China afirma que alianças 'do tipo Otan' na Ásia podem elevar insegurança na região
Ministro da Defesa diz que 'mentalidade de Guerra Fria está ressurgindo', mas deixa a porta aberta para seguir dialogando com os americanos
O ministro da Defesa da China declarou neste domingo que alianças “do tipo Otan” na Ásia e Pacífico podem levar a conflitos e elevar os riscos a toda a região. A mensagem foi uma crítica direta aos EUA, que realizaram recentes manobras navais nos arredores de Taiwan, e que vêm expandindo suas parcerias de segurança com aliados.
Em discurso, Li Shangfu afirmou que uma “mentalidade de Guerra Fria está ressurgindo”, o que eleva os riscos para todo o mundo, e que “o respeito mútuo deve prevalecer sobre as intimidações e hegemonia”. Foi quando atacou iniciativas para se formar blocos de segurança na Ásia e Pacífico.
— As tentativas de estimular (alianças do) tipo Otan na Ásia e Pacífico são uma forma de sequestrar os países da região e de exagerar os conflitos e os confrontos — disse Li, completando que esse modelo de alianças "vai apenas afundar a Ásia e Pacífico em um turbilhão de disputas e conflitos.
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Embora não tenha citado nomes, a fala do ministro parece ter um destinatário: os EUA, que em setembro de 2021 firmaram um pacto de segurança com o Reino Unido e a Austrália, conhecido como Aukus, que teve como maior destaque a promessa dos americanos e britânicos de fornecer submarinos de propulsão nuclear para os australianos. Desde então, a China tem atacado a iniciativa, afirmando, assim como pontuou Li em Cingapura, que ela amplia a insegurança em toda a região.
— Atualmente, a Ásia e Pacífico precisam de uma cooperação aberta e inclusiva, não de pequenas camarilhas — declarou o ministro. — Não devemos esquecer os grandes desastres que as duas guerras mundiais levaram às populações de todos os países. E não devemos permitir a repetição de uma história tão trágica.
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As palavras de Li Shangfu vieram durante a reunião de segurança Diálogo de Shangri-La, em Cingapura, da qual também participou o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin — os dois chegaram a apertar as mãos na sexta-feira, mas Pequim rejeitou um pedido de reunião formal feito pelos americanos.
E o momento das relações entre os países é um dos piores em décadas. O presidente Joe Biden vem mantendo uma política de contenção da China, usando ferramentas econômicas, como o veto a certas exportações de produtos de alta tecnologia, além da expansão de suas parcerias na região, como Japão e Coreia do Sul.
Pequim vê tais atos como uma provocação, especialmente quando o assunto é Taiwan, um arquipélago considerado pelos chineses como parte de seu território, mas que na prática tem um governo próprio, leis próprias e uma diplomacia própria, que tem nos EUA um aliado estratégico e de segurança.
Neste contexto, cada manobra naval realizada por americanos e chineses é observada de perto, especialmente por causa do risco de erros de cálculo, que poderiam ter efeitos catastróficos.
No sábado, Washington acusou um navio militar chinês de manobrar de "forma perigosa" perto de seu destróier Chung-Hoon. Há alguns dias, os americanos também denunciaram o que consideraram ser uma "manobra desnecessariamente agressiva" de um caça chinês diante de um de seus aviões de vigilância no Mar do Sul da China.
— Peço às autoridades (chinesas) que adotem as medidas necessárias para acabar com este tipo de comportamento — declarou Austin neste domingo em Cingapura, apontando que incidentes do tipo podem gerar “acidentes de grandes proporções".
Os chineses, através do ministro da Defesa, responderam que “melhor seria que todos os países, e em particular seus aviões e navios de guerra, não entrassem no espaço aéreo e nas águas territoriais de outros países".
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Embora as críticas sejam mútuas e numerosas, Washington e Pequim acreditam na necessidade de se manter canais de diálogo abertos e sem interrupções. Na fala deste domingo, Li afirmou acreditar que o mundo é grande o bastante para EUA e China crescerem ao mesmo tempo, até porque, em sua opinião, um embate entre os dois países seria “um desastre para o mundo”.
— China e EUA têm sistemas diferentes e são diferentes em muitas outras formas — destacou o ministro. — Contudo, isso não deve impedir que os dois lados busquem um terreno em comum e interesses comuns para incrementar os laços bilaterais e aprofundar a cooperação. É inegável que um conflito severo ou confronto entre China e os EUA será um desastre insustentável para o mundo.