Cerco total da Faixa de Gaza é "proibido" pelo direito internacional humanitário, diz ONU
Dezenas de milhares de soldados israelenses estão sendo levados para a região, que abriga 2 milhões de pessoas, segundo as autoridades
O cerco total à Faixa de Gaza, anunciado na segunda-feira (9) pelo ministro da Defesa de Israel, é “proibido” pelo direito humanitário internacional, destacou a ONU nesta terça-feira (10).
"A imposição de cercos que põem em perigo a vida de civis, privando-os de bens essenciais à sua sobrevivência, é proibida pelo direito humanitário internacional", afirmou o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, num comunicado divulgado à imprensa.
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O Exército israelense informou, nesta segunda-feira, que retomou o controle de territórios no sul do país atacados pelo Hamas perto da Faixa de Gaza, cujo "cerco total" foi ordenado como resposta à ofensiva sem precedentes deste grupo islâmico palestino.
"Estamos impondo um cerco total à Gaza. Sem eletricidade, sem comida, sem água, sem gás, tudo bloqueado", disse o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, em um vídeo. "Estamos lutando contra animais e agimos em conformidade".
Dezenas de milhares de soldados israelenses estão sendo levados para a Faixa de Gaza, um território com 2,3 milhões de habitantes controlado pelo Hamas desde 2007.
No interior desta região, mais de 123 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas, informou nesta segunda-feira o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês).
No terceiro dia da ofensiva militar inédita, classificada por Israel como semelhante aos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, o Exército israelense anunciou que "controla" partes ao sul, onde havia infiltrados do Hamas, mas admitiu que "ainda pode haver terroristas na região", segundo um porta-voz militar.
Mais de 700 israelenses morreram, e 2.150 ficaram feridos nos ataques, de acordo com um novo balanço publicado pelo Exército na manhã desta segunda-feira. Só no primeiro dia, os islamitas mataram até 250 pessoas que participavam de um festival de música perto do enclave palestino, segundo a ONG Zaka, que ajudou nas operações de recuperação dos corpos. Do lado palestino, 436 pessoas morreram, de acordo com as últimas estimativas das autoridades locais.
Reféns civis e militares
O Exército israelense também concentra seus esforços em salvar os mais de 100 cidadãos sequestrados pelo Hamas, de acordo com o governo, ocorrência sem precedentes na história do país.
"O que aconteceu não tem precedentes em Israel", conheceu o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu.
Segundo as forças israelenses, mil combatentes deste grupo islâmico extremista participaram da "invasão de Israel", afirmou um porta-voz na rede social X, antigo Twitter.
"Civis e soldados estão nas mãos do inimigo, são tempos de guerra", afirmou o chefe do Exército israelense, general Herzi Halevi.
Netanyahu pediu aos cidadãos de seu país que se preparassem para uma guerra "longa e difícil" e o Exército anunciou que removeria todos os habitantes das áreas próximas da Faixa de Gaza.
Em Jerusalém, sirenes de alerta antifoguetes foram acionadas por volta do meio-dia (6h no horário de Brasília), seguidas rapidamente por várias explosões, relataram jornalistas da AFP nesta localidade.
Vários cidadãos de outros países morreram na ofensiva, alguns com dupla nacionalidade israelense, incluindo 12 tailandeses, 10 nepaleses e quatro americanos. Pelo menos três brasileiros estão desaparecidos e um, hospitalizado, de acordo com o governo.
"É de longe o pior dia da história de Israel", declarou o porta-voz do Exército deste país, para o qual o ataque pode ser "ao mesmo tempo um 11 de Setembro e um [ataque a base militar] Pearl Harbor".
Jonathan Panikoff, diretor da Iniciativa de Segurança do Oriente Médio Scowcroft, considera que "Israel foi pego de surpresa neste ataque sem precedentes", e "muitos israelenses não entendem como isso pôde acontecer".
"Tudo falhou"
Para Yaakov Shoshani, de 70 anos, morador da cidade israelense de Sderot, perto da Faixa de Gaza, "todos os sistemas fracassaram, sejam os serviços de informação, de Inteligência militar, civil, os sistemas de detecção, a cerca da fronteira, tudo falhou".
O ataque do Hamas também foi condenado por diversos países ocidentais. Os Estados Unidos começaram a enviar ajuda militar a Israel no domingo, além de direcionarem seu porta-aviões "USS Gerald Ford" para o Mediterrâneo.
Nesta segunda-feira, a China condenou quaisquer "ações que atentem contra os civis" e defendeu um cessar-fogo. A Rússia e Liga Árabe, que rejeita a violência "de ambos os lados", disseram que vão trabalhar para "pôr fim ao derramamento de sangue".
No mesmo dia, a União Europeia (UE) convocou uma reunião de emergência com seus ministros das Relações Exteriores.
Já o Irã, que mantém relações estreitas com o Hamas, foi um dos primeiros países a aplaudirem a ofensiva deste grupo palestino. Rejeitou, no entanto, as acusações de seu papel na operação, afirmando que são "baseadas em motivos políticos".
Israel, que ocupa a Cisjordânia desde 1967, anexou Jerusalém Oriental e impõe um bloqueio à Gaza desde que o Hamas tomou o poder no enclave em 2007.