"Colmeia aérea": Acidente de avião e helicóptero em Washington ocorreu em espaço congestionado
Agitações nos céus e nas pistas de pouso e decolagem do aeroporto Reagan, de pistas curtas, levanta preocupações há anos
O espaço aéreo das imediações do Aeroporto Nacional Ronald Reagan onde, na noite desta quarta-feira, um avião se chocou com um helicóptero militar, é um das mais desafiadores para pilotos nos Estados Unidos. A área de sobrevoo sobre o rio Potomac é congestionada por aeronaves comerciais, como a da PSA Airlines, que levava 64 pessoas de Wichita, Kansas, até a capital americana, e por helicópteros do Exército e da Guarda Costeira do país.
Pousos e decolagens são compartilhados pelos jatos civis e militares, sob as orientações de um sistema de controle considerado sofisticado, revestido de "camadas de procedimentos" e salvaguardas eletrônicas contra acidentes como o de hoje.
O acidente ocorreu num dos corredores aéreos de operação sensível nos Estados Unidos, considerada a proximidade da Casa Branca, do Capitólio, do Pentágono e outras instalações militares e civis. Além do Reagan e das bases militares, a região de D.C. tem outros dois aeroportos grandes, 11 terminais regionais e 55 heliportos.
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Apesar do controle aéreo, o congestionamento nos céus e nas pistas do aeroporto da capital levanta preocupações há anos, conforme reportou o jornal Washington Post. Com tráfego pesado e pistas consideradas curtas, o terminal foi construído para receber anualmente 15 milhões de passageiros — hoje, porém, opera para mais de 25 milhões deles todos os anos.
Helicópteros do Exército e da Guarda Costeira costumam voar baixo ao longo do rio Potomac, na rota em que aviões comerciais decolam do aeroporto ou taxiam na aproximação de pouso. Especialistas ouvidos pelo Washington Post apontam que pilotar pelo espaço aéreo é complexo e exige o melhor estado psicofísico dos comandantes.
— É uma colmeia de atividade — disse Dennis Tajer, piloto da American Airlines e porta-voz da Allied Pilots Association, sindicato de pilotos da companhia. — É extremamente compacto e tem um alto volume de tráfego.
Especialistas e investigadores tentam entender por que o helicóptero e o avião se chocaram no ar. O acidente indica que as salvaguardas estabelecidas pelo controle aéreo falharam, ainda que em parte. Os militares a bordo do Black Hawk confirmaram à torre ter visto o avião da PSA Airlines, mas não mantiveram a devida "separação visual".
Uma investigação sobre as causas da batida está em curso e deve colocar sob escrutínio o pesado tráfego aéreo da capital, as comunicações entre pilotos e controladores e as respostas da indústria e ao governo a situações que, antes desta quarta-feira, quase geraram acidentes pelo país.
Segundo o Washington Post, helicópteros em Washington costumam voar por rotas que seguem o curso de rios. São espécies de "corredores" em que têm autorização para voar baixo. Pelos dados iniciais da tragédia, o Black Hawk envolvido no acidente parecia estar próximo a uma dessas rotas, na margem leste do rio Potomac. No entanto, ainda não se sabe como as rotas e as altitudes da aeronave comercial e do veículo militar puderam se cruzar.
Especialistas também apontam que os investigadores deverão determinar por que o Sistema de Alerta de Tráfego e Prevenção de Colisões, ou TCAS, não evitou a colisão. O equipamento envia alertas verbais automatizados para os pilotos, em caso de batida iminente.
Não se sabe se os pilotos da PSA Airlines receberam algum aviso ou mesmo se o TCAS foi capaz de detectar a aproximação do Black Hawk numa altitude tão baixa. O sistema é calibrado para enviar menos alertas conforme o avião se aproxima do pouso, para evitar distrair a tripulação.