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Chefe da diplomacia europeia adverte que Europa não pode substituir apoio dos EUA à Ucrânia

Crise política no Congresso americano levantou temores sobre ajuda militar dada à Kiev

Josep Borrell chega para participar da cúpula da Comunidade Política Europeia em Granada, no sul da Espanha Josep Borrell chega para participar da cúpula da Comunidade Política Europeia em Granada, no sul da Espanha  - Foto: Jorge Guerrero/AFP

Cerca de 50 líderes do continente europeu, reunidos na cidade espanhola de Granada com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, expressaram nesta quinta-feira seus temores sobre o impacto que a crise política em Washington poderia ter sobre a ajuda dos Estados Unidos a Kiev, em meio à invasão russa.

— A Europa está aumentando sua assistência [à Ucrânia, mas] a Europa pode substituir os Estados Unidos? Obviamente, a Europa não pode substituir os Estados Unidos — disse Joseph Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, ao chegar à cúpula da Comunidade Política Europeia, lembrando que a UE está considerando a criação de um fundo de 20 bilhões de euros ao longo de quatro anos para continuar a apoiar os militares ucranianos.

Estamos enfrentando um "período eleitoral difícil nos Estados Unidos", um ano antes das eleições presidenciais, e "há vozes discordantes" com relação à ajuda à Ucrânia, declarou Zelensky, que expressou sua preocupação, embora tenha dito que "confia nos Estados Unidos".

Pouco tempo depois, o próprio Zelensky denunciou um "ataque terrorista totalmente deliberado" da Rússia, que deixou pelo menos 49 pessoas mortas em um atentado a bomba que atingiu uma mercearia e um café em Groza, uma cidade no leste do país.

O futuro da ajuda dos EUA a Kiev foi colocado em suspenso após a atual crise política em Washington, que levou à destituição, na terça-feira, do líder republicano da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, devido a uma revolta da ala direita de seu partido, que se opõe ao fornecimento de fundos à Ucrânia.

O Congresso americano tem agora um mês e meio para aprovar um orçamento anual que inclua uma nova alocação para Kiev, sem a qual Washington, de longe o principal fornecedor de armas da Ucrânia, só poderá apoiá-la por "alguns meses", de acordo com a Casa Branca.

O presidente dos EUA, Joe Biden, admitiu pela primeira vez na quarta-feira que está "preocupado" com o futuro dessa ajuda, mas prometeu fazer um "grande discurso" no qual tentará demonstrar que é "extremamente importante" continuar a apoiar a Ucrânia militar e financeiramente.

Erdogan ausente
Apesar do apoio unânime ao presidente ucraniano, a terceira cúpula da Comunidade Política Europeia (EPC, na sigla original) foi prejudicada pela ausência do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, e de seu colega turco, Recep Tayyip Erdogan, o principal apoiador de Baku.

Duas semanas após a ofensiva das forças azerbaijanas que forçou quase toda a população armênia a fugir da autoproclamada república de Nagorno-Karabakh, uma reunião entre Aliyev e o primeiro-ministro armênio Nikol Pashinian, que estava presente em Granada, teria sido um dos destaques da cúpula. Mas, irritado com os sinais europeus de apoio à Armênia, Aliyev cancelou sua viagem.

O Azerbaijão, no entanto, está pronto para negociar com a Armênia sob a mediação da UE em Bruxelas, disse um assessor do presidente do Azerbaijão na quinta-feira.

As ausências de Aliyev e Erdogan foram um revés para a EPC, que cancelou uma entrevista coletiva de encerramento programada antes de um jantar de chefes de Estado e de governo na Alhambra.

Borrel lamentou que não tenha sido possível lidar na quinta-feira com "algo tão sério como o fato de que mais de 100 mil pessoas tiveram que deixar suas casas às pressas, fugindo de um ato de força militar".

O objetivo da EPC, idealizada pelo presidente francês Emmanuel Macron, é reunir muito mais países do que apenas os da União Europeia: além dos 27 membros do bloco, outros 20 países participaram dessa terceira cúpula.

Na EPC, há países com diferentes posições em relação à UE, desde candidatos à adesão, outros que sabem que a porta está fechada para eles, ou o Reino Unido, que optou por deixar o bloco há sete anos.

— A ausência de Erdogan pela segunda vez consecutiva [após a cúpula de junho na Moldávia] enfraquece a EPC, que foi projetaa para lidar com Ancara em um formato diferente do da UE, à qual sua candidatura está congelada — disse Sébastien Maillard, do Instituto Jacques Delors.

Migração
Outro tema da cúpula de Granada é a migração, que o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak e sua colega italiana Giorgia Meloni querem colocar no centro das discussões.

Na quarta-feira, os 27 Estados-membros da UE chegaram a um acordo que busca organizar uma resposta coletiva à chegada de um grande número de migrantes em um país do bloco europeu, como aconteceu durante a crise de refugiados sírios de 2015 e 2016. Um "ponto de virada importante" no debate sobre migração da UE.

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