Colômbia reativa mandados de prisão contra líderes da guerrilha do ELN; foram 80 mortes
Ministério Público justifica decisão com base em no "cometimento de novos crimes por membros do ELN" depois de escalada na violência; presidente fala em "fracasso"
Os líderes da guerrilha do ELN voltaram à condição de fugitivos da Justiça nesta quarta-feira (22), após o Ministério Público colombiano reativar ordens de prisão contra eles, como consequência de um violento ataque que deixou dezenas de mortos e foi classificado como um ato de "crueldade" pelo governo.
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Mais de 30 rebeldes, entre eles "Pablo Beltrán", "Antonio García" e "Gabino", os principais líderes, podem ser capturados no país, que enfrenta uma das piores crises humanitárias e de segurança em mais de uma década.
Na quinta-feira passada, o Exército de Libertação Nacional (ELN) realizou um ataque na região de Catatumbo, na fronteira com a Venezuela, contra a população civil e dissidentes das Farc que não aceitaram o acordo de paz de 2016.
O saldo até o momento é de mais de 80 mortos e pelo menos 32 mil deslocados.
O ministro do Interior, Juan Fernando Cristo, afirmou diretamente da cidade de Ocaña, localizada na região do ataque realizado pela guerrilha, que o objetivo do ELN era tomar a fronteira e as rotas do narcotráfico entre os dois países.
Cristo, que classificou o ataque como "brutal", adiantou que o governo está prestes a emitir medidas sobre segurança e outras questões do "estado de comoção interna" declarado pelo presidente de esquerda Gustavo Petro.
O MP havia suspendido os mandados de prisão contra o ELN entre 2022 e 2023 como parte das negociações de paz, agora suspensas por decisão do mandatário colombiano.
Crianças deslocadas
A quantidade de deslocados nos últimos seis dias é inédita desde que as Farc depuseram as armas.
A maior parte está concentrada em estádios e outros locais esportivos na cidade de Cúcuta, capital do departamento de Norte de Santander, e Ocaña.
Até esta cidade chegou a indígena wayúu Zilenia Pana, de 48 anos, que fugiu com seus pequenos filhos de 8 e 13 anos.
Quando os confrontos se intensificaram em uma área rural de El Tarra, ela conseguiu apenas colocar algumas roupas em uma bolsa e fugir.
"Rezamos para que tudo se acalme, para voltarmos às nossas casas com nossos filhos, com a família. Isso é o que queremos e o que pedimos a essas pessoas [os guerrilheiros] de coração", disse ela à AFP em um abrigo.
Astrid Cáceres, diretora da entidade estatal que protege os direitos dos menores (ICBF), afirmou à AFP que entre 35% e 40% dos deslocados são crianças e adolescentes.
Além disso, "pode haver" menores de idade entre os mortos, acrescentou.
O Ministério da Defesa informou sobre mais de 5.500 pessoas confinadas em suas casas.
As autoridades de Catatumbo não conseguiram realizar patrulhas devido à presença de combatentes da organização de extrema-esquerda nas estradas.
"Descumprimento"
O Ministério Público considera que o ataque dos rebeldes de inspiração guevarista constitui um "descumprimento das condições para a suspensão" dos mandados judiciais contra eles.
Em agosto de 2022, poucos dias após assumir o poder, o presidente Petro pediu ao MP que suspendesse os mandados de prisão contra 18 líderes do ELN, entre eles o principal negociador de paz, Pablo Beltrán.
Um segundo grupo de líderes, incluindo o comandante militar Antonio García, se beneficiou da mesma medida em 2023.
A retomada das negociações é uma incógnita. A localização dos líderes do ELN também não está clara, embora tenham participado de algumas negociações em Havana e Caracas.
"Controle brutal"
O enviado especial da ONU para a Colômbia, Carlos Ruiz Massieu, afirmou nesta quarta-feira, perante o Conselho de Segurança da ONU em Nova York, que o "vácuo da presença estatal" em áreas remotas facilita o "controle territorial e social".
"Não devemos desanimar, não devemos desistir da paz", declarou à imprensa o chanceler colombiano Luis Gilberto Murillo após a reunião do Conselho na sede da ONU.
A violência coloca em risco a aposta do governo de alcançar o desarmamento de todos os grupos guerrilheiros da Colômbia, uma iniciativa conhecida como "paz total".
Também nesta quarta, a diretora para as Américas da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), Juanita Goebertus, assegurou, em uma declaração enviada à imprensa, que "a crise de Catatumbo deveria ser um chamado de atenção para a administração de Petro", cuja proposta de paz total, aliada à "falta de políticas eficazes de segurança e justiça, permitiram aos grupos armados expandir sua presença e seu controle brutal" em comunidades rurais ao longo de todo o país.