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Chefe da inteligência do Reino Unido diz que Putin fez acordo com líder do grupo Wagner

Em raro discurso público, Richard Moore afirmou que presidente russo negociou para salvar a própria pele durante motim

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e líder mercenário Yevgeny Prigojin Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e líder mercenário Yevgeny Prigojin  - Foto: Pavel Bednyakov/Sputnik/AFP e reprodução

O chefe da agência de inteligência britânica, MI6, disse na quarta-feira que o presidente russo Vladimir Putin "fechou um acordo" com Yevgeny Prigojin, fundador do grupo mercenário Wagner, durante o motim fracassado no mês passado.

A declaração de Richard Moore, chefe do MI6, ocorreu em um raro discurso em Praga, durante um evento organizado pelo jornal Politico, e trazem a visão da inteligência ocidental sobre a revolta impressionante, mas de curta duração, de Prigojin.

O líder do grupo encenou um motim contra a cúpula militar de Moscou e os mercenários marcharam em direção à capital antes de pararem abruptamente. Mais de duas semanas depois, o Kremlin revelou que Prigojin e outros líderes do Wagner haviam se reunido com Putin por três horas nos dias seguintes ao fim da rebelião.

— Acho que ele provavelmente se sente sob alguma pressão — disse Moore sobre Putin. — Prigojin era sua criatura, totalmente criada por Putin, e mesmo assim ele se voltou contra ele. Ele realmente não lutou contra Prigojin; ele fez um acordo para salvar sua pele usando os bons serviços do líder da Bielorrússia.

Moore também refletiu sobre a natureza surpreendente da marcha das forças do grupo Wagner em direção a Moscou, a rapidez com que pararam e a aparente fuga de Prigojin — até agora — do destino sombrio de muitos críticos do Kremlin.
 

Sua localização tem sido bastante incerta desde a revolta. Sabe-se que Prigojin passou vários dias na Rússia depois disso, e num vídeo postado no aplicativo de mensagens Telegram na quarta-feira ele aparece na Bielorrússia. O New York Times verificou que o vídeo foi gravado na noite de terça-feira em um acampamento improvisado do Wagner a cerca de 80 quilômetros a sudeste de Minsk.

— Prigojin começou aquele dia como um traidor no café da manhã. Ele foi perdoado no jantar e, alguns dias depois, foi convidado para tomar chá — disse Moore à plateia. — Portanto, há algumas coisas que até mesmo o chefe do MI6 acha um pouco difícil tentar interpretar, em termos de quem está dentro e quem está fora.

Na semana passada, Putin disse que as tropas do Wagner poderiam continuar lutando ao lado do Exército russo na Ucrânia, mas sem seu líder.

— Ele está claramente sob pressão — disse Moore sobre Putin. — Não se faz com que um grupo de mercenários avance pela autoestrada em direção a Rostov e chegue a 125 quilômetros de Moscou, a menos que não tenha previsto que isso aconteceria.

Moore não foi a única autoridade britânica a se pronunciar sobre a situação de Putin na quarta-feira. O ministro britânico das Relações Exteriores, James Cleverly, falando no Fórum de Segurança de Aspen, disse que não importa "como Putin tenta fazer isso, uma tentativa de golpe nunca é uma boa aparência".

Ele também disse que as informações detalhadas sobre as fissuras entre as elites russas são limitadas, mas que há "indicadores de que as coisas não estão bem".

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A Rússia acabou se retirando do Afeganistão porque a pressão interna russa se tornou insuperável, disse Cleverly, referindo-se ao conflito de uma década que terminou em 1989.

— E estamos vendo algumas evidências de que algo semelhante está acontecendo — acrescentou.

Cleverly afirmou que a rebelião evidenciou que as afirmações de Putin de que a Rússia estaria mais comprometida com uma longa guerra na Ucrânia do que o Ocidente são falsas.

—O que Prigojin disse em voz alta é o que todos nós sabíamos instintivamente: essa foi uma invasão totalmente injustificada e desnecessária — acrescentou. —Isso foi motivado pelo ego e pela ambição de Vladimir Putin. Nunca houve qualquer risco ou ameaça à pátria russa ou ao povo russo.

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