Logo Folha de Pernambuco

Minas Gerais

Com flexibilização, ocupação de UTIs chega a 90% em Minas

Alta exponencial nos números veio após medidas de flexibilização da economia

Tratamento da Covid-19Tratamento da Covid-19 - Foto: Michael Dantas / AFP

Leia também

• Escolas de Minas Gerais inventam drive-thru junino para terem festa presencial

• Igrejas de Minas Gerais entram no circuito do Tour Virtual

• Pesquisa em Minas Gerais encontra coronavírus no esgoto

Com a flexibilização da economia nas últimas semanas, Minas Gerais viu uma alta exponencial nos casos confirmados do novo coronavírus, registrou aumento na ocupação de leitos de UTI e saiu da tranquilidade em que parecia estar, em comparação a outros estados.

Apesar de ver chances de lockdown em algumas cidades, Romeu Zema (Novo) descartou um decreto estadual. Na quarta (24), o governador avaliou o estado como segundo mais seguro do país.

"Esse sucesso acabou, de certa maneira, por ser interpretado como se o jogo já tivesse acabado e fosse hora de comemorar. Não é", declarou.

Uma semana antes, ele afirmou temer a possibilidade do estrangulamento do sistema de saúde em um mês. Em 19 de junho, Minas chegou a 600 mortes confirmadas; na última sexta, eram 833.

@@NOTICIAS_RELACIONADAS@@

Segundo estado mais populoso, com 21 milhões de pessoas, Minas atingiu 87,9% de ocupação total de UTIs na sexta -16,8% com casos relacionados ao novo coronavírus. No dia anterior, encostou em 92%. Dos 853 municípios, 674 tiveram casos e 205, mortes.

O cenário conta ainda com subnotificação e baixa testagem. Um projeto da UFMG que monitora a presença do vírus na rede de esgoto obteve resultado positivo em 100% das amostras coletadas, estimando que mais de 50 mil pessoas já foram infectadas em Belo Horizonte. O boletim do estado de sexta aponta 4.868 casos na capital.

No final de maio, em entrevista ao canal MyNews, Zema afirmou que havia capacidade ociosa de testes no estado. "Como o recurso é pouco, estou aplicando muito mais em UTIs que salvam vidas, do que em testes que tiram a curiosidade de acadêmicos".

São testados em Minas casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) hospitalizados, mortes suspeitas, profissionais de saúde e segurança pública com sintomas, presos, população indígena em aldeias, amostras de pessoas com síndrome gripal ou SRAG em unidades sentinela e em locais com surtos.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, a média em Minas é de 1.011 testes a cada 100 mil habitantes -considerando todos os testes realizados ou notificados, nas redes pública e privada, incluindo moleculares e sorológicos.
Contando apenas testes RT-PCR, o tipo mais confiável, a média cai para 440 por 100 mil habitantes -157 por 100 mil na rede pública.

Minas recebeu 783.960 testes rápidos do governo federal, mas foram notificados 119.974, somando rede pública e privada, segundo a secretaria. Dos 150 mil testes RT-PCR adquiridos pela gestão Zema, 50 mil foram entregues.

A justificativa do governo para não ampliar a testagem até então, apesar de ter testes disponíveis, é evitar que falte mais a frente, devido a alta demanda no mercado mundial.

"Teste é ferramenta de vigilância epidemiológica, não é para satisfazer curiosidade. É necessário para fazer a contenção da doença", afirma Natália Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência.
Eles deveriam ser requisito para definir reabertura, diz Alessandro Farias, imunologista e professor da Unicamp.

"Testar é a base de qualquer coisa. Se você quiser abrir, tem que testar. Se você não quiser fechar, tem que testar. Se quiser fechar, tem que testar."
A subnotificação de casos em Minas é apontada por pesquisadores com base nos números crescentes de SRAG. As internações pela síndrome tiveram aumento de 797% comparado ao ano passado.

O secretário de saúde, Carlos Eduardo Amaral, afirma que nem toda SRAG é infecção pelo Sars-CoV-2 e que há um aumento na sensibilidade da rede de saúde para notificar casos do tipo, seguindo orientação do Ministério da Saúde.

O governo divulgou uma redução de 8,5% nas mortes por doenças respiratórias comparado a 2019, mas uma pesquisa da UFU (Federal de Uberlândia) aponta aumento de 758% nas mortes por SRAG em 2020, comparado à média histórica de 2017, 2018 e 2019, que foi 179 mortes. No período entre janeiro e a segunda semana de junho foram registradas 1.540 mortes.

A pesquisa leva em conta duas bases de dados públicos, o Sinan (Sistema de Informação de Agravo de Notificações do Ministério da Saúde), através do Infogripe da Fiocruz, e registros da Arpen (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais), consultada também pelo governo. O estudo aponta que há divergências entre elas.

"As mortes fogem dos padrões anteriores", avalia o professor de Medicina da UFU, Stefan Vilges de Oliveira, que coordena a pesquisa. "Sensibilidade [de notificação] pode ser um dos elementos, mas nesse volume, não é só por isso. No futuro, a gente vai entender um pouco mais. Hoje estamos no meio do furacão".

Apesar da afirmação do governo de que todas as mortes são testadas, Oliveira explica que o período entre os primeiros sintomas e a realização do teste, além de outros fatores, pode interferir na detecção da infecção.

A maior circulação do vírus pode estar ligado à flexibilização, decisão que cabe aos prefeitos, já que o Minas Consciente, protocolo do estado, não tem adesão obrigatória.

A partir desta segunda (29), BH retorna para a fase em que só podem abrir serviços essenciais. A PM fiscaliza uso de máscara e distanciamento social em todo o estado.

Para tentar evitar sobrecarga no sistema hospitalar, o governo Zema ativou novos leitos, mudou o gestor da área e passou a rastrear vagas em tempo real, com um escritório especial. Dos 1.047 respiradores comprados, 390 foram recebidos até semana passada.

Desde o início da pandemia foram feitos 23 chamados emergenciais na rede estadual e contratados 382 profissionais de saúde.

"A cada expansão de leitos temos que contratar na rede pública. A gente consegue, mas não está fácil", diz Amaral.

A previsão para o pico da epidemia no estado é o dia 15 de julho, o que representaria uma contaminação ocorrida entre 14 e 21 dias antes.

Veja também

Chefe da Otan tem reunião com Donald Trump nos EUA
EUA

Chefe da Otan tem reunião com Donald Trump nos EUA

Homem de 25 anos acorda momentos antes de ser cremado na Índi

Homem de 25 anos acorda momentos antes de ser cremado na Índi

Newsletter