Chefe da Polícia Civil que investiga caso Beto Freitas é a 1ª mulher na função no RS
Nadine Anflor é delegada-chefe, cargo que ocupa desde 2019; ela não descarta enquadrar a morte como crime de racismo
A Polícia Civil, órgão que conduz a investigação sobre a morte de Beto Freitas, 40, espancado no Carrefour, em Porto Alegre, é chefiada por uma mulher pela primeira vez em seus 179 anos de história.
Nadine Anflor, 44, é a primeira delegada-chefe da instituição desde sua criação, em 1841, quando o Brasil ainda era um Império. Ela assumiu o posto no início de 2019, na gestão do governador Eduardo Leite (PSDB).
Antes de ser delegada-chefe, Anflor atuou por sete anos à frente da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, em Porto Alegre. Foi assim, conta ela, que se descobriu feminista.
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"Me descobri feminista dentro da delegacia. Ser feminista não é feio, pelo contrário. É defender os direitos por uma busca de igualdade. A gente não quer ser mais [que os homens], a gente quer ser igual", disse em 2019 à Folha de S.Paulo.
Lidando diariamente com pelo menos 40 casos de mulheres vítimas de violência doméstica, ela conta que percebeu a importância do feminismo. "A violência de gênero atinge todas classes sociais. É uma violência sofrida por serem mulheres, é um sentimento de posse dos homens", disse.
Por isso, Anflor também defende que os homens precisam combater também a violência de gênero.
Sobre o caso de Beto Freitas, Anflor afirmou que "é óbvio que racismo estrutural existe". A motivação de racismo para a agressão ainda está sendo investigada.
"Se, na sequência da investigação, reunirmos elementos que comprovem que a motivação do crime está relacionada a uma questão de discriminação racial, pelo fato de a vítima ser um homem negro, na conclusão do inquérito a qualificadora de motivo fútil será alterada para motivo torpe. É a forma legal prevista na Legislação para responsabilização desse tipo de conduta", disse.
O caso está sendo investigado pela delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Porto Alegre. A investigação deve ser concluída até o final da semana, mas pode ser prorrogada por mais 15 dias.
Além de racismo, Bertoldo apura se existem indícios para determinar se houve outros crimes como falso testemunho e até omissão de socorro, no caso das pessoas que acompanharam a cena.
Segundo Bertoldo, os seguranças filmados espancando Beto Freitas recorreram ao direito constitucional de permanecerem em silêncio, após a prisão em flagrante. A Justiça determinou prisão preventiva.
A morte de Beto Freitas já está sendo considerada mais violenta que a de George Floyd, que motivou protestos contra o racismo em várias regiões dos Estados Unidos.