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ORIENTE MÉDIO

Cessar-fogo em Gaza: Hamas quer avanço imediato para segunda fase, mas Israel busca estender prazo

Próxima etapa da trégua deve incluir medidas que levem a um fim permanente da guerra

Um jovem caminha em frente a uma escola gravemente danificada em Beit Hanun, no norte da Faixa de GazaUm jovem caminha em frente a uma escola gravemente danificada em Beit Hanun, no norte da Faixa de Gaza - Foto: Omar Al-Qattaa / AFP

Uma delegação israelense no Cairo pretende negociar para estender a primeira etapa do acordo de cessar-fogo em Gaza por mais 42 dias, de acordo com fontes do Hamas que falaram com o Haaretz e duas fontes de segurança egípcias que falaram com a Reuters nesta sexta-feira.

Em paralelo, o Hamas pediu à comunidade internacional que pressionasse Israel a entrar imediatamente na próxima fase do acordo e enfatizou seu compromisso com a trégua assinada há cerca de um mês e meio.

Delegações israelenses, do Catar e dos EUA estão no Cairo para participar de conversas “intensivas” sobre a segunda fase do acordo nesta sexta-feira, informou o Egito, que está mediando as negociações.

A primeira etapa da trégua está prevista para terminar no sábado. O segundo estágio deve incluir medidas que levem a um fim permanente da guerra.

Fontes do Hamas disseram ao jornal israelense Haaretz que, se Israel insistir em estender o primeiro estágio — no qual o grupo continua a libertar reféns em troca de prisioneiros —, o Hamas perderá a única moeda de troca significativa que lhe resta.

“Se não houver um objetivo claro para o fim da guerra e uma retirada total [das forças israelenses de Gaza], não haverá expectativa de libertação de todos os reféns”, disseram as fontes.

Segundo elas, um possível acordo poderia incluir a libertação de reféns mortos ou classificados como doentes em troca de prisioneiros que cumprem longas sentenças, além de melhores condições para os detidos nas prisões de segurança israelenses e um aumento na entrada de ajuda e mercadorias em Gaza, incluindo maquinário pesado e caravanas.

— As negociações sobre o segundo estágio do acordo ainda não começaram, e a obstrução de Israel à sua continuação impede a extensão do primeiro estágio — afirmou o oficial sênior do Hamas, Taher al-Nunu, à agência de notícias do Catar, al-Araby, ponderando que os mediadores agora têm a responsabilidade de dar continuidade ao acordo.

O porta-voz do Hamas, Abdel Latif al-Qanua, acrescentou, em entrevista ao mesmo veículo, que o grupo está disposto a estender ou encurtar o processo, mas reiterou suas exigências pelo fim da guerra e pela retirada total de Israel de Gaza.

No entanto, afirmou que “o Hamas está aberto a qualquer proposta árabe ou internacional que vise melhorar a vida dos civis e reconstruir a Faixa”.

Israel quer que as negociações se concentrem na troca de reféns por prisioneiros palestinos, sem abordar questões mais amplas do fim da guerra ou da derrubada do Hamas em Gaza. O objetivo é resgatar o maior número possível de reféns, vivos ou mortos, segundo o Haaretz.

O Hamas também estaria interessado em estender o prazo da primeira fase da trégua para, durante todo o mês do Ramadã, aumentar a ajuda humanitária que entra e Gaza e libertar prisioneiros de alto nível, disse o Haartez. No entanto, espera-se que as partes discordem quanto à estrutura da libertação.

O cessar-fogo, alcançado após meses de negociações exaustivas, interrompeu em grande parte a guerra que eclodiu com o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.

Naquele dia, combatentes do grupo palestino romperam a barreira de segurança de Gaza, lançando um ataque mortal contra comunidades residenciais, bases do Exército e outros locais, e capturando dezenas de reféns.

Israel prometeu destruir o Hamas e trazer de volta todos os reféns após o ataque que resultou na morte de 1.218 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP de números oficiais. A retaliação israelense matou mais de 48 mil pessoas em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde do território administrado pelo Hamas, números considerados confiáveis pela ONU.

'Muitos civis morreram'
Uma investigação interna do Exército israelense sobre o ataque de 7 de outubro, divulgada na quinta-feira, reconheceu o “fracasso total” dos militares em evitá-lo, de acordo com um oficial militar que informou os repórteres sobre o conteúdo do relatório sob condição de anonimato.

— Muitos civis morreram naquele dia [em Israel quando os militares não conseguiram protegê-los] — disse o oficial.

Um oficial militar sênior disse na mesma reunião que os militares reconhecem que estavam “confiantes demais” e tinham concepções errôneas sobre as capacidades militares do Hamas antes do ataque.

— A responsabilidade é minha — disse o chefe militar de Israel, general Herzi Halevi, após a divulgação da investigação contundente.

Halevi já havia se demitido no mês passado, citando o “fracasso” de 7 de outubro.

Na sexta-feira, uma multidão se reuniu em um estádio de futebol no centro comercial de Tel Aviv, em Israel, para o funeral de Tsachi Idan, um refém de 49 anos cujos restos mortais foram devolvidos de Gaza.

Em seu último adeus, as pessoas agitaram bandeiras e seguraram cachecóis do time local para o qual ele torcia. Segundo as autoridades israelenses, ele foi “assassinado enquanto era mantido como refém em Gaza”.

Israel Berman, um empresário que vivia na comunidade do kibutz de Nahal Oz, onde Idan foi sequestrado, afirmou que “até o último momento, esperávamos que Tsachi voltasse vivo para nós”.

'Estávamos no inferno'
A troca de reféns e prisioneiros na quinta-feira foi a última da fase inicial da trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro. O Serviço Prisional de Israel disse que 643 detentos foram libertados depois que o Hamas devolveu os corpos de quatro reféns.

Entre os libertados, estava o prisioneiro palestino há mais tempo em uma prisão israelense, Nael Barghouti, que passou mais de quatro décadas atrás das grades, inclusive pelo assassinato de um oficial israelense.

Imagens da AFP mostraram alguns presos de volta a Gaza, aguardando tratamento ou sendo avaliados em um hospital em Khan Yunis após sua libertação. Vários prisioneiros palestinos libertados foram hospitalizados após trocas anteriores.

— Estávamos no inferno e saímos do inferno — disse Yahya Shraideh, libertado na quinta-feira.

Nas últimas semanas, o Hamas libertou em etapas 25 reféns vivos, israelenses e de dupla nacionalidade, e devolveu os corpos de outros oito. Esperava-se que Israel, em troca, libertasse cerca de 1.900 prisioneiros palestinos. Os combatentes de Gaza também libertaram cinco reféns tailandeses fora dos termos do acordo.

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