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Luto

Cid Moreira diz ter apresentado JN de bermuda: 'Só deu tempo de colocar camisa, gravata e paletó'

Na época, apresentador também disse que gostaria de dar notícia da criação da vacina da Covid-19

Cid Moreira e Sérgio Chapellin apresentando Jornal NacionalCid Moreira e Sérgio Chapellin apresentando Jornal Nacional - Foto: Acervo/TV Globo

Cid Moreira contou certa vez que sonhava frequentemente que chegava atrasado para apresentar o Jornal Nacional. Em outro pesadelo, o texto com as notícias que lia ao vivo desaparecia. As lembranças dos quase 27 anos em que ficou à frente do maior telejornal do país — marca que o fez entrar para o "Guinness", livro dos recordes — permaneciam na memória do jornalista e locutor, ele vcontou em entrevista ao GLOBO quando completou 93 anos e foi tema de documentário.

No longa, Cid, que narrou desde a chegada do homem à Lua até a queda do muro de Berlim, relata a própria trajetória. Aos 17 anos, o menino que sonhava ser bancário ou contador se tornou locutor de rádio. Na época, desenhava mulheres nuas e vendia para comprar ingresso de filmes de faroeste no cinema. Antes, carregou malas em estação de trem, vendeu frutas e verduras e foi boleiro em clube de tênis - mas isso o filme não mostra.

Mostra um homem orgulhoso de seu profissionalismo, que não para de trabalhar nem quando recebe, na bancada do JN, a notícia da morte de sua mãe. Em outra passagem, ele encarna o ator. Reconstrói o momento em que ficou preso na sauna de casa porque não havia puxador na porta.

A seguir confira trechos da entrevista de Cid Moreira ao GLOBO:

Conta um momento que o marcou na televisão?

Quando era em preto e branco, eu tinha um ou dois blazers, não importava a cor. Quando passou a ser a cores, contratei um alfaiate, que me arrumou tecidos de tudo quanto era cor. Foi uma orgia! Desfilava com aquilo na TV!

No filme, o senhor cita pesadelos. Quais são os que mais te assombram?

Sonho que estou atrasado para o jornal, que estou lendo notícia, e o texto some. É terrível! Esses atrasos aconteceram. Morava na Barra e, quando chovia, o Jockey enchia de água. Não existia celular. Uma vez, vinha de Petrópolis pela Avenida Brasil toda cheia de água, o trânsito parado. Aí, passou a polícia, e falei “avisa que estou preso aqui”. Avisaram.

É verdade que já apresentou o Jornal Nacional de bermuda?

Sim. Estava descendo de Itaipava, quando desabou a chuva. Vestia short de jogar tênis e ia trocar quando chegasse. Mas só deu tempo de colocar camisa, gravata e paletó. Entrei no ar um segundo após dar nó na gravata. Depois disso, deixei calça e até cueca no armário do trabalho.

Já espantou mosca e bocejou no ar. Lembra de outra situação inusitada?

Espantei a mosca, mas teve um colega meu que engoliu discretamente, sabia? ( risos ). Eu tinha uma pasta onde levava escova de cabelo e pó para tirar o brilho do rosto. Já estava na bancada quando fui pegar algo na bolsa, no tato. Tinha um aparelho de barba e cortei o dedo. Foi sangue para tudo quanto é lado. Chupava o dedo entre uma notícia e outra.

Como mantinha o autocontrole?

Como um cirurgião. Se alguém próximo tem uma crise, e ele precisa salvar, não pode se emocionar ao pegar o bisturi. Não dá para deixar que uma notícia impactante te tome pela emoção. Quando morreu Carmen Miranda, o radialista Cesar Ladeira foi ler uma mensagem de despedida, e perdeu a voz. Quando eu enfrentava uma coisa dessas, fazia de conta que não era eu. Nunca perdi o controle.

E na ditadura, como era? O texto chegava rasurado?

Eu conversava com o censor, um coronel. Ele intervinha: “isso não pode”. Li o editoral sobre a proibição da novela do Dias Gomes ( “Roque Santeiro” ). Também um sobre o Brizola, que teve direito de resposta. O que era contra ( o que a emissora defendia ), eu não dava vida, falava monocordiamente, sem enfatizar nada.

O longa narra suas glórias. Pode contar um fracasso?

Já esqueci texto de comercial e, uma vez, um plástico encostou no panelão de luz do estúdio, e o jornal saiu do ar.

E na sua vida pessoal, qual foi o momento mais difícil?

A morte da minha filha e seu envolvimento com drogas.

O que aquela foto na banheira significou na sua vida?

A rua! Quase fui despedido ( risos ). A sessão de fotos estava longa. Aproveitei o intervalo para alongar e fizeram a foto.

Foi a primeira vez que te vimos tão espontâneo. O que hoje é comum, já que compartilha memes e momentos íntimos no Instagram...

É uma forma de me soltar. Gosto de brincar, procuro amenizar minha imagem austera. Temos que ter humor.

Está casado com Fátima há 20 anos. O que ela significa na sua vida? Sexo é importante?

É a mola propulsora, me anima. Durmo sendo beijado, acordo sendo beijado, ela é muito beijoqueira! Sexo é uma brincadeira muito boa. Continuamos brincando.

Foi o homem mais conhecido do Brasil. Era muito paquerado?

Era não, continuo sendo ( risos ). Me deixem em paz ( risos )! Porque não posso fazer nada, tem sempre alguém olhando. Me pedem para falar “Jabulaaani”, “Mister M”, gravar “boa noite” para a avó...

Como foi sair do ar após 27 anos? Deu um vazio?

Deu, mas logo foi preenchido. Vivi tão intensamente a fase do jornal, que me perguntavam “e quando você parar?”. Dizia, “não sei, algo vou fazer”. E fiz. Foram sete anos gravando a Bíblia. Sonho em gravar de novo, com mais tecnologia. Eu também evoluí. Agora, estou estudando poemas, quase virando ator ( risos ).

Que notícia mais gostaria de dar neste momento?

Queria dar a notícia de que saiu a vacina contra a Covid.

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