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Colapso das correntes do Atlântico está mais próximo, diz estudo Que desastres isso causaria?

Esse intervalo, porém, é bem menos do que os séculos de distância que eram projetados para um fenômeno desse tipo

AtlânticoAtlântico - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Um colapso das correntes oceânicas do Atlântico, que pode levar grandes partes da Europa a uma intensa onda de frio, parece um pouco mais provável e próximo do que antes, na medida em que uma nova simulação computacional identifica um ponto de inflexão "abrupto" se aproximando no futuro.

Um cenário há muito temido, desencadeado pelo derretimento da camada de gelo da Groenlândia por causa do aquecimento global, ainda está a algumas décadas de ocorrer. 

Esse intervalo, porém, é bem menos do que os séculos de distância que eram projetados para um fenômeno desse tipo, como mostra novo estudo publicado na revista Science Advances nesta sexta-feira, 9.

"Estamos nos aproximando (do colapso), mas não temos certeza de quão mais perto", disse o autor principal do estudo, Rene van Westen, um cientista climático e oceanógrafo da Universidade de Utrecht, na Holanda. "Estamos caminhando em direção a um ponto de inflexão."

A pesquisa, a primeira a usar simulações complexas e incluir múltiplos fatores, utiliza uma medição chave para rastrear a força da circulação oceânica geral vital, que está desacelerando

Um colapso da corrente - chamada Circulação Meridional do Atlântico ou AMOC - mudaria o clima mundial. Isso porque significaria o desligamento de uma das principais forças do clima e do oceano. Isso reduziria as temperaturas no noroeste da Europa entre 5ºC a 15ºC ao longo das décadas e estenderia o gelo do Ártico muito mais ao sul.

Uma transformação desse tipo também aumentaria ainda mais o calor no Hemisfério Sul, mudaria os padrões de chuva globais e perturbaria a Amazônia, conforme a pesquisa. Outros cientistas afirmam que teria potencial de causar escassez de alimentos e água em todo o mundo.

A AMOC faz parte de um complexo sistema transportador global de correntes oceânicas que movem diferentes níveis de sal e água quente ao redor do globo, em diferentes profundidades e padrões, que ajudam a regular a temperatura da Terra, absorver dióxido de carbono e impulsionar o ciclo da água, conforma a agência espacial americana, a Nasa.

Quando a AMOC se desliga, há menos troca de calor em todo o mundo. Durante milhares de anos, os oceanos da Terra dependeram de um sistema de circulação que funciona como um cinto transportador. Ele ainda está em movimento, mas desacelerando.

O motor deste cinto transportador fica na costa da Groenlândia, onde, na medida em que mais gelo derrete por causa da mudança climática, mais água doce flui para o Atlântico Norte e desacelera tudo, disse van Westen. No sistema atual, água fria mais profunda e mais fresca segue para o sul, passando pelas Américas e depois para o leste, passando pela África.

Enquanto isso, a água do oceano mais quente e mais salgada, vinda dos oceanos Pacífico e Índico, passa pela ponta sul da África, vira e contorna a Flórida e continua subindo pela Costa Leste americana até a Groenlândia.

Sensores robóticos flutuantes
Nas últimas décadas, pesquisadores têm utilizado redes de sensores robóticos flutuantes para observar o oceano em tempo real. Na medida em que esses sensores derivam com as correntes e nadam pela coluna de água, coletam informações sobre a temperatura e a salinidade do oceano e as enviam para satélites, que então transmitem as informações para cientistas ao redor do mundo.

Essas observações revelaram um estranho ponto de resfriamento na extremidade sul da Groenlândia - um dos únicos lugares do planeta onde o oceano não está ficando mais quente. Isso sugere que o AMOC não está entregando tanta água quente para o Atlântico Norte e indica que o sistema está desacelerando.

Outros estudos combinaram observações diretas com simulações computacionais para concluir que o AMOC já enfraqueceu cerca de 15% desde a década de 1950.

No novo trabalho, os pesquisadores descobriram que a quantidade de água doce movimentada na porção mais meridional do Atlântico era um bom indicador da força do sistema de retroalimentação que alimenta o AMOC.

Quando essa métrica era positiva, significava que o sistema estava se reforçando. Mas quando a equipe examinou dados do mundo real, descobriu que sua medida de transporte de água doce era negativa.

"Este valor está ficando mais negativo sob a mudança climática", disse van Westen. Quando atinge certo ponto, não é uma parada gradual, mas algo "abrupto", alerta.

A equipe holandesa simulou 2,2 mil anos de seu fluxo, adicionando o que a mudança climática causada pelo homem faz a ele. Eles encontraram, após 1.750 anos, "colapso abrupto da AMOC", mas até agora não conseguem traduzir essa linha do tempo simulada para o futuro real da Terra.

Catástrofes à vista

Quando essa calamidade climática global - retratada, de forma grosseira, no filme O Dia Depois de Amanhã - pode acontecer é "a pergunta de US$ 1 milhão, que infelizmente não podemos responder no momento", afirmou van Westen.

Para ele, é provável que esteja a um século de distância, mas o pesquisador não descarta estar vivo para ver esse problema se instalar na Terra - van Westen acabou de completar 30 anos. "Isso também depende da taxa de mudança climática que estamos induzindo como humanidade", apontou.

Estudos mostraram que a AMOC está desacelerando, mas a questão é sobre um colapso ou desligamento completo. O IPCC, grupo de centenas de cientistas que fornece atualizações regulares sobre o aquecimento global para as Nações Unidas, diz ter confiança média de que não haverá um colapso antes de 2100. Mas isso não é um consenso na comunidade científica.

Stefan Rahmstorf, chefe de Análise de Sistemas Terrestres no Instituto Potsdam para Pesquisa de Clima na Alemanha, chama a pesquisa de "grande avanço na ciência da estabilidade" do sistema de correntes oceânicas do Atlântico.

"O estudo acrescenta significativamente à crescente preocupação sobre um colapso da AMOC no futuro não tão distante", observou ele, que não está envolvido no estudo.

O cientista climático da Universidade de Exeter, no Reino Unido, Tim Lenton, também se mostrou preocupado. Segundo ele, os efeitos seriam "tão abruptos e severos que seriam quase impossíveis de se adaptar em alguns locais".

Mas na opinião de Joel Hirschi, líder de divisão no Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, há preocupações mais urgentes do que essa.

"As temperaturas rapidamente crescentes que temos visto nos últimos anos, e os extremos de temperatura associados, são de maior preocupação imediata do que o desligamento da AMOC", disse Hirschi. "O aquecimento não é hipotético: já está acontecendo e impactando a sociedade agora." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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