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Pandemia

Cidade com maior população indígena do Brasil registra explosão de casos de Covid-19

Entre setembro e outubro foi computado um aumento de 313% de novos casos da doença em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas

Vacinação de indígenasVacinação de indígenas - Foto: Alex Pazuello / Prefeitura de Manaus

A cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM), município com a maior população indígena do país, registrou uma explosão de casos de Covid-19. Segundo dados da prefeitura, houve um aumento de 313% de novos diagnósticos da doença entre os meses de setembro (178) e outubro (43). Um decreto foi baixado exigindo apresentação do cartão de vacinação e reforçando medidas de proteção.

Em outubro duas pessoas morreram, uma tinha tomado apenas uma dose de vacina, e a outra não estava imunizada. Atualmente, há dois pacientes internados com as duas doses de vacinação.

Uma das razões apontadas para o aumento de casos é a dificuldade em convencer a população a completar o esquema vacinal, ou seja, tomar as duas doses. A secretária municipal de Saúde, Adelaide Amorim, avalia que o percentual de vacinação de 56% ainda é “muito baixo” devido à resistência da população, principalmente por questão cultural.

Na cidade foram utilizadas várias estratégias para aumentar a imunização, com ampliação de horário nos postos, vacinação em feiras e centros comerciais. Agora, com decreto publicado dia 26 de outubro,  passou a ser obrigatório apresentar a carteirinha de vacinação no comércio, eventos e também no transporte intermunicipal.

"O município é 90% indígena, tem muita crendice e fake news. Estamos tentando de toda maneira levar a população para vacinar. Como os comércios agora estão exigindo a vacina, a máscara, a gente teve uma procura melhor nesses últimos dias", disse a secretária, contando também que já houve confusão.

"A população briga, xinga, acaba que alguns estão flexibilizando, o povo está ficando agressivo. Já teve até situações de ter que chamar a polícia. É bem difícil", declarou Adelaide Amorim.

Adelaide Amorim disse ainda que tem observado que a eficácia da vacina dura seis meses, conforme apontam estudos já divulgados. Para ela, o aumento de casos se deve a um novo ciclo.

"Como a gente já estava realmente em um relaxamento (das medidas sanitárias), nem todos estavam seguindo o uso máscaras, então pessoas que não foram vacinadas pegam (a doença) e outras se contaminando de novo", afirmou a secretária, acrescentando que pessoas vacinadas estão contraindo a doença e algumas sendo internadas, mas não em estado grave, o que indica a eficácia da imunização.

São Gabriel tem uma população estimada de 47 mil pessoas, distribuída em 750 comunidades, 23 etnias e 18 línguas. O município abriu a vacinação para jovens de 12 a 17 anos. Além disso, a terceira dose está sendo aplicada em idosos acima de 60 anos e profissionais de saúde.

A Fiocruz Amazônia investiga a presença de variantes em São Gabriel. Em testagem realizada em setembro, foi confirmada a circulação da variante Gama (P1), conhecida como a variante de Manaus.

Em nota, a secretaria de Saúde do estado informou que a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP) esteve presente no município , no período de 21 a 30 de outubro, e “identificou o abandono do cumprimento dos protocolos sanitários” e a “baixa adesão da campanha nacional contra a doença em dois bairros específicos”.

“A FVS-RCP acrescenta que a variante predominantemente no município é Gama e que o município segue sendo monitorado pela vigilância epidemiológica estadual”, diz a nota.

De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA) que acompanha a situação, a alta de casos no município acendeu o alerta também para quem vive nas comunidades indígenas. O Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro (Dsei-ARN) orienta para que eventos que possam causar aglomerações sejam suspensos por tempo indeterminado.

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