Guerra na Ucrânia

Civis presos em Mariupol enquanto o cerco em torno de Kiev se intensifica

Presidente russo, Vladimir Putin, culpou "nacionalistas ucranianos" pelo fracasso da evacuação

Tanque de guerra ucraniano destruído em MariupolTanque de guerra ucraniano destruído em Mariupol - Foto: Handout/Russian Defence Ministry/AFP

A população civil ainda estava presa, neste domingo (6), na cidade costeira de Mariupol (sul da Ucrânia), após o segundo fracasso da operação de evacuação, no momento em que o cerco russo se intensifica na região de Kiev, forçando seus habitantes a fugir.

No 11º dia desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, "a segunda tentativa de começar a evacuar cerca de 200 mil pessoas" do porto ucraniano de Mariupol "foi interrompida em meio a cenas devastadoras de sofrimento humano", anunciou a Cruz Vermelha neste domingo.

"O corredor para evacuar a população civil não deixou Mariupol porque os russos reagruparam suas forças e começaram a bombardear a cidade", disse o governador da região, Pavlo Kirilenko, no Facebook.

O presidente russo, Vladimir Putin, culpou "nacionalistas ucranianos" pelo fracasso da evacuação, que também teria impedido a anterior, no sábado, segundo o líder russo.

Em uma conversa por telefone de uma hora e 45 minutos com o presidente francês, Emmanuel Macron, Putin negou que seu exército "tem como alvo civis".

Putin disse que alcançará "seus objetivos" na Ucrânia "por negociação ou por guerra", afirmou Macron, que viu o líder russo como "muito determinado", informou a presidência francesa.

Mariupol - um porto estratégico no Mar de Azov - está há vários dias sob intenso cerco russo, sem energia elétrica, água e alimentos. O prefeito da cidade, Vadim Boitchenko, indicou em entrevista publicada no YouTube que "Mariupol já não existe" e que há milhares de feridos.

A queda deste porto representaria um ponto de virada na guerra porque permitiria à Rússia unir as tropas que avançam a partir da península da Crimeia - anexada por Moscou em 2014 - com as forças que entram no país a partir da região de Donbass, no leste.

Enquanto isso, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, denunciou que as tropas russas estão se preparando para bombardear Odessa, o principal porto da Ucrânia, onde vivem cerca de um milhão de pessoas. 

Zelensky também informou que os russos destruíram o aeroporto de Vinnytsia, no centro do país.

O Ministério da Defesa russo anunciou que havia destruído o aeródromo militar de Starokonstantinov, 130 quilômetros a nordeste de Kiev.

Desde que a usina nuclear de Zaporizhzhia - a maior da Ucrânia e da Europa - foi atacada em 4 de março, o medo da catástrofe se espalhou entre os países ocidentais, e as autoridades ucranianas alertaram a Organização Internacional de Energia Atômica (AIEA) que a usina estava sob controle russo.

Segundo as autoridades ucranianas, o único modo de comunicação com a usina é por celular, com ligações de qualidade ruim.

A situação fez o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, se mostrar "profundamente preocupado" com a "deterioração da situação das comunicações vitais entre a entidade reguladora e a central".

"Corpos por todos os lados"
Mais ao norte, em Kiev, os bairros operários nas proximidades da capital, como Bucha e Irpin, já estão na linha de fogo e os últimos ataques aéreos convenceram muitos moradores de que chegou o momento de fugir. 

"Eles estão bombardeando áreas residenciais, escolas, igrejas, prédios, tudo", lamentou a contadora Natalia Didenko.

Em Bilohorodka, quase no limite da capital, as tropas ucranianas colocaram explosivos na última ponte que permanece de pé para tentar frear a ofensiva russa.

"Esta é a última ponte, vamos nos defender e não vamos permitir que cheguem a Kiev", afirmou um combatente que se identificou apenas como "Casper". 

Em Chernihiv, uma cidade próxima da fronteira com Belarus e Rússia, dezenas de civis morreram.

"Havia corpos por todos os lados. As pessoas estavam esperando para entrar na farmácia aqui e estão todas mortas", disse à AFP um homem que pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome, Serguei, em meio ao barulho das sirenes de alerta. 

Correspondentes da AFP observaram cenas de devastação no local, apesar de Moscou insistir que não ataca áreas civis.

Moscou colocou suas perdas em 498 soldados russos na quarta-feira, em comparação com 2.870 no lado ucraniano. Kiev afirmou no domingo ter matado 11.000 soldados russos, sem divulgar suas perdas militares. Números impossíveis de verificar de forma independente.

A ONU, por sua vez, confirmou a morte de 351 civis e mais de 700 feridos.

Para o alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, o exílio forçado de 1,5 milhão de pessoas do país representou "a crise de refugiados mais rápida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial". Mais de um milhão de pessoas cruzaram a fronteira da Ucrânia para a Polônia desde o início da invasão.

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