Cientistas descobrem mecanismo para desarmar 'bomba-relógio' que causa metástase após câncer de mama
É possível bloquear proteína existente no pulmão (onde o novo tumor se instala) com um remédio usado para tratar pacientes com leucemia mielóide crônica
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer (ICR), em Londres, descobriram como células do câncer de mama se espalham para os pulmões, passam anos "adormecidas" lá e, quando acordam, se tornam tumores praticamente incuráveis.
Os cientistas descobriram também um mecanismo para frear essa "bomba-relógio" que causa metástase no pulmão — um dos lugares mais comuns para onde o câncer pode se espalhar. Já existe, inclusive, uma droma capaz retardar o crescimento desses tumores secundários, sugere o estudo em camundongos.
Pacientes com o tipo mais comum de câncer de mama — o receptor de estrogênio positivo (ER+) — permanecem em risco de recorrência do câncer em outra parte do corpo (metástase) por décadas após o diagnóstico inicial, mesmo após o tratamento bem-sucedido. Cerca de 80 em cada 100 casos de câncer de mama são positivos para receptores de estrogênio.
Em uma tentativa de entender as pistas que levam essas células a entrar em ação e formar tumores, os pesquisadores estudaram camundongos com câncer de mama ER+ que foram submetidos a exames. As descobertas, publicadas na revista científica Nature Cancer, sugerem que mudanças moleculares dentro do pulmão estimulam o crescimento de tumores secundários.
A proteína PDGF-C — que é vital para o crescimento e sobrevivência dos tecidos — desempenha um papel fundamental em determinar se as células inativas do câncer de mama permanecem adormecidas ou "acordam".
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O aumento dos níveis da proteína, o que ocorre devido ao envelhecimento ou quando o tecido pulmonar fica danificado ou cicatrizado, pode fazer com que as células cancerígenas dormentes cresçam e formem um câncer secundário no pulmão.
Os pesquisadores então exploraram se o bloqueio da atividade do PDGF-C poderia ajudar a prevenir o "despertar" dessas células. Eles deram aos camundongos um bloqueador de crescimento do câncer chamado imatinib, que atualmente é usado para tratar pacientes com leucemia mielóide crônica.
Os animais foram tratados com a droga antes ou depois do desenvolvimento dos tumores. Entre os dois grupos, o crescimento do câncer no pulmão foi significativamente reduzido, de acordo com os resultados do estudo.
"Descobrimos como o envelhecimento do tecido pulmonar pode fazer com que essas células cancerígenas 'despertem' e se transformem em tumores e descobrimos uma estratégia potencial para 'desarmar' essas 'bombas-relógio'", afirmou Frances Turrell, pós-doutorando no departamento de Pesquisa do Câncer de Mama no ICR e principal autor do estudo ao jornal britânico Daily Mail.
"Agora planejamos desvendar melhor como os pacientes podem se beneficiar do medicamento existente imatinib e, a longo prazo, pretendemos criar tratamentos mais específicos direcionados ao mecanismo de 'despertar'.
Para Clare Isacke, professora de biologia celular molecular no ICR e coautora do estudo, esse é um "avanço empolgante na compreensão do câncer de mama avançado".
"[Descobrimos] como e por que as células do câncer de mama formam tumores secundários nos pulmões. Em seguida, precisamos identificar quando essas mudanças relacionadas à idade acontecem e como elas variam entre as pessoas, para que possamos criar estratégias de tratamento que impeçam o 'despertar' das células cancerígenas", explicou.
Para os pesquisadores, esse estudo tem o potencial de beneficiar milhares de mulheres que vivem com esta "bomba-relógio" no futuro, garantindo que menos pacientes recebam as notícias devastadoras que a doença se espalhou.