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EUA

Com apoio de Trump e "suspense", Mike Jonhson é reeeleito para a presidência da Câmara

Republicanos terão a menor margem de manobra em mais de 100 anos na Casa, exigindo uma coesão da bancada que, hoje, parece longe da realidade

Presidente da câmara dos Deputados dos EUA, Mike Johnson (D), antes de votação para a liderança da Casa Presidente da câmara dos Deputados dos EUA, Mike Johnson (D), antes de votação para a liderança da Casa  - Foto: Win McNamee/AFP

No primeiro dia de trabalho da nova legislatura do Congresso americano, as duas Casas — Câmara e Senado, comandadas pelos republicanos — definiram seus novos ou velhos líderes. Entre os senadores, John Thune não teve problemas para ser confirmado líder da maioria. Já entre os deputados, Mike Johnson enfrentou dissidências e precisou do apoio de última hora do presidente eleito, Donald Trump, além de uma dose de suspense, para se manter no posto. Mas as concessões ocorridas nos bastidores podem lhe causar problemas no futuro.

Com a menor maioria em quase 100 anos, 220 republicanos contra 215 democratas, Johnson precisava conter as muitas desavenças internas. E a margem era mínima: para que fosse confirmado no cargo, eram necessários 218 votos. Um deputado, Matt Gaetz, disse que não assumiria seu mandato, reduzindo a maioria para apenas quatro cadeiras, o que permitiria a Johnson perder apenas um voto em seu partido, considerando que nenhum democrata lhe daria apoio.

Ao final da votação inicial, ele recebeu 216 votos, contra 215 do candidato democrata, Hakeem Jefrries, líder do partido. Três deputados escolheram outros nomes, mas após cerca de uma hora de deliberações, dois dos rebeldes — Ralph Norman e Keith Self — anunciaram à mesa que mudariam seus votos, completando o número necessário para a confirmação.

Durante a votação nominal, sete republicanos não responderam à primeira chamada, preferindo declarar seu apoio ao final do processo, acrescentando um certo suspense à sessão — todos votaram em Johnson. Thomas Massie, que havia declarado que votaria contra o candidato de Trump, cumpriu a promessa e não trocou de voto posteriormente.

Ao longo das últimas semanas, Johnson foi obrigado a fazer numerosas concessões, como dar aos deputados pautados pela austeridade fiscal maior controle sobre a tramitação das emendas, assim como sobre cortes de gastos na administração pública. Isso pode lhe causar problemas futuros, uma vez que alguns desses compromissos podem atrapalhar os planos da ala mais extrema do partido para aprovar medidas ligadas à imigração — incluindo a promessa de deportação em massa de Trump —, proteção da fronteira e sobre cortes de impostos.

Há ainda uma disputa por cargos em comissões, com os trumpistas mais radicais buscando postos de comando em comissões como a de Regras, que delibera sobre como os projetos serão encaminhados ao plenário. Não se sabe o que Johnson prometeu aos dois rebeldes para convencê-los a abandonar as resistências.

— Mais de 14 meses atrás, Mike Johnson assumiu uma tarefa assustadora. Nenhum orador é perfeito e ninguém jamais será. No entanto, atingir a perfeição requer ganhos incrementais e decisões difíceis ao longo do caminho — afirmou a deputada Lisa McClain, ao apresentar a candidatura de Johnson na abertura da sessão.

Com uma margem tão pequena, e com divergências tão abertas, o risco de uma batalha prolongada pelo comando da Casa não era apenas uma questão de escolha interna dos deputados, mas também uma ameaça à transição de poder para Donald Trump. Na segunda-feira, os votos do Colégio Eleitoral serão confirmados pelo Congresso, e lideranças parlamentares, dos dois partidos, disseram que isso poderia não acontecer no prazo determinado se a Câmara não tivesse um presidente.

Na segunda-feira, Trump pareceu deixar de lado suas desavenças com Johnson, a quem chegou a criticar publicamente, e endossou sua candidatura, prometendo, “se necessário”, telefonar para alguns deputados rebeldes, algo que parece ter acontecido ao final da primeira votação.

— Acho que o presidente se sairá muito bem. Ele é um bom homem. Ele é um indivíduo muito bom, ele é religioso, ele é inteligente, ele é forte. Todo mundo gosta dele. Todo mundo o respeita — disse Trump, em entrevista à CNN nesta sexta-feira. — Estou apenas dizendo, “Vejam, nós tivemos a melhor eleição presidencial. Nós vencemos o voto popular por milhões de votos. Nós tivemos uma ótima eleição, e seria bom consolidar a eleição com uma eleição aqui”.

Além de tentar evitar a caótica eleição de Kevin McCarthy, antecessor de Johnson, que só foi confirmado após 15 rodadas de votação (Johnson foi eleito em um processo igualmente confuso, após quatro votações), Trump queria manter o mínimo de coesão dias antes de chegar ao cargo com uma agenda complexa. Uma confusão até certo ponto inédita antes do início de seu segundo mandato seria, na visão de analistas, a pior maneira de começar um governo que, apesar da vitória nas urnas, tem pouco tempo para mostrar resultados.

Afinal, daqui a dois anos toda a Câmara e parte do Senado serão renovados nas eleições de meio de mandato, um ciclo eleitoral que muitas vezes não é benéfico ao governo de ocasião.

— O presidente tem quatro anos [de mandato], mas na realidade ele tem apenas de 12 a 14 meses — disse ao portal Politico o deputado republicano Ralph Norman.

Vale pontuar que, no ano passado, Johnson foi salvo pelos democratas em ao menos duas ocasiões.

Em maio, após uma moção da deputada republicana Marjorie Taylor Greene para afastá-lo da liderança da Casa, os governistas votaram para derrubar a resolução. Em dezembro, em um dos momentos mais dramáticos de sua presidência, um acordo para financiar o governo federal até março foi aprovado (com os votos dos democratas e mais de 30 dissidências republicanas) a poucas horas do fim do prazo, depois de Trump afundar um plano previamente negociado. O impasse serviu ao presidente eleito como um exemplo dos limites de seu poder, e pôs em xeque a ideia de que o Partido Republicano está completamente ao seu dispor e irá seguir todas suas ordens.

Mas as lideranças democratas deixaram avisado que não socorreriam Johnson mais uma vez.

— Eu pensei várias vezes que ajudaria Johnson em uma votação difícil para presidente porque ele foi fiel à sua palavra mesmo em tempos difíceis — disse um deputado democrata, que não quis se identificar, ao portal Axios, em dezembro. — Isso mudou completamente agora. Confiança é tudo o que temos nessas negociações. Eu achava que Johnson era realmente diferente. Ele não é melhor do que McCarthy. Ele não está recebendo ajuda minha e sei que muitos dos meus colegas sentem o mesmo.

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