Com novo Plano Diretor, Zoo de Dois Irmãos abrigará apenas animais nativos de biomas pernambucanos
Plano diretor do parque busca reposicionar a missão do equipamento, que terá papel estratégico na preservação da fauna nativa dos biomas pernambucanos
O Zoológico do Parque de Dois Irmãos, localizado na Zona Norte do Recife, assumirá um papel estratégico na preservação da fauna nativa dos biomas pernambucanos. Para isso, abrigará apenas espécies de animais típicas da Mata Atlântica, Caatinga e áreas de transição típicas do Estado.
O anúncio do novo Plano Diretor, que busca reposicionar a missão do equipamento e despertar a sua vocação natural, foi feito nesta quarta-feira (14) pelo secretário estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade, José Bertotti.
O Zoo, então, assume oficialmente um papel conservacionista. Ou seja, voltado à conservação dos animais de espécies típicas da região.
O documento é um instrumento de gestão que define diretrizes de funcionamento, como missão, pilares e valores, e nasceu depois de dois anos de pesquisas e debates.
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Alguns dos animais de fora dos biomas pernambucanos que vivem hoje no Zoo serão transferidos para outros ambientes com capacidade para abrigá-los, como o casal de ursos-pardos, que irá para um rancho em São Paulo; e o pavão-branco, que será acolhido pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), instituição que já desenvolve um trabalho com outros exemplares dessa espécie.
“Os animais exóticos serão encaminhados a outras entidades mantenedoras da vida selvagem, devidamente regularizadas e capazes de fornecer iguais ou melhores condições de bem-estar. Alguns serão mantidos conosco, como o chimpanzé Sena, de 63 anos. Na natureza, teria no máximo 40 anos. Não tem sentido ele não continuar presente conosco”, explicou Bertotti.
Animais que não pertencem aos biomas pernambucanos, mas não têm condições de retorno à natureza, por questões como saúde, mobilidade e adaptação, permanecerão no Zoo de Dois Irmãos, assim como aqueles que a direção do Parque não encontrar novas instituições.
Atualmente, o plantel do Zoo abriga 380 indivíduos de 91 espécies, entre répteis, aves e mamíferos, além de enxames de abelhas. Esses animais pertencem a diversos biomas brasileiros e estrangeiros.
“Temos um estudo de viabilidade com 170 espécies, das quais 91 já são existentes no parque. Foram aprovadas 136 espécies, com 60 já no Zoo. Permanecerão os indivíduos abrigados hoje que atendem a esse novo perfil e haverá o recebimento de novos animais nativos vindos de outras instituições”, acrescentou o secretário de Meio Ambiente.
De acordo com o gerente técnico de manejo de fauna do Parque, o veterinário Márcio Silva, não há como definir um prazo para que o equipamento abrigue apenas espécies dos biomas pernambucanos.
“Não temos como prever quando os animais vão nos deixar. Fizemos uma lista de espécies com prioridade de transferência, depende das instituições, exames, muita coisa precisa ser vista. Alguns indivíduos não vão poder viajar, como o caso do Sena”, explicou.
O Parque de Dois Irmãos já abriga apenas animais sem condições de viver na natureza. “Não existe captura de animal para colocar nos recintos, é uma lógica que já preside o parque”, continuou o secretário de Meio Ambiente.
O Zoo de Dois Irmãos costuma abrigar esses animais de outros biomas, como o leão Léo, que morreu em 16 de janeiro deste ano, vítima de câncer na gengiva.
Muito querido pelos pernambucanos, Léo morava no Parque desde 2000. Ele era filho dos leões que atacaram e mataram uma criança no Circo Vostok, em Piedade, Zona Sul do Recife.
Há uma lista prioritária com 24 espécies de pequeno a grande porte que deverão integrar o plantel do Zoo, como jacucaca, lontra, ema, lobo-guará e onça-pintada, todas características da Mata Atlântica e da Caatinga.
Todo o trabalho de reestruturação do Parque passa também pela necessidade de voltar o equipamento à população e despertar a consciência em relação a temas ambientais.
“Temos o objetivo de promover a reconexão da população pernambucana, em especial da RMR, e turistas com esses biomas criando atrativos para que a gente possa entender melhor as atividades de lazer conectada com a educação ambiental”, continuou Bertotti, que defende a importância da valorização das riquezas naturais de Pernambuco.
Para a gerente-geral do Parque, Paula Falbo, esse é um momento muito importante para o equipamento. “Faz dois anos que estamos trabalhando neste produto. Esse plano dá norte à forma com que vamos trabalhar com nossos animais de forma futura”, disse.
Ainda segundo Paula, no próximo ano deverão ser lançados processos licitatórios para a requalificação da infraestrutura do Zoo. “Temos expectativa para ajustar os espaços. Os animais que vierem vamos ajustar os recintos de acordo com a necessidade e um plano macro está sendo estudado este ano”, disse a gerente-geral.
A presidente da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (Azab), a médica veterinária Claudia Souza, classificou o momento como emblemático.
“É a coroação de um esforço imenso dos técnicos e dos gestores para realmente encontrar a vocação do Parque Dois Irmãos. Trabalhar com a fauna regional foi um amadurecimento imenso com a visão do que temos hoje do que deve ser um zoológico, que contribua com a preservação e preze pelo bem-estar dos animais”, disse.
Já a professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Maria Adélia de Oliveira, destacou a preocupação com o bem-estar dos animais nesse processo de reposicionamento.
“O plano dá uma importância ao lado emocional dos animais. Eu fico realmente muito orgulhosa de tudo isso. Talvez a população não esteja preparada para esse momento e o plano prevê isso. É de uma ousadia extraordinária, de uma coragem colocar esse plano e discutir com a sociedade”, pontuou.
Por fim, o presidente da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), Djalma Paes, ressaltou a valorização do que é típico da região. “É importante mostrar para as nossas crianças aqueles animais com que a gente vive no dia a dia. A gente precisa despertar qual o papel de cada animal desse, qual a importância para a sobrevivência, inclusive do homem”, disse.
Parque Dois Irmãos
Fundado em janeiro de 1939, o Parque Dois Irmãos possui uma área de 14 hectares dentro da Unidade de Conservação de mesmo nome. Os dados de 2019, o último ano antes da pandemia de Covid-19, indicam uma média de 400 mil visitantes por ano.
A instituição é reconhecida no meio acadêmico e é palco de uma série de pesquisas científicas, além de ser bastante querida pelos pernambucanos.
Por causa do coronavírus, o Zoo está fechado desde março de 2020. Segundo José Bertotti, não há previsão para retorno do público, pois, segundo ele, não há condições que garantam a saúde dos visitantes, dos trabalhadores e dos próprios animais.