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Relações

China ironiza mudança de tom com EUA após reunião de Xi e Biden: "Não somos mais antiamericanos?"

Visita diplomática aos EUA provoca 'trégua' na cobertura da imprensa estatal chinesa, anteriormente centrada apenas em aspectos negativos de Washington

Bandeira da ChinaBandeira da China - Foto: Pixabay

Descrito pelo presidente dos EUA, Joe Biden, como um "progresso real" nas relações com a China, a reunião de cúpula do líder americano com o presidente chinês, Xi Jinping, na quarta-feira, ficou marcada também por uma mudança de tom na cobertura da imprensa chinesa sobre Washington.

Analistas apontam que houve uma espécie de mudança de foco e na linguagem utilizada pela mídia estatal do país asiático ao principal rival estratégico — algo que foi notado e ironizado nas redes sociais chinesas.

“Agora não somos mais antiamericanos?", escreveu um usuário da rede social Weibo, com um emoji sorridente. Outro disse: "Amor e ódio são diferentes apenas pelo momento".

De acordo com David Bandurski, diretor executivo do projeto independente China Media Project, a cobertura crítica dos EUA e de outros países ocidentais pela imprensa chinesa visa mostrar o sucesso do país em comparação aos rivais ocidentais, sobretudo Washington.

"Tudo é negativo nos EUA (de acordo com a mídia chinesa)... e este é o outro lado do quadro geral da construção de legitimidade por Xi Jinping em seu terceiro mandato", disse o especialista em entrevista a Associated Press.

Contudo, a agência americana aponta que uma mudança de tom ficou clara nos dias anteriores ao encontro entre Biden e Xi em São Francisco, na quarta-feira, quando os dois líderes conversaram por cerca de quatro horas e concordaram em restaurar comunicações militares diretas após um ano de interrupção.

A AP acompanhou a cobertura chinesa e apontou que o jornal oficial do Partido Comunista, People’s Daily, na sua edição internacional de quarta-feira, afirmou que “o povo chinês nunca esquecerá um velho amigo, e essa é uma mensagem importante que queremos enviar ao povo americano”.

O jornal nacionalista Global Times, por sua vez, apelou à cooperação dos dois países em um artigo de opinião.

A agência de notícias oficial Xinhua publicou uma série de cinco partes sobre as relações EUA-China que apelava aos países para que “se encontrassem no meio do caminho” e “trabalhassem em conjunto para regressar ao caminho do desenvolvimento saudável e estável”.

O tom da cobertura coincide com as falas de Xi a Biden e a empresários com quem conversou nos EUA. Após a reunião com o presidente americano, o líder chinês disse que "o planeta Terra é grande o bastante" para que os dois países tenham sucesso, ao passo que afirmou a empresários que a China "está pronta para ser um sócio e amigo dos EUA".

A reviravolta chamou a atenção de cidadãos chineses, que comentaram sobre as manchetes no país.

“Faz dois dias que não fico on-line… uma olhada nos trending topics mostra que a atmosfera entre a China e os EUA é como se um casal em um casamento arranjado se apaixonasse”, dizia um post no Weibo, citado pelo jornal americano The Washington Post. A publicação americana relata que o comentário foi removido posteriormente, "aparentemente pelos censores".

"Ditador" provoca rusga
O clima amistoso entre Biden e Xi na quarta-feira foi um contraponto aos últimos anos de disputa entre EUA e China, que se opõem em diferentes tabuleiros internacionais.

As referências à cooperação internacional e os compromissos anunciados por ambos os lados poderia ter passado como um momento apenas de aproximação, não fosse um deslize do líder americano ao fim do encontro.

Em uma coletiva de imprensa individual, após a reunião com Xi, Biden afirmou a um repórter que considerava o presidente chinês um "ditador".

"É um termo que usamos antes. Ele [Xi] é um ditador no sentido de que é alguém que lidera um país comunista, que se baseia em uma forma de governo completamente diferente da nossa", justificou Biden na coletiva.

A fala do presidente provocou uma reação de Pequim nesta quinta. Ao ser questionada sobre as declarações de Biden, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, declarou que o tipo de discurso utilizado por Biden seria "extremamente equivocado", configurando "uma manipulação política irresponsável".

"Preciso destacar que sempre há pessoas com segundas intenções que tentam semear a discórdia para arruinar as relações entre Estados Unidos e China e, neste caso, também não terão sucesso", acrescentou a porta-voz.

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