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Colômbia envia aviões aos EUA para transportar deportados após atrito com Trump

Aeronaves decolaram de Bogotá rumo às cidades americanas de San Diego (Califórnia) e Houston (Texas)

Força Aérea Colombiana prepara Boeing 737-700 para voo até San Diego, na Califórnia, que buscará cidadãos deportados pelos EUA Força Aérea Colombiana prepara Boeing 737-700 para voo até San Diego, na Califórnia, que buscará cidadãos deportados pelos EUA  - Foto: Força Aeroespacial Colombiana / AFP

A Colômbia anunciou, nessa segunda-feira, a decolagem de dois aviões militares rumo aos Estados Unidos para transportar dezenas de colombianos deportados, após superar as tensões diplomáticas com o governo de Donald Trump.

Os aviões decolaram de Bogotá rumo às cidades americanas de San Diego (Califórnia) e Houston (Texas), informou a Força Aérea colombiana, na rede X.

"Na madrugada, nossos compatriotas vão chegar a território colombiano. Serão trazidos por nossa aviação e vão chegar sem algemas", indicou o presidente Gustavo Petro.

No domingo, o governo de Trump voltou atrás em uma série de sanções que planejava impor à Colômbia após a recusa de Petro a permitir a entrada de voos militares com migrantes deportados.

 

Depois de horas de tensão, Bogotá aceitou os termos da política de Trump e encerrou uma disputa que subia de tom com o passar das horas. A preocupação do governo colombiano era o respeito à "dignidade" dos deportados.

"Esta disposição: dignidade para o deportado, será colocada a todos os países que nos enviem deportações, e é apoiada hoje pela ONU", insistiu nesta segunda o mandatário colombiano.

Trump, por sua vez, gabou-se de uma relativa vitória nesta segunda e garantiu que "os Estados Unidos são respeitados de novo".

"Como viram ontem, deixamos claro para todos os países que [...] vamos enviar os criminosos, os estrangeiros ilegais que vêm de seus países", assegurou o mandatário diante de congressistas republicanos em Miami.

"E vão aceitá-los de volta rapidamente. Se não o fizerem, vão pagar um preço econômico muito alto, e vamos implementar de imediato tarifas maciças e outras sanções", acrescentou.

Entrevistas canceladas
Tudo começou com uma mensagem de Petro no X, na madrugada de domingo. Depois, as redes sociais se tornaram o campo de batalha entre os dois presidentes.

"Estivemos à beira de uma situação muito crítica", admitiu, em entrevista à Blu Radio, nesta segunda-feira, o embaixador da Colômbia em Washington, Daniel García-Peña.

Houve "momentos um tanto agudos dos dois lados, mas o canal de comunicação sempre esteve aberto", acrescentou.

O incidente foi o primeiro enfrentamento entre Petro e Trump, que tomou posse em 20 de janeiro prometendo uma política de linha-dura contra a migração irregular.

Em meio à disputa, Trump anunciou a adoção de tarifas alfandegárias sobre as importações vindas da Colômbia e a embaixada americana em Bogotá suspendeu a expedição de vistos.

Na manhã desta segunda-feira, dezenas de pessoas faziam fila do lado de fora da representação diplomática na capital colombiana para pedir informação sobre os pedidos de visto. Segundo o testemunho de alguns afetados, receberam um e-mail na véspera informando que suas entrevistas tinham sido canceladas.

- Desde ontem [domingo] que soube da notícia, minha vida mudou. Não sei o que fazer - disse à AFP Milena González, uma dona de casa de 53 anos.

Janet López, empreendedora colombiana de 56 anos, também aguardava uma resposta para poder visitar sua irmã nos Estados Unidos. - Estamos nisso há mais de três anos e o nosso desejo é ir passear, conhecer o país - explicou.

Segundo o embaixador García, "assim que [os deportados] aterrissassem", as autoridades americanas "tomariam as medidas para resolver o assunto dos vistos".

Deportações
Os Estados Unidos são o principal parceiro comercial da Colômbia e suas forças militares cooperam há décadas na luta contra guerrilhas e cartéis de drogas.

As ameaças de Trump de deportar milhões de pessoas tensionaram sua relação com os governos da América Latina, de onde vem a maioria dos cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos.

O governo brasileiro convocou nesta segunda o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos para pedir explicações sobre o tratamento "degradante" dado aos deportados que chegaram ao Brasil na sexta-feira.

Por sua vez, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, comemorou nesta segunda-feira o acordo alcançado entre Bogotá e Washington para que as tarifas não sejam aplicadas. "Nem tarifas nem outros mecanismos são bons", afirmou.

Na mesma linha, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, disse estar "feliz em ver que a Colômbia e os Estados Unidos" superaram "suas diferenças".

"A cooperação é sempre muito mais poderosa que o confronto", acrescentou o chanceler espanhol.

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