Colômbia e ELN definem 'zonas críticas' de conflito para ações humanitárias
Os avanços nos diálogos foram comemorados pelo governo
O governo da Colômbia e a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) acordaram, nesta segunda-feira (4), ao completar um mês da trégua, estabelecer "zonas críticas" em regiões afetadas pelo conflito armado que, segundo os insurgentes, têm "estado sob ataque".
"Demos ênfase a algumas zonas críticas", disse o líder guerrilheiro Pablo Beltrán na cerimônia de encerramento das negociações em Caracas, que serão retomadas no México em data a definir.
"É onde mais tem havido embates contra as comunidades e estamos tentando honrar um critério adotado nesta mesa, que é o que for acordado, será implementado", acrescentou.
Os avanços nos diálogos foram comemorados pelo governo. "Alcançamos novos acordos que nos aproximam muito mais da paz desejada por todos e todas", disse o representante do Executivo, Otty Patiño.
Segundo o texto lido durante o evento, o acordo alcançado em Caracas "estabelece princípios e abordagens com os quais esperamos que a cessação [das hostilidades] cumpra seu propósito humanitário".
Além disso, declara o Baixo Calima e San Juan, no Vale do Cauca (leste), um dos focos do conflito, como "zonas críticas" e propõe outras regiões para acrescentar a esta denominação.
"Ali serão antecipadas ações e dinâmicas humanitárias, garantias para o cumprimento do cessar-fogo bilateral, nacional e temporário, a participação das comunidades no processo de paz e projetos de desenvolvimento social, que vão contar com o acompanhamento do Departamento Nacional de Planejamento", acrescentou o texto.
"Nas próximas semanas, as delegações irão para os territórios desenvolver atividades relativas ao cessar-fogo bilateral, à participação da sociedade nos processos de paz e ao desenvolvimento da pedagogia social de todos e destes assuntos", detalhou.
O ELN, com 5.851 membros, segundo dados de inteligência de 2022, se tornou a organização armada de esquerda mais antiga das Américas depois do desarmamento da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), em 2017.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, que completa um ano no poder, retomou as negociações com esta guerrilha guevarista em novembro de 2022, depois de terem sido suspensas por seu antecessor, Iván Duque (2018-2022), após um atentado que deixou cerca de 20 policiais mortos em um centro de treinamento.
"Obstáculos ao processo"
A trégua com verificação da ONU foi acordada no ciclo anterior de diálogos, celebrado em Havana, e entrou em vigor em 3 de agosto.
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"Temos que constatar que o cessar-fogo tem estado sob ataque", disse Beltrán. "Tem havido uma campanha midiática intensa da grande imprensa, das grandes empresas de comunicação, tentando colocar obstáculos a este processo".
"Também tem havido ataques impiedosos a comunidades que tentam desenvolver uma observação social deste cessar-fogo e de participar das diferentes atividades que o processo de paz busca integrar todos os setores", acrescentou.
"A avaliação que nós fazemos destes ataques, tanto os midiáticos quanto os ataques militares no terreno, é que obedecem a setores que estão contentes com a crise estrutural que o país vive e não querem que haja mudanças para uma democratização", emendou.
Petro também dialoga com dissidentes das Farc que não depuseram as armas ou as retomaram, responsáveis por ataques recentes que mataram quatro policiais no Cauca, sudoeste da Colômbia.
O presidente negocia igualmente com grupos paramilitares e gangues.
No começo de agosto, a mesa de diálogo com o ELN foi ofuscada por uma denúncia da Procuradoria sobre um suposto plano da guerrilha de assassinar o chefe do Ministério Público, Francisco Barbosa.
A guerrilha negou a acusação e disse que se tratou de uma sabotagem aos diálogos.