Com Gabão, África sofre oito golpes de Estado em três anos; entenda
Desde 2020, militares tomaram o poder em seis países do continente, incluindo também Mali, Guiné, Burkina Faso, Sudão e Níger
Ainda era madrugada quando os militares do Gabão, um país localizado na costa atlântica da África, entraram ao vivo na TV estatal para anunciar a derrubada do presidente Ali Bongo Ondimba nesta quarta-feira. Foi o oitavo golpe de Estado no continente desde 2020 — e o segundo apenas este ano, depois que o Níger, outra ex-colônia francesa, passou a ser governado por uma junta militar, em julho.
Nos últimos três anos também foram registradas iniciativas desse tipo em Mali, Guiné, Burkina Faso, Sudão e Níger, além de uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau — todos localizados no Sahel, uma região empobrecida entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul, que sofre desde 2011 com a violência de grupos jihadistas como o Estado Islâmico e a al-Qaeda.
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Saiba como, quando e onde ocorreram esses golpes:
Gabão: eleições suspeitas
Militares do Gabão derrubaram o presidente Ali Bongo Ondimba nesta quarta-feira e anunciaram o general Brice Oligui Nguema, chefe da guarda presidencial, como novo chefe de Estado.
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Ondimba foi acusado de “alta traição contra instituições do Estado”, desvio de fundos, corrupção ativa e até tráfico de drogas, horas após o Centro Eleitoral do Gabão ter divulgado os resultados oficiais das eleições presidenciais, que davam a vitória para Ondimba, com 64,27% dos votos, contra 30,77% do principal rival, Albert Ondo Ossa.
O pleito foi altamente questionado pela oposição, que alega fraude. A família Bongo governa o país desde 1967: primeiro foi Omar Bongo que se manteve na Presidência por 42 anos, até sua morte, em 2009. Ali Bongo Omdimba, de 64 anos, substituiu seu pai e assumiu o poder. Antes, foi ministro da Defesa, de 1999 a 2009.
Níger: o presidente sequestrado
Em 26 de julho, os militares da guarda presidencial anunciaram na televisão nacional que haviam derrubado o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum, que estava no poder desde 2021.
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Eles justificaram a iniciativa com "a contínua deterioração da situação de segurança" no Níger. A resposta da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) veio em 10 de agosto, quando o bloco anunciou a intenção de enviar uma força regional para "restabelecer a ordem constitucional", embora continue privilegiando a via diplomática.
Os militares propõem um período de transição de "três anos" até devolver o poder aos civis.
Burkina Faso: golpe no golpe
Em 24 de janeiro de 2022, militares anunciaram na televisão que haviam tomado o poder e deposto o presidente Roch Marc Christian Kaboré. O tenente-coronel Paul Henri Sandaogo Damiba foi empossado como presidente pouco tempo depois, em 16 de fevereiro.
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Na noite de 30 de setembro, porém, Damiba foi destituído e o capitão Ibrahim Traoré assumiu como presidente de transição até uma eleição presidencial programada para julho de 2024, que deve permitir que os civis retornem ao poder.
Guiné: governo provisório desde 2021
Em 5 de setembro de 2021, um grupo de militares liderados pelo coronel Mamady Doumbouya, responsável pelas Forças Especiais da Guiné, derrubou o governo do presidente Alpha Condé, dissolveu as instituições do país, suspendeu a Constituição e fechou fronteiras, tanto aéreas quanto terrestres. Dois anos depois, um governo provisório continua à frente do Estado.
Sudão: disputa entre Exército e paramilitares
Em 25 de outubro de 2021, os militares liderados pelo general Abdel Fatah al-Burhan expulsaram os líderes civis de transição, que supostamente lideravam o país para a democracia depois de 30 anos de ditadura de Omar al-Bashir, destituído em 2019.
Desde 15 de abril de 2023, uma guerra provocada por uma disputa de poder entre o general al-Burhan e seu ex-número dois e chefe da milícia das Forças de Apoio Rápido (RSF), Mohamed Hamdan Daglo, causou ao menos 5 mil mortes no país.
Mali: dois golpes de Estado em nove meses
Em 18 de agosto de 2020, o presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, foi derrubado após vários meses de crise política. Menos de dois meses depois, em 5 de outubro, foi formado um governo de transição, que deveria devolver o poder aos civis em 18 meses.
Mas, em 24 de maio de 2021, os militares prenderam o presidente e o primeiro-ministro após a nomeação de um novo governo de transição que eles desaprovavam.
O coronel Assimi Goïta foi empossado como presidente de transição em junho de 2022 e, logo depois, a França retirou as tropas enviadas para combater o jihadismo. E em junho de 2023, os malineses aprovaram uma nova Constituição, descrita pela oposição como uma ferramenta para manter a junta no poder após a eleição presidencial marcada para fevereiro de 2024.