Logo Folha de Pernambuco

Pílula

Cientistas testam pílula que imita benefícios do exercício físico: como funciona?

Os benefícios do exercício físico regular e do jejum para a saúde já estão bem estabelecidos

PílulaPílula - Foto: Michal Jarmoluk/Pixabay

Uma pílula que reproduz os benefícios à saúde de correr dez quilômetros em alta velocidade e de barriga vazia. Parece um sonho, mas pode se tornar realidade. Cientistas da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, criaram um molécula capaz de imitar os benefícios do exercício e da restrição alimentar no organismo. A substância já foi testada com sucesso em ratos e, agora, começa a ser testada em humanos.

Os benefícios do exercício físico regular e do jejum para a saúde já estão bem estabelecidos. Se exercitar e passar um período longo do dia sem comer fortalece o coração e reduz os níveis de gordura no sangue.

A explicação está numa reação natural do organismo, o aumento dos níveis de lactato e das cetonas, que funcionam como combustível para as células, beneficiando todos os órgãos do corpo.

Um grupo de químicos, especialistas em diabete e cientistas que pesquisam o metabolismo humano da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, criaram uma molécula capaz de induzir os mesmos efeitos metabólicos sem a necessidade de fazer exercício ou jejuar. O trabalho foi publicado no Journal of Agricultural and Food Chemistry.

"Nós desenvolvemos uma molécula que imita a resposta metabólica natural do organismo ao exercício intenso e ao jejum", afirmou o professor Thomas Poulsen, do Departamento de Química da Universidade Aarhus. "Na prática, a molécula leva o corpo a um estado metabólico semelhante ao que ocorre quando uma pessoa corre 10 quilômetros com uma velocidade alta e a barriga vazia "

Quando os níveis de lactato e cetona aumentam no sangue, aumenta também a produção de um hormônio redutor do apetite e caem os níveis de gordura no sangue. Isso provoca inúmeros benefícios para a saúde, como a redução do risco de desenvolver síndrome metabólica, explicou o professor. O lactato é produzido após a quebra da glicose, e as cetonas, depois da quebra da gordura.

Segundo Poulsen, não dá para alcançar o mesmo efeito apenas com a dieta, embora lactato e cetonas ocorram naturalmente em vários alimentos. No entanto, para produzir os efeitos induzidos pela ginástica e o jejum, seria necessário o consumo de uma quantidade muito elevada. Nessas quantidades, o sal e o ácido contidos nos compostos trariam efeitos negativos para o organismo. E é ai que entra a nova molécula, chamada LaKe.

Os pesquisadores já sabiam dos efeitos positivos do lactato e das cetonas no organismo. Eles levaram três anos para conseguir fazer uma fusão química dos dois, deixando de lado o sal e o ácido que os acompanham e são nocivos.

"De certa forma, não estamos surpresos com o resultado porque combinamos duas substâncias muito bem conhecidas", afirmou Poulsen. "A inovação é que criamos uma molécula que nos permite controlar artificialmente as quantidades de lactato e cetonas de forma segura."

Até agora, a molécula só foi testada em ratos, mas o primeiro teste clínico em humanos já está em andamento no hospital da Universidade de Aarhus. Na primeira fase dos testes é verificada a segurança da substância. Somente em etapas posteriores é testada a eficácia. Ou seja, ainda que tudo dê certo, demora ainda para termos uma "pílula do exercício" na farmácia.

Segundo Poulsen, os testes devem pavimentar o caminho para que a nova molécula se torne um suplemento nutricional avançado, que vai ajudar pessoas que não conseguem seguir uma rotina de exercícios e dieta.

"É difícil manter a motivação para correr muitos quilômetros em alta velocidade e sem comer", afirmou Poulsen. "Para pessoas com problemas de saúde que não podem praticar exercícios, o suplemento pode ser a chave para uma melhor recuperação."

Vários grupos de pesquisa em todo o mundo tentam há alguns anos criar substâncias que simulem os benefícios dos exercícios físicos e da restrição calórica. Muitos trabalham com o lactato e as cetonas, mas há outros alvos também, caso da irisina, substância secretada pelas células musculares durante o exercício.

Professora da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, Christiane Wrann publicou um estudo no fim do ano passado mostrando como a irisina alcança o cérebro e consegue destruir as placas amilóides que se formam na doença de Alzheimer - uma descoberta fundamental na compreensão de como o exercício físico ajuda a proteger o cérebro da demência. A especialista e sua equipe buscam agora uma forma de transformar a descoberta em tratamento.

Segundo ela, é improvável que tenhamos um único remédio que replique todos os benefícios do exercício físico. "A atividade física está envolvida em muitos processos biológicos e mesmo que fosse possível ter todos eles como alvos, provavelmente não seria seguro", afirmou a pesquisadora em entrevista ao jornal britânico The Guardian. "Não acho que seja realista imaginar que uma única pílula vai te dar os mais de vinte benefícios que o exercício traz para o corpo."

Ainda segundo a pesquisadora, tais medicamentos - quando existirem - não serão destinados a quem tem preguiça de fazer exercício, mas sim a pessoas doentes ou muito idosas que estejam impossibilitadas de praticar atividade física.
 

Veja também

Coreia do Norte afirma que mais de um milhão de pessoas se alistaram ao exército em uma semana
MUNDO

Coreia do Norte afirma que mais de um milhão de pessoas se alistaram ao exército em uma semana

Ministério da Saúde de Gaza reporta 42.409 mortos desde o início da guerra
GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Ministério da Saúde de Gaza reporta 42.409 mortos desde o início da guerra

Newsletter