ARGENTINA

Com comitiva esvaziada, Fernández participa de cúpula do Mercosul três dias antes de deixar cargo

Presidente passará o cargo para o ultraliberal Javier Milei no próximo dia 10; a Argentina é a segunda maior economia do bloco econômico sul-americano e detém 40% do comércio intrazona.

O presidente Lula e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, durante a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados O presidente Lula e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, durante a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados  - Foto: AFP

Às vésperas de encerrar seu mandato como presidente, Alberto Fernández viajou ao Rio de Janeiro nesta quinta-feira para participar da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, que será sua última à frente da Argentina. O ultraliberal Javier Milei, eleito com 55,7% dos votos no segundo turno, será empossado no domingo para um mandato de quatro anos.

Fernández chegou ao Museu de Arte do Rio por volta das 11h30, acompanhado de uma comitiva esvaziada. Ele foi recebido pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que o cumprimentou de forma bastante calorosa. Fernández e Lula são amigos de longa data — em 2019, quando ainda era candidato à presidência, o argentino chegou a visitar o líder brasileiro na prisão.

A Argentina é a segunda maior economia do bloco econômico sul-americano e detém 40% do comércio intrazona. Antes de embarcar para o Brasil, Fernández aceitou a renúncia de todo o seu Gabinete, que é o último passo para administrativo para deixar o Executivo, e se despediu da Casa Rosada.

— Tenho a tranquilidade de ter me dedicado ao máximo [durante o governo] — disse Fernández.

Na abertura da reunião, Lula lamentou a saída de Fernández do cargo, a quem chamou "companheiro" e afirmou ter uma "relação de amizade". O líder brasileiro também agradeceu pela visita do argentino à sede da Polícia Federal, em Curitiba, enquanto ainda estava preso.

— É com muita tristeza [que nos despedimos de você hoje]… mas eu sei o papel muito importante que você jogou durante o seu governo (...) Temos que te agradecer pela preservação do legado da Celac e da Unasul — disse Lula.
 

A Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) foram deixados de lado sob a gestão de Jair Bolsonaro, contrário à presença do Brasil num bloco que considerava um projeto ideológico da esquerda latino-americana. Lula voltou às organizações assim que voltou ao cargo da Presidência.

Expectativas
O encontro da cúpula marca o encerramento da presidência temporária do Brasil no bloco, que se estendeu ao longo do segundo semestre deste ano, e dá início à presidência paraguaia e coincide com uma escalada da tensão entre Venezuela e Guiana pela disputada região de Essequibo, rica em petróleo, e que levou o Exército brasileiro a reforçar a sua presença militar na fronteira com os dois países vizinhos. A expectativa é de que a Cúpula de Líderes do Mercosul seja usada como um local oportuno para pressionar o regime de Nicolás Maduro.

Também está prevista para esta quinta-feira a assinatura do acordo de livre comércio com Cingapura, que será o primeiro acordo do tipo do Mercosul em mais de dez anos e o primeiro com um país asiático. O tratado com Cingapura envolve não apenas o comércio de mercadorias, mas favorece também investimentos, fluxos de tecnologia, serviços, movimento de pessoas e segurança jurídica.

A assinatura do acordo, porém, tem um gosto amargo, depois de não ter fechado as negociações com a União Europeia. Durante o encontro, os chefes de Estado do Mercosul também receberão a Bolívia como membro pleno, após uma espera de oito anos pela aprovação dos parlamentos dos demais países.

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