Ciência consegue reverter envelhecimento de óvulos pela primeira vez
Em experimento com uso de um antiviral, pesquisadores conseguiram recuperar gametas envelhecidos e elevar sua maturação em até 28,6%
Cada vez mais técnicas buscam reverter ou retardar o envelhecimento dos óvulos e dos ovários, um processo que é um empecilho para mulheres que desejam ter filhos em idades mais avançadas.
Agora, essa possibilidade, pode ter chegado um passo mais perto de se tornar realidade. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, descobriram como esse mecanismo que envelhece os óvulos funciona e conseguiram revertê-lo com um antiviral inicialmente criado para o tratamento da Aids, a Zidovudina ou AZT.
Ainda na juventude, os óvulos começam a acumular danos ao seu material genético, e esse processo gradual leva os gametas a eventualmente — em média após os 35 anos — não conseguirem mais amadurecer e serem fertilizados. Isso acontece porque uma parte considerável do genoma humano é feito de sequências semelhantes a vírus ou fragmentos de vírus, que são os responsáveis por, com o tempo, danificar o óvulo.
No estudo, recém-publicado na revista científica Aging cell, os pesquisadores identificaram que o envelhecimento do óvulo provoca a perda de processos do gameta responsáveis por impedir que essas partes prejudiciais do material genético se tornem ativas. Com isso, ao passo que envelhecem, os óvulos passam a ser afetados por esses danos e perdem a capacidade reprodutiva.
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Os cientistas decidiram testar, então, se um antiviral chamado inibidor da transcriptase reversa, usado para prevenir danos ao DNA em infecções virais, poderia impedir a atuação dessas partes danosas do material genético do óvulo que se assemelham a fragmentos de vírus.
Para isso, eles adicionaram doses baixas do antiviral AZT (Zidovudina), que é indicado para o tratamento da Aids, em óvulos mais velhos de camundongos. O processo conseguiu resgatar parcialmente os gametas envelhecidos, com os índices baixos de maturação sendo elevados em até 28,6%. O resultado, positivo, é o primeiro do tipo a conseguir reverter o processo de envelhecimento dos óvulos.
Ainda assim, os gametas que passaram pelo processo de reversão dos danos que impedem sua maturação não foram fecundados como parte do estudo, então ainda há dúvidas sobre a capacidade final do procedimento de restaurar a fertilidade dos óvulos.
Mas os resultados são uma boa notícia numa época em que a decisão de ser mãe é tomada cada vez mais tarde. Segundo dados do IBGE, entre 2008 e 2018, o número de nascimentos cujas mães tinham menos de 30 anos diminuiu, ao passo que aumentou a quantidade de mulheres que se tornaram mães após essa idade.
"Dentro de uma década, esperamos ser capazes de aumentar a fertilidade entre mulheres mais velhas utilizando medicamentos antivirais", disse o autor principal do estudo, em comunicado, Michael Klutstein, chefe do Laboratório de Pesquisa em Cromatina e Envelhecimento da Universidade Hebraica de Jerusalém.