Saúde

Cerca de 40% das cidades do país gastam menos de R$ 1 em saúde por habitante por dia

18 capitais ficam abaixo da média nacional de gastos

Sistema Único de Saúde (SUS)Sistema Único de Saúde (SUS) - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O Brasil gasta em serviços e ações de saúde pública, por dia, cerca de R$ 3,83 com cada brasileiro, um valor aquém do necessário, segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina). Considerando todos os municípios do país, 2.200 prefeituras (39,5% do total do país) gastaram, em 2019, menos de R$ 1 para cada habitante por dia.
 
O Conselho, junto com a ONG Contas Abertas, fez o levantamento de gastos das esferas federal, estadual e municipal no Brasil. As informações foram obtidas através do Siops (Sistema de Informações sobre Orçamento Público em Saúde) e são fruto de autodeclarações dos diferentes entes públicos.
 
O levantamento não busca apontar possíveis desvios do investimento mínimo legal na área, segundo o CFM - todos os entes devem destinar uma parte específica de sua receita para a saúde. O conselho diz que há, inclusive, muitos municípios que gastam mais do que o estipulado em lei.
 
A análise olhou para valores de 2008 (corrigidas pelo IPCA) até 2019. O primeiro ano da série observada apresenta o menor valor por pessoa/dia, R$ 3. O maior valor, R$ 3,89, ocorreu em 2014.
 
"Existe subfinanciamento em todas as esferas. Esse valor deveria ser muito maior para conseguir amenizar o sofrimento da população. Além disso, a gestão é fundamental para que ocorra realmente a assistência adequada", afirma Hideraldo Luis Souza Cabeça, secretário do CFM.
 
Um dos pontos destacados pelo CFM é o crescimento total e percentual quase constante dos gastos municipais com saúde no espaço de tempo observado. Em 2019, tais os gastos representavam cerca de 31% do total das despesas com ações e serviços de saúde. A esfera estadual ficou responsável por cerca de 26% e a federal por 42%.
 
O crescimento do gasto municipal, porém, não se traduz automaticamente em melhores serviços de saúde para a população, afirma Donizetti Giamberardino Filho, vice-presidente do CFM, considerando que o financiamento é só um dos pilares a se levar em consideração.
 
"Quando analisamos o número, é muito provável que os municípios mais pobres, caso eles não estejam integrados [a uma rede mais complexa do SUS], o custo será mais alto, mesmo que seja insuficiente", diz Giamberardino Filho.
 
Focando a análise nas 26 capitais dos estados, o levantamento encontrou um gasto média anual, em 2019, per capita, de R$ 490,72. A capital que mais gasta é Teresina, seguida por São Paulo. Do total, 18 capitais ficam abaixo da média nacional e 9 não chegam a gastar R$ 1 para cada habitante por dia. Nos gastos estaduais per capita, o primeiro lugar é ocupado por Roraima, seguido por Tocantins.
 
Apesar de afirmar que os gastos são insuficientes, o CFM não aponta qual valor seria próximo do ideal. Observa, porém, outro parâmetro econômico para para embasar a afirmação: a fatia da participação pública nos gastos totais de saúde. A comparação usada pelo CFM é proveniente de dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).
 
Segundo o levantamento, o setor público brasileiro (União, estados e municípios) é responsável por cerca de 42% do gasto em saúde no Brasil. Enquanto isso, países com propostas de universalidade de saúde semelhante à brasileira, como Argentina, França, Canadá, Espanha e Reino Unido, têm participação pública de gasto superior a 70%, aponta o CFM.

 
"Aparentemente é muito dinheiro [o que o Brasil coloca em saúde], mas, para a nossa proposta de direito à saúde, esse financiamento é insuficiente", afirma Giamberardino Filho. O volume de verba inadequado chega nas pontas do atendimento, os médicos e a população.
 
Os profissionais são atingidos pela falta de estrutura e de políticas de carreira para retenção de pessoas nas unidades de atenção básica e em regiões interioranas. Segundo os representantes do CFM, isso acaba por fragilizar a "porta de entrada" do sistema de saúde, impactando o resto do sistema. "Você sobrecarrega unidades que deveriam dar diagnósticos precoces e encaminhar para áreas de maior complexidade", diz Cabeça.
 
Do lado do público, a falta de acesso a serviços pode ser visto como um dos principais resultados do gasto insuficiente (sempre lembrando que os representantes também destacam a importância de como o recurso é gerido). "Em levantamento recente que fizemos, chegamos a encontrar uma pessoa no Ceará que estava há dez anos esperando para fazer uma cirurgia. É um absurdo", diz Cabeça. "Uma senhora que tem câncer detectado não pode ficar seis meses esperando para tratar", diz Giamberardino Filho.
Os representantes dizem que veem a necessidade de aumentar os recursos direcionados à saúde, além de melhorar a gestão dos mesmos. Defendem também avaliar a manutenção dos leitos que foram criados por causa da pandemia, o que poderia ajudar no atendimento da população.

 

Veja também

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela
Venezuela

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios
Queimadas

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios

Newsletter