Cinco opções de Putin na Ucrânia
Salvo no caso de uma reviravolta militar, Putin tem várias cartas na mão
Após a conquista de Lysychansk, as tropas russas continuam seu avanço lento, mas inexorável, na região ucraniana de Donbass (leste), aumentando as especulações sobre quais são os objetivos do presidente Vladimir Putin nesta guerra.
Salvo no caso de uma reviravolta militar, Putin tem várias cartas na mão, embora continue sendo totalmente opaco sobre suas intenções: consolidar o Donbass? Avançar? Negociar para registrar suas conquistas territoriais e dividir o Ocidente?
"Todas as opções estão sobre a mesa", resume o diretor acadêmico da Fundação Mediterrâneo para Estudos Estratégicos (FMES), Pierre Razoux.
"Tudo é possível", confirma Alexander Grinberg, analista do Jerusalem Institute for Security and Strategy (JISS).
"Os russos vão parar e reivindicar uma grande vitória, ou têm outros planos" no sul do país?, questiona.
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Continuar andando
Ninguém parece capaz de impedir que os russos dominem por completo o Donbass, já parcialmente sob o controle de separatistas pró-russos desde 2014, embora persistam focos de resistência.
Para além das cidades de Severodonetsk e Lysychansk, que caíram uma após a outra, há alvos atraentes para Moscou.
"A Rússia pode esperar conquistar Sloviansk e Kramatorsk e seus arredores", afirma Pierre Grasser, pesquisador do laboratório Sirice, da Universidade Sorbonne, em Paris.
"Em Sloviansk, as forças russas esperam encontrar uma população, de qualquer forma, a que permaneceu, bastante amistosa", completou.
No início da guerra, porém, as forças russas mostraram que não podem se aventurar, indo muito longe.
"Seu rolo compressor funciona bem perto de suas fronteiras, dos seus centros logísticos e de suas bases aéreas. Mas, quando se afastam, tudo fica mais complicado", ressalta Pierre Razoux.
Controlar o Mar Negro
Os russos conquistaram Kherson, ao sul, rapidamente, já nos primeiros dias da guerra, mas a situação na costa do Mar Negro não se estabilizou.
"A guerra no sul e a libertação dos portos ucranianos do cerco russo é uma frente de importância estratégica muito maior" do que o Donbass, estima o general australiano aposentado Mick Ryan.
O controle da costa daria a Moscou continuidade territorial com a Crimeia, anexada em 2014, e o acesso aos portos ucranianos no Mar Negro.
O caso de Kharkiv
Kharkiv, a segunda cidade do país, ao nordeste, perto da fronteira com a Rússia, permanece sob controle ucraniano e pode ser um alvo para Putin, segundo Pierre Razoux.
"Em caso de colapso ucraniano e de isolamento completo de Kharkiv, os russos podem forçar os ucranianos a optarem por defender Kharkiv, ou pressionar o sul, na direção de Kherson", completou.
Uma batalha pelo controle desta cidade de 1,4 milhão de habitantes seria muito devastadora, e o cerco poderia durar "um ano", calcula Razoux, do FMES.
Dividir o Oeste
A cada avanço militar, Putin quebra a solidariedade ocidental, porque Ucrânia, Estados Unidos, França, Reino Unido, ou Polônia, não têm a mesma perspectiva sobre o conflito.
"O objetivo da Rússia é continuar destruindo as forças ucranianas, à espera de que o apoio político à Ucrânia se enfraqueça no Ocidente", explica Colin Clarke, diretor de pesquisa do Soufan Center, um "think tank" de Nova York.
Kiev depende de uma significativa ajuda militar ocidental, mas que não é tão rápida, nem da envergadura desejada pela Ucrânia.
"Os ucranianos entendem que o Ocidente não pode fornecer todas as armas de que precisam", lembra Alexander Grinberg.
Negociações
O avanço russo não deve nos fazer esquecer seu custo, em termos de sanções, perdas humanas e destruição. Segundo analistas, Putin tem, portanto, várias razões para parar a guerra.
No final de junho, o Kremlin abriu ligeiramente a porta para a possibilidade de negociações, mas na forma de um ultimato.
"Tem que ordenar os soldados ucranianos a baixarem as armas e tem que aplicar todas as condições estabelecidas pela Rússia. Então, tudo terá terminado em um dia", disse Dmitri Peskov, porta-voz de Putin.