Venezuela

Centro Carter diz que dados mostram vitória clara de candidato da oposição na Venezuela

Organização atuou como um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral venezuelano e disse que resultados apresentados por opositores são "consistentes"

Protesto contra Nicolás Maduro na VenezuelaProtesto contra Nicolás Maduro na Venezuela - Foto: Jaime Saldarriaga/ AFP

O Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral na Venezuela, disse nesta quinta-feira que as atas eleitorais coletadas pela oposição são "consistentes".

À Folha, o órgão afirmou que o candidato opositor, o ex-diplomata Edmundo González Urrutia, venceu de maneira clara e "por uma margem intransponível".

A organização também declarou que os resultados apresentado pelos opositores consistem com uma pequena amostra de dados coletados por seus observadores em campo no dia da votação. Com isso, o Centro Carter garantiu que "não há dúvidas" da vitória real da oposição.

Em depoimento à Folha, o órgão disse que o Poder Eleitoral na Venezuela não é imparcial e não agiu de maneira independente.

"O chavismo está impregnado no Estado venezuelano de tal forma que está presente nas instituições que deveriam ser independentes ", disse Ian Batista, analista eleitoral na missão de observação do Centro Carter. — Não há instituições que poderiam balancear os poderes.

A Constituição prega algum nível de independência, mas como o chavismo está impregnado em todos os lugares, eles controlam todos os altos cargos.

Na semana passada, após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano declarar a reeleição de Maduro, o Centro Carter afirmou que a eleição presidencial na Venezuela não atendeu aos padrões de imparcialidade democrática. Com base em 80% das urnas apuradas, o CNE disse que Maduro obteve 51,2% dos votos contra 44,2% de González Urrutia. A oposição, no entanto, anunciou pouco depois que o diplomata derrotou Maduro por ampla margem (67% contra 30%).

Diversas organizações internacionais e representações diplomáticas cobraram uma auditoria do resultado e a divulgação dos dados totais das urnas — incluindo o Centro Carter, que, na segunda-feira passada, pediu ao CNE que publicasse "imediatamente" as atas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou o governo de Maduro a contar os votos "com total transparência" e a liderança política a agir "com moderação".

Sete países europeus, incluindo a Espanha, uniram-se aos EUA, Noruega, Colômbia, México, Brasil e outros que exigem do chavismo a divulgação pública das atas oficiais de todas as mesas de votação. As divergências entre o governo venezuelano e a oposição desataram alguns dias de protestos no país, que estimularam uma repressão que deixou estimados entre mil e 2 mil presos e 24 mortos.

Nesta quarta-feira, dias depois da administração do chavista afirmar que ainda não apresentou as atas porque o sistema eleitoral da Venezuela foi alvo de um ataque cibernético, o Centro Carter também declarou que "não há evidências" sobre isso. À AFP, Jennie Lincoln, chefe da missão de observação do Centro Carter, disse que "empresas monitoram e sabem quando há" invasões de hackers, mas que isso não aconteceu.

— A transmissão dos dados de votação é por linha telefônica e telefone via satélite, e não por computador. Não perderam dados. Apesar de o campo de jogo ter sido bastante desigual, o povo venezuelano foi votar. A grande irregularidade da jornada eleitoral foi a falta de transparência do CNE e a flagrante inobservância de suas próprias regras do jogo quanto a mostrar o verdadeiro voto do povo.

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