Com infância de trabalho no lixão de Passira, jovem alcança 2º lugar em curso da UFPE
Cassiano Oliveira da Silva, de 29 anos, tentava o curso desde 2012
Uma infância de dificuldades em meio ao lixão de Passira, no Agreste de Pernambuco, não limitou Cassiano Oliveira da Silva, de 29 anos, de ir em busca dos seus sonhos e ingressar em um curso superior.
Desde 2012 tentando uma vaga, o tão aguardado momento chegou este ano, com a aprovação em segundo lugar em Ciências Biológicas, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Em entrevista à Folha de Pernambuco, Cassiano, que é natural do Recife, contou que, aos 10 anos, foi, junto com os pais e o irmão mais novo, morar na cidade de Passira, com o objetivo de conseguir sustento.
Foi no lixão do município, catando materiais recicláveis, que eles conseguiram renda. O trabalho de Cassiano no local era dividido com os estudos, uma prioridade para os pais, que sempre acreditaram que a educação traria mudança de vida.
"Eu recolhia papelão, garrafa PET, alumínio, osso e até lavagem para dar aos porcos que meu pai criava. A gente vendia o material e conseguia renda. Os colegas de turma tinham preconceito porque eu trabalhava no lixão. Era uma necessidade, eu era uma mão de obra a mais", afirmou Cassiano.
Foi no lixão que o estudante teve despertado o desejo pelas ciências biológicas. Mesmo com o passar dos anos e das tentativas frustradas, ele não desistiu. Continuou estudando pelo celular, assistindo vídeos.
"Eu comecei a fazer o Enem todos os anos. Me adaptei a estudar pelo celular, em casa mesmo. Todas as questões que errava, assistia um vídeo sobre o assunto para aprender o tema", relembrou.
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Já na fase adulta, o futuro biólogo fundou um depósito de materiais recicláveis em Passira. A iniciativa ajuda não somente sua família, mas também outros trabalhadores da região que vivem da reciclagem.
No local, o material coletado pelos catadores ou recolhido por empresas que geram resíduos é prensado e levado às fábricas para a venda.
"Eu ajudo tentando pagar um valor mais justo a quem trabalha catando o material, para que eles tenham um ganho maior", afirmou Cassiano, informando que o lixão da cidade de Passira foi desativado.
O jovem também contou que chegou a passar em Engenharia Ambiental, na Universidade Federal da Paraíba, mas não cursou por causa da distância.
Paralelo ao trabalho no depósito de materiais recicláveis, ele, que sempre foi ativo na região com pautas ambientais, se candidatou a vereador em 2016 e foi eleito.
Quatro anos depois, deixou a política de lado e continuou realizando seu trabalho com recicláveis, que permanece sendo a única fonte de sustento da família até os dias atuais.
Aprovado na modalidade a distância, no polo Limoeiro da UFPE, Cassiano acompanhará as aulas de maneira remota, estudando pela internet, como sempre fez. O início das aulas está previsto para 29 de maio.
Com os novos conhecimentos adquiridos, ele pretende contribuir ainda mais na conscientização da população sobre os cuidados com o meio ambiente, a reutilização do lixo e as mudanças climáticas.
"Eu não acreditava mais em conseguir realizar esse sonho. Vai ser uma troca de experiências. Eu vou poder contribuir apresentando novos projetos e tentando inovar", afirmou.