantidade de domicílios fechados e de pessoas que não quiseram responder à pesquisa ou que não estavam em casa durante a visita dos recenseadores também pode ser considerado um fator da drástica redução populacional no município.”

Segundo o órgão, “a perda de recursos no Fundo de Participação dos Municípios (FPM) pode impactar consideravelmente o desenvolvimento socioeconômico do município de São Gonçalo” e que a prefeitura vai continuar otimizando os recursos para atender aos gonçalenses.

Para que serve o Censo?

O Censo, realizado a cada dez anos, é a mais ampla pesquisa sobre a população brasileira e é feita mediante visita ou coleta de informações em todos os domicílios do país.

O levantamento é usado como base para diversas políticas públicas, como distribuição de vacinas, e também como critério para repasses de recursos da União para municípios. É ainda a base para pesquisas eleitorais e investigações acadêmicas.

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