África

Chega a Angola corpo do ex-presidente Dos Santos, morto na Espanha

Um pequeno comitê formado por umas 20 pessoas, entre apoiadores e familiares, aguardava no aeroporto de Luanda para receber o caixão

Zé Du em 2017Zé Du em 2017 - Foto: Marco Longari/AFP

O corpo do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, morto na Espanha no mês passado, chegou a Luanda neste sábado (20), pondo fim a uma disputa de semanas sobre a repatriação de seus restos mortais.

Um pequeno comitê formado por umas 20 pessoas, entre apoiadores e familiares, aguardava no aeroporto de Luanda para receber o caixão.

Entre os presentes estavam vários filhos de Dos Santos, e também sua viúva, Ana Paula dos Santos, visivelmente abalada. "Disseram que você chegaria e saí para te receber. Foram bonitas boas-vindas", disse Wilson Miguel.

Algumas pessoas aplaudiram quando o caixão foi levado, envolto em uma bandeira angolana, seguido por um comboio de veículos pretos.

Em seu trajeto pelas ruas da capital angolana, os cidadãos saíram para dar vivas ou gritar "Zé Du!", apelido de Dos Santos, segundo imagens divulgadas pelas redes sociais.

"Nós, angolanos, estamos orgulhosos de receber os restos do presidente Dos Santos e que possa ter um funeral digno", disse uma assistente, Telma Pilartes.

Dos Santos, que governou com mão-de-ferro este país africano rico em petróleo de 1979 a 2017, morreu em Barcelona em 8 de julho aos 79 anos, após sofrer um infarto.

Desde então, a questão de quando e onde seria enterrado confrontou o governo angolano e sua viúva a alguns de seus filhos.

Um juizado de Barcelona decidiu esta semana que o corpo devia ser entregue a Ana Paula dos Santos e podia se repatriado a Angola.

Após a decisão, a advogada de Welwitschea "Tchizé" dos Santos, uma das filhas do ex-presidente, disse que apelaria da decisão.

Mas Josep Riba Ciurana, advogado da viúva, disse à AFP que um juiz havia concedido a execução imediata da sentença, permitindo o traslado do corpo da Espanha.

"Vergonha mundial"
"Somos os primeiros surpreendidos" com a notícia, disse a advogada de Tchizé, Carmen Varela, acrescentando que soube da repatriação pela televisão.

Varela explicou que sua cliente queria realizar o funeral em Barcelona porque voltar a Angola não é uma opção para alguns membros da família.

Vários filhos de Dos Santos foram investigados por corrupção nos últimos anos.

Tchizé se opõe a que seu pai seja enterrado em seu país "com um funeral nacional que poderia favorecer o governo atual" do presidente João Lourenço nas eleições de 24 de agosto.

A repatriação ocorre dias antes do pleito e representa uma pequena vitória para o atual presidente.

Lourenço participava de um grande comício em Luanda quando foi anunciada a repatriação iminente do corpo de Dos Santos.

Tchizé acusou o presidente de usar o corpo do pai como ferramenta de campanha, qualificando-o em uma postagem no Instagram de "vergonha mundial". 

Durante o mandato de quase quatro décadas de Dos Santos, vários membros de sua família faturaram com as riquezas petroleiras do país, enquanto a maioria dos angolanos continuava mergulhada na pobreza.

Quando renunciou ao cargo, em 2017, Dos Santos entregou o poder a Lourenço, ex-ministro da Defesa. 

Mas Lourenço rapidamente se voltou contra seu antigo patrocinador, desatando uma campanha anticorrupção centrada na família do ex-presidente para recuperar bilhões supostamente desviados por Dos Santos. 

"Você me levou ao altar e (...) eu não vou poder te levar ao teu último lugar (de descanso)", escreveu no Instagram Isabel, filha mais velha de Dos Santos e uma das investigadas por seus negócios multinacionais.

"Arrancaram você dos meus braços", acrescentou.

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