Com eficácia de 47%, vacina alemã contra Covid-19 falha em teste
"A eficácia final ainda pode mudar", alerta o CEO do laboratório, Franz-Werner Haas
Deveria ser a próxima vacina anticovid aprovada na Europa, com milhões de doses pré-encomendadas por Bruxelas: sem eficácia suficiente, segundo dados provisórios, o futuro do imunizante desenvolvido pelo laboratório alemão CureVac agora parece incerto.
Os primeiros resultados tão esperados têm um gosto amargo por esta empresa reconhecida como uma das pioneiras na tecnologia do RNA mensageiro.
A CureVac anunciou na quarta-feira à noite que sua principal vacina candidata contra a Covid-19 mostrou uma eficácia de apenas 47%, de acordo com a análise provisória de um ensaio clínico em grande escala, e não atendia aos critérios de desempenho exigidos nesta fase.
"A eficácia final ainda pode mudar", alerta o CEO do laboratório, Franz-Werner Haas, citado em nota à imprensa, que questiona principalmente as dificuldades enfrentadas pelo surgimento de variantes do coronavírus.
"Esperávamos resultados mais robustos na análise provisória, mas constatamos que é difícil alcançar alta eficácia com esta gama de variantes sem precedentes", acrescenta.
"Vamos continuar"
A empresa foi uma das primeiras a entrar na corrida da vacina e esperava lançar um imunizante de alto desempenho no mercado em maio ou junho deste ano, no máximo. "Vamos continuar com esta vacina, até termos uma avaliação final", disse Haas ao Handelsblatt esta manhã.
O CEO deve responder a perguntas de repórteres e analistas na parte da tarde. Se a eficácia final do produto não melhorar visivelmente, sua comercialização parece improvável, de acordo com especialistas.
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Os laboratórios BioNTech/Pfizer e Moderna, que foram os primeiros a obter o sinal verde de várias entidades reguladoras para a sua vacina, também baseada no princípio do RNA mensageiro, têm demonstrado uma eficácia da ordem dos 95%.
A eficácia das vacinas AstraZeneca e Johnson e Johnson está entre 60% e 70%.
A CureVac vem coletando dados nos últimos seis meses como parte da fase final de seus testes clínicos, com cerca de 40.000 voluntários na Europa e América Latina.
A eficácia foi avaliada em 134 casos de pacientes que contraíram Covid e mais 80 casos ainda precisam ser analisados, com resultados completos esperados em duas a três semanas.
Dos 124 casos sequenciados, apenas um era da cepa original do SARS-CoV-2, enquanto "mais da metade dos casos (57%)" foram causados por variantes consideradas preocupantes pela Organização Mundial da Saúde (OMS), informou CureVac.
Apoio público
A Comissão Europeia assinou um contrato com a empresa de biotecnologia Tübingen (sul da Alemanha) sobre a compra de 405 milhões de doses. Um procedimento de revisão contínua, à medida que os resultados são publicados, está em andamento com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
"Com a esperada baixa eficácia, mesmo que melhore um pouco na avaliação final, a vacina Curevac não será utilizável na Alemanha", declarou nesta quinta-feira Karl Lauterbach, especialista em questões de saúde do Partido Social Democrata, entrevistado pelo jornal Rheinische Post.
O contratempo do laboratório "não tem impacto no ritmo de nossa campanha de vacinação", comentou o ministério da Saúde alemão.
O efeito, porém, foi pesado sobre o preço da empresa, listada em Nova York, com perda de mais de 43% nesta quinta-feira na plataforma de negociação alternativa Tradegate.
Fundada em 2000, o principal acionista da CureVac é o bilionário alemão Dietmar Hopp, cofundador da gigante de software SAP e patrono do clube de futebol Hoffenheim.
Em junho de 2020, o governo alemão foi levado a assumir uma participação de 300 milhões de euros para adquirir 23% das ações do laboratório, após uma tentativa das autoridades americanas de obter direitos exclusivos para os Estados Unidos sobre uma potencial vacina.
O laboratório juntou forças com as gigantes farmacêuticas suíça Novartis e alemã Bayer para as fases de produção.
Ao mesmo tempo, está desenvolvendo as chamadas vacinas de segunda geração, levando em consideração as variantes, mas cujo desenvolvimento está menos avançado.