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China e os casos intrigantes de desaparecimentos de autoridades

Ministro da Defesa, Li Shangfu, nomeado para o cargo há apenas seis meses, não aparece em público há várias semanas.

Bandeira da ChinaBandeira da China - Foto: Pixabay

Primeiro, um chanceler afastado. Depois, um ministro da Defesa que sumiu dos eventos públicos. A China acumula casos intrigantes que envolvem a cúpula de poder, cada vez mais opaca sob a presidência de Xi Jinping.

O ministro da Defesa, Li Shangfu, nomeado para o cargo há apenas seis meses, não aparece em público há várias semanas. O jornal Financial Times informou que autoridades americanas acreditam que ele está investigado e foi afastado do cargo.

Algo parecido aconteceu em junho com Qin Gang, que era ministro das Relações Exteriores. Designado em março para a função e considerado um aliado de Xi, no fim de julho ele foi demitido sem explicação oficial, após semanas de ausência dos atos oficiais.

Na época, o governo chinês também anunciou que o ex-comandante da Marinha Wang Houbin assumiria a unidade que administra os mísseis do país, após a divulgação informações sobre uma investigação por corrupção.

Seu antecessor, Li Yuchao, também desapareceu algumas semanas antes, sem uma explicação oficial por parte da imprensa estatal.

"A formação do gabinete do presidente Xi parece agora o romance de Agatha Christie 'E Não Sobrou Nenhum'", afirmou em setembro o embaixador americano no Japão, Rahm Emanuel, na rede social X (antes Twitter).

"Não vimos ou ouvimos falar de Li Shangfu há várias semanas", disse o diplomata em 8 de setembro.

Para o analista Sun Yun, diretor do Programa sobre China no Centro Stimson em Washington, a situação "diz muito sobre a imprevisibilidade das decisões pessoais e da política interna da China hoje".

Aliados
Desde sua ascensão à liderança do Partido Comunista em 2012, Xi Jinping reforçou o controle sobre o governo, com aliados políticos leais nos cargos de maior responsabilidade.

"Caso Li também tenha sido destituído, isto não seria uma imagem positiva para Xi", disse Sun. "Qin e Li foram selecionados por ele", acrescenta.

O combate à corrupção é um tema central para o presidente chinês, que logo que assumiu o poder iniciou uma ampla campanha para abordar o problema.

Apesar de alguns elogios às medidas, os críticos também apontam a campanha como um meio eficaz de afastar os rivais.

"Xi Jinping começou rapidamente um expurgo nos altos escalões das forças militares e de segurança. E este continua atualmente", explica Sheena Chestnut Greitens, especialista em políticas autoritárias no Leste da Ásia e professora da Universidade do Texas.

Para o presidente chinês, a corrupção representa uma "ameaça fundamental porque torna as pessoas leais aos lucros pessoais, e não ao Partido", acrescenta a professora.

Se as primeiras etapas da campanha pareciam direcionadas contra possíveis rivais, as investigações mais recentes também afetaram aliados de Xi.

"A destituição tão rápida (após a nomeação) gera perguntas sobre quais informações Xi recebe ou não quando seleciona as pessoas para os ministérios e sobre o que está acontecendo para serem demitidos tão rapidamente", disse Chestnut Greitens.

Os interlocutores da China "precisam se perguntar se a pessoa com quem estão lidando tem realmente algum poder e influência em Pequim ou se vai desaparecer amanhã e ficará incomunicável por meses", acrescenta.

Especulações
A possível demissão de Li Shangfu e a saída sem explicações do ex-diretor da unidade que administra os mísseis, Li Yuchao, indicam que a campanha anticorrupção de Xi afeta os níveis mais elevados do exército chinês.

Lyle Morris, pesquisador de política externa e de segurança nacional no 'Asia Society Policy Institute', escreveu que o desaparecimento de Li Shangfu sugere que expurgo nas Forças Armadas "está longe de terminar".

"Ele não é um funcionário obscuro que pode ser varrido para debaixo do tapete", escreveu Morris na rede X.

A China não confirmou se algum dos três altos funcionários está sendo investigado e se nega a responder qualquer pergunta sobre o tema.

"Não estou a par da situação mencionada", afirmou a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, ao ser questionada na terça-feira sobre um artigo do Wall Street Journal que atribuía o afastamento de Qin Gang a um caso extraconjugal.

A ausência de explicações oficiais permite todo tipo de especulações sobre a administração chinesa.

"Isto reforça a sensação de imprevisibilidade a respeito da política externa chinesa, no momento em que o sistema político da China já é menos transparente e mais difícil de ser compreendido pelos estrangeiros", destaca Chestnut Greitens.

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