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China e Taiwan

China lança mísseis perto de Taiwan e Japão em represália à visita de Pelosi

A hipótese de uma invasão de Taiwan, com 23 milhões de habitantes, é pouco provável

Trilhas de fumaça de projéteis lançados pelos militares chineses são vistas no céu enquanto turistas observam da Ilha Pingtan, um dos pontos mais próximos da China continental de Taiwan, na província de Fujian, em 4 de agosto de 2022Trilhas de fumaça de projéteis lançados pelos militares chineses são vistas no céu enquanto turistas observam da Ilha Pingtan, um dos pontos mais próximos da China continental de Taiwan, na província de Fujian, em 4 de agosto de 2022 - Foto: Hector Retamal / AFP

A China disparou nesta quinta-feira (4) mísseis que podem ter "sobrevoado" Taiwan antes de supostamente caírem na zona econômica exclusiva do Japão, no primeiro dia de vastos exercícios militares lançados após a visita da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan.

Apesar das advertências de Pequim, que considera Taiwan parte de seu território, Pelosi, segunda na linha de sucessão presidencial, fez uma visita relâmpago a Taipé, durante a qual afirmou que os Estados Unidos "não abandonarão" a ilha. Nesta quinta-feira, chegou ao Japão, última etapa de sua viagem asiática.

A China considerou a iniciativa da congressista democrata uma "provocação". Em resposta, manobras militares nas águas próximas de Taiwan, que incluem algumas das rotas marítimas mais movimentadas do mundo

As manobras, que começaram ao meio-dia local (13h de Brasília), incluíram "disparos de mísseis convencionais" contra as águas da costa leste de Taiwan, afirmou Shi Yi, porta-voz militar da China.

O ministério taiwanês da Defesa confirmou que exército chinês disparou "11 mísseis" balísticos do tipo Dongfeng "nas águas do norte, sul e leste de Taiwan".

Além disso, denunciou que 22 aviões militares cruzaram a "linha média" do Estreito de Taiwan, uma coordenada não oficial, mas que raramente é ultrapassada, no meio do caminho entre a costa da China e as da ilha autônoma.

O Japão pediu o "fim imediato" das manobras chinesas, após indicar que cinco mísseis caíram supostamente em sua zona econômica exclusiva (ZEE) e que quatro deles podem ter "sobrevoado a ilha de Taiwan".

"As ações chinesas desta vez têm grande impacto na paz e segurança da região", declarou o chanceler japonês Yoshimasa Hayashi, à margem de uma reunião ministerial de países do sudeste asiático no Camboja.

O secretário de Estado americano Antony Blinken disse que esperava que a China "não provoque uma crise nem busque um pretexto para aumentar suas operações militares agressivas".

Manobras "sem precedentes"

As manobras militares chinesas, as maiores das últimas décadas, devem durar até domingo.

Especialistas militares citados pelo Global Times, um veículo oficial do governo comunista chinês, afirmaram que essas manobras seriam de uma magnitude "sem precedentes", porque os mísseis sobrevoariam Taiwan pela primeira vez.

Pequim defendeu os exercícios, assim como outras manobras executadas nos últimos dias, como "justos e necessários", ao mesmo tempo que culpou Washington e seus aliados pela escalada.

Em relação à "visita de Pelosi a Taiwan, os Estados Unidos são o provocador, a China é a vítima", declarou a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying.

Uma fonte militar chinesa disse à AFP que os exercícios acontecem "em preparação para um combate real".

"Se as forças taiwanesas entrarem em contato com o EPL (Exército Popular de Libertação) e acidentalmente dispararem uma arma, o EPL adotará medidas severas e todas as consequências acontecerão do lado taiwanês", acrescentou a fonte.

Bloquear a ilha

Os exercício buscam simular um "bloqueio" da ilha e incluem o "ataque a alvos no mar, o ataque a alvos em terra e o controle do espaço aéreo", segundo a agência oficial Xinhua.

As autoridades da ilha criticaram as manobras como um "ato irracional que deseja desafiar a ordem internacional".

A hipótese de uma invasão de Taiwan, com 23 milhões de habitantes, é pouco provável. Mas, desde a eleição em 2016 da atual presidente, Tsai Ing-wen, as ameaças são cada vez maiores.

E a ameaça aumentou durante o governo do presidente chinês Xi Jinping.

Tsai, que pertence a um partido independentista, ao contrário do governo anterior, se nega a reconhecer que a ilha e a parte continental integrem "uma só China".

Nos últimos anos, as visitas a Taipé de autoridades e congressistas estrangeiros aumentaram, o que irrita Pequim.

Como resposta, a China tenta isolar Taiwan no campo diplomático e aumenta a pressão militar contra a ilha.

Analistas, no entanto, afirmaram à AFP que a China não pretende agravar a situação além de seu controle, ao menos no momento.

"A última coisa que Xi deseja é a explosão de uma guerra acidental", afirmou Titus Chen, professor associado de Ciências Políticas na Universidade Nacional Sun Yat-Sen de Taiwan.

Mas para Amanda Hsiao, especialista em China do International Crisis Group, "o anúncio dos exercícios militares chineses representa uma clara escalada da atual base de atividades militares chinesas ao redor de Taiwan e da última crise no Estreito de Taiwan de 1995-1996"". 

"Agindo desta maneira, Pequim mostra que rejeita qualquer soberania das autoridades taiwanesas", acrescenta.

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