Gaza

Chefe da ONU condena 'violações' em Gaza e irrita chanceler israelense

O dirigente da ONU condenou o grupo islâmico Hamas pelo ataque de 7 de outubro em território israelense que deixou 1.400 mortos

Secretário-geral da ONU, António GuterresSecretário-geral da ONU, António Guterres - Foto: Timothy A. Clary / AFP

O secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou, nesta terça-feira (24), no Conselho de Segurança, as “violações claras do direito humanitário” em Gaza, provocando a ira do chanceler israelense, Eli Cohen.

“Nenhuma das partes em um conflito está acima do direito humanitário internacional”, disse Guterres, ao lembrar que até mesmo as guerras “têm regras”.

O dirigente da ONU condenou o grupo islâmico Hamas pelo ataque de 7 de outubro em território israelense que deixou 1.400 mortos, a maioria civis, mas ao mesmo tempo lembrou que a população palestina foi alvo de "56 anos de ocupação sufocante".

"Eles viram como sua terra era devorada sem cessar pelos assentamentos e assolada pela violência; sua economia, asfixiada; sua população, deslocada e seus lares, demolidos. Suas esperanças de uma solução política para sua difícil situação foi desvanecendo", disse Guterres a um Conselho de Segurança de alto nível, que não aprova uma resolução sobre o conflito entre Israel e Hamas desde 2016.

"Senhor secretário-geral, em que mundo você vive?", questionou o chanceler israelense, Eli Cohen, após lembrar que Israel "não tem apenas o direito de se defender, mas também o dever".

“Sem dúvida não, não é o nosso” lado, respondeu a si mesmo, exibindo fotos dos ataques do Hamas contra civis. Em uma declaração aos jornalistas, acompanhada por familiares de alguns dos 200 reféns sequestrados pelo Hamas, garantiu que havia cancelado a reunião que estava marcada no mesmo dia com Guterres.

"Imperdoável"
Para o chanceler palestino, Riyad al Maliki, a falta de ação do Conselho de Segurança, que não conseguiu chegar a uma posição unificada sobre a guerra entre Israel e o Hamas, é "imperdoável".

“Os massacres em curso perpetrados de forma deliberada, sistemática e selvagem por Israel – a potência ocupante contra a população civil palestina sob ocupação ilegal – devem ser interrompidos”, disse al Maliki.

Na semana passada, o Conselho de Segurança, que costuma estar dividido sobre a questão palestina-israelense, não conseguiu chegar a um acordo sobre nenhum dos textos de resolução que estavam sobre a mesa, propostos pela Rússia e pelo Brasil.

O primeiro não mencionou o Hamas, enquanto o segundo não reconhecia o direito de Israel a se defender e foi vetado pelos Estados Unidos.

Um terceiro texto, redigido pelos americanos, circula entre os Estados-membros, segundo fontes diplomáticas. O texto, visto pela AFP, afirma “o direito de todos os Estados à autodefesa individual ou coletiva”.

Mas o embaixador da Rússia, Vassily Nebenzia, lembrou que a proposta americana não contém nenhum "pedido de cessar-fogo rápido e incondicional" do conflito, por isso o seu país, que tem direito de veto, "não vai apoiá-la".

Na qualidade do presidente do Conselho de Segurança, o Brasil, representado pelo chanceler Mauro Vieira, lembrou que os "civis devem ser respeitados e protegidos, sempre e onde quer que estejam", e enfatizou que todas as operações militares devem respeitar "os princípios fundamentais da distinção, proporcionalidade, humanidade, necessidade e precaução”.

Cesar-fogo humanitário
O secretário-geral da ONU também revelou um "cessar-fogo humanitário imediato" para aliviar o "sofrimento épico" da população de Gaza, que neste fim de semana começou a receber ajuda humanitária, "uma gota em um oceano de necessidades", lembrou .

“A população de Gaza precisa de ajuda contínua a um nível que corresponda às suas enormes necessidades. Essa ajuda deve ser entregue sem restrições”, destacou, quando completou 78 anos da criação das Nações Unidas.

O combustível fornecido pela ONU em Gaza "se esgotará em questão de dias", o que seria "outro desastre", pois, sem combustível, a ajuda não pode ser entregue, os hospitais não têm eletricidade e a água potável não pode ser purificada nem bombeada , frisou.

Desde os ataques do Hamas, o Ministério da Defesa israelense decretou o bloqueio de toda a entrada de bens, incluído o corte de eletricidade, água, alimentos e combustível, e bombardeia o território, causando, segundo as autoridades de Gaza, a morte de mais de 5.000 pessoas, entre elas, mais de 2.000 crianças e a destruição de casas e infraestruturas.

Cerca de 1,4 milhão de pessoas estão deslocadas no pequeno território, ressaltou Lynn Hastings, coordenadora humanitária da ONU para o território palestino ocupado. Deste total, 600.000 estão em abrigos da agência da ONU para os refugiados palestinos, a UNWRA.

“O risco de uma piora significativa da situação nos Territórios Ocupados ou a propagação do conflito na região continua sendo importante”, anunciou Tor Wennesland, coordenador especial para o processo de paz do Oriente Médio, após lembrar que a violência na Cisjordânia, incluída Jerusalém Oriental , "aumentou desde a explosão da guerra".

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