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Com eleição adiada após apagão, Macapá lida com 'humilhação' e protestos diários

TSE adiou pleito na capital do Amapá; líder nas pesquisas, irmão do presidente do Senado perdeu terreno em último levantamento

Técnicos do MME trabalham para restabelecer o abastecimento de energia elétrica no AmapáTécnicos do MME trabalham para restabelecer o abastecimento de energia elétrica no Amapá - Foto: Divulgação/Ministério de Minas e Energia

Os candidatos à Prefeitura de Macapá se viram obrigados a lidar com um novo e surpreendente elemento na disputa: a "humilhação" a que foram submetidos os eleitores em razão do apagão no Amapá desde o último dia 3.

A palavra é reiteradamente dita pelos moradores da capital amapaense para resumir o que sentem desde que ficaram no escuro.

O problema está longe de ser resolvido, a ponto de o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Amapá pedir ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o adiamento das eleições em Macapá, sem definição de uma nova data. O pedido foi aceito pela corte em Brasília.

A medida vale apenas para a capital. Nas outras 15 cidades do estado, a votação está prevista para ocorrer neste domingo (15).

Os primeiros dias sem energia e o posterior racionamento a que foram submetidos, com imprevisibilidade de horários em algumas regiões da cidade, provocaram a fúria dos moradores de Macapá.

A animosidade não se resume aos protestos, que seguem ocorrendo praticamente todas as noites, em distintos bairros da cidade. A reportagem presenciou diversas situações em que comunidades não aceitam a presença de cabos eleitorais.

É assim, por exemplo, nas chamadas áreas de ressaca, que são as extensões de alguns bairros sobre áreas de lago. Ao lado de estreitas pontes de madeira, favelas sobre a água foram erguidas. Um único bairro, Congós, tem 30 mil moradores vivendo nessas "baixadas". É muito frequente encontrar moradores refratários à presença de cabos eleitorais e distribuidores de santinhos.

Cabos eleitorais também não são bem recebidos em comunidades mais afastadas. São os casos, por exemplo, de comunidades quilombolas próximas ao núcleo urbano de Macapá.

O mau humor na cidade -para dizer o mínimo- é generalizado diante da falta de solução para o problema e dos transtornos com a falta de energia. Já são nove dias de apagão. O impacto na disputa eleitoral é inevitável, com a população buscando culpados para o problema no meio político.

A última pesquisa Ibope, feita dos dias 9 a 11 -ou seja, já durante o apagão- e divulgada nesta quarta (11), aponta uma possível alteração de cenários.

Josiel Alcolumbre (DEM), irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), lidera a disputa, com 26% dos votos válidos -que excluem brancos, nulos e indecisos. Mas esta liderança já foi maior.

Antes do apagão, conforme levantamento do Ibope divulgado em 28 de outubro, Josiel tinha 35% dos votos válidos.

O irmão de Davi é visto como o candidato que representa os atuais detentores do poder: estão com ele o presidente do Senado; o atual prefeito de Macapá, Clécio Luis (sem partido); e o governador do Amapá, Waldez Góes (PDT). Sobre este último, recaem as principais cobranças, na esfera estadual, sobre o apagão.

Os adversários de Josiel o acusam de só defender o adiamento da eleição depois de revelada a queda na pesquisa. Os assessores do candidato afirmam que ele sempre defendeu a ideia, só não a levava para a campanha no rádio e na TV.

Até o apagão, o segundo colocado na disputa, segunda o Ibope, era João Capiberibe (PSB), que governou o Amapá entre 1995 e 2002. Ele tinha 17% das intenções de voto, e foi para 13%. A margem de erro é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.

O segundo lugar tem um empate técnico entre a deputada federal Patrícia Ferraz (Podemos) e o deputado estadual Dr. Furlan (Cidadania).

Ferraz, que vem explorando o apagão em sua campanha, passou de 13% para 18% das intenções de voto. Já Furlan foi de 13% para 17%. Ele diz que sempre defendeu o adiamento da eleição, desde o início do apagão.

Os dois deputados fazem o discurso contra a "velha política", na linha do que fez Jair Bolsonaro (sem partido) na disputa pela Presidência em 2018. Ferraz e Furlan têm simpatia pelo presidente e ambos buscam seu eleitorado em Macapá.

Estão na disputa ainda o pastor Guaracy (PSL) e Cirilo Fernandes (PRTB), também do campo bolsonarista. Eles têm 8% e 7% dos votos válidos, respectivamente, segundo o Ibope, e ficaram estáveis desde o apagão.

Do campo da esquerda, além de Capiberibe, estão na corrida o deputado estadual Paulo Lemos (PSOL), com 5%, e o Professor Marcos (PT), com 2%. Lemos tinha apenas 1% antes da escuridão que tomou conta da capital amapaense.

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