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Saúde

Cloroquina: estudo que popularizou o medicamento como tratamento para Covid-19 é despublicado

Artigo realizado pelo médico francês Didier Raoult e colegas foi retratado por motivos éticos e científicos

Cloroquina e hidroxicloroquina foram usados como medicamento contra Covid-19 durante a pandemiaCloroquina e hidroxicloroquina foram usados como medicamento contra Covid-19 durante a pandemia - Foto: Gerard Julien / AFP

O artigo que despertou entusiasmo generalizado sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina como tratamento para a Covid-19 foi despublicado nesta terça-feira (12), segundo informações da Science. Esse tipo de recurso, chamado retratação, é utilizando para sinalizar artigos que são tão falhos que seus resultados e conclusões não são mais confiáveis.

O trabalho foi originalmente publicado em 2020 na revista científica International Journal of Antimicrobial Agents pelo médico francês Didier Raoult, então diretor do Hospital Institute of Marseille Mediterranean Infection (IHU). A retratação da publicação ocorre após anos de campanha de cientistas que alegaram que a investigação continha falhas científicas importantes e poderia ter violado os regulamentos éticos.

No artigo, os pesquisadores afirmavam que o tratamento com hidroxicloroquina, um medicamento originalmente utilizado contra malária, reduziu os níveis da carga viral em pacientes com Covid-19. Eles afirmavam também que o medicamento era ainda mais eficaz contra a doença que causada uma pandemia histórica se usado junto com o antibiótico azitromicina.

Imediatamente, pesquisadores do mundo todo levantaram preocupações sobre o artigo, observando o tamanho da amostra de apenas 36 pacientes e a velocidade de publicação: o artigo foi publicado apenas quatro dias após ter sido submetido. Até que estudos maiores e mais rigorosos realizados posteriormente mostraram que a hidroxicloroquina não era eficaz para o tratamento da Covid-19.

Desde sua publicação até a retratação, críticos do artigo apontaram problemas éticos e metodológicos. O aviso de retratação publicado nesta terça afirma que a Elsevier e a Sociedade Internacional de Quimioterapia Antimicrobiana, co-proprietária da revista, decidiram retratar o artigo por questões éticas, “bem como por preocupações levantadas pelos próprios três autores em relação à metodologia e conclusão do artigo”.

Segundo informações da Science, uma investigação realizada pela Elsevier não conseguiu estabelecer se os investigadores tinham obtido aprovação ética para o estudo antes de recrutar os pacientes, nem se os pacientes tinham dado consentimento para serem tratados com azitromicina.

Até o momento, 32 artigos publicados por autores da IHU foram retratados, 28 deles em coautoria de Raoult, e 243 apresentam expressões de preocupação. Em outubro deste ano, Raoult teve o registro da medicina cassado. Ele não poderá mais exercer medicina a partir de 1 de fevereiro de 2025. A sanção terá a duração de dois anos.

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