Chile conclui eleição histórica em busca de maior equidade com uma nova Constituição
As eleições são a continuação do plebiscito de 25 de outubro de 2020 em que os chilenos optaram, com 80% dos votos, por redigir uma nova Carta Magna em substituição à atual, herdada da ditadura de Augusto Pinochet
O Chile concluiu neste domingo (16) dois dias de uma votação histórica para eleger os 155 cidadãos que irão redigir uma nova Constituição, destinada a substituir a herdada da ditadura de Augusto Pinochet, com a expectativa de melhorar a equidade social.
As seções eleitorais começaram a fechar às 18h locais (19h no horário de Brasília), após dois dias de votação sem incidentes. No sábado, mais de três milhões de eleitores (20,44%) foram às urnas, de um total de 14,9 milhões chamados para votar de forma voluntária.
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Os chilenos tiveram que escolher entre 1.373 candidatos os integrantes da Convenção Constitucional, entre eles atores, escritores, professores, ativistas sociais, advogados e políticos tradicionais.
A Carta Magna anterior, elaborada durante a era Pinochet (1973-1990), é considerada a origem das desigualdades sociais no Chile.
A eleição foi realizada em dois dias devido à pandemia, após ter sido adiada por cinco semanas, desde 11 de abril, devido a uma nova onda de covid-19.
"Esta é a eleição mais importante que os chilenos tiveram, isso marcará o futuro das gerações mais jovens", explicou à AFP Felipe Gutiérrez, um engenheiro de 32 anos que deixava uma seção eleitoral em Santiago.
Os dados sobre participação por regiões e comunas indicam uma diferença importante no fluxo de eleitores nos setores mais ricos e conservadores, notavelmente maior que nas áreas mais pobres.
Das ruas às urnas
A mudança constitucional de Pinochet foi a forma que o sistema político chileno encontrou para canalizar as manifestações massivas - várias e muito violentas - que estouraram em 18 de outubro de 2019, deixando cerca de trinta mortos e prejuízos milionários no comércio e no mobiliário público.
Quase um mês após o início desses protestos, quando vários prédios estavam em chamas em Santiago, as forças políticas anunciaram um acordo para convocar um plebiscito para decidir sobre a mudança da Constituição, que finalmente foi realizado em 25 de outubro de 2020.
O resultado: 80% de apoio à opção "Aprovo" para a mudança constitucional em um dia que culminou em manifestações. Os 20% que optaram pelo "Rejeito", uma opção que se concentrou nas três comunas mais ricas do Chile.
"Venho (para votar) com a expectativa de que possamos conseguir uma mudança para o país, que possamos construir uma nova Constituição muito distante daquela que nos foi deixada pela ditadura", disse à AFP Guillermo Guzmán, arquiteto de 57 anos.
Além dos constituintes, os chilenos votam em prefeitos, vereadores e, pela primeira vez, governadores regionais, em mais uma etapa em direção a uma sociedade mais participativa.
O processo constitucional também marca a primeira vez no mundo que uma Constituição será redigida por pessoas eleitas de forma paritária. Também fará história ao reservar 17 lugares na Assembleia aos 10 povos originários.
“Posso confessar que votei apenas nas mulheres, não dei o meu voto a nenhum homem porque acredito que também faz parte da mudança, que as mulheres possam assumir cargos de poder e que nos escutem”, disse Fabiola Melo, piscóloga educacional de 35 anos.
Constituição que una
A esperança do mundo político é que o processo constituinte - que durará nove meses, prorrogável apenas uma vez por três meses - vire a página da longa transição política que começou quando o Chile recuperou a democracia em 1990.
Nunca antes os chilenos tiveram a oportunidade de participar da elaboração e votação de uma nova Constituição, com a qual, segundo várias pesquisas, os chilenos esperam ter garantidos diversos direitos sociais, como acesso à saúde, moradia e educação.
"Uma boa parte do futuro do nosso país está em jogo na redação de uma Constituição que nos una, não uma que nos separa, como a atual", declarou o pré-candidato presidencial progressista Heraldo Muñoz, após votar no sábado.
Um levantamento da empresa Criteria, divulgado pelo jornal La Tercera, mostrou no sábado que 63% dos chilenos acreditam que o resultado da nova Constituição terá "consequências positivas para o país".
Uma minoria teme, no entanto, que possa levar a uma Constituição muito esquerdista que mude radicalmente o modelo político e econômico ultraliberal do Chile.