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Ataque hacker

Com site fora do ar após ataque hacker, Christie's afirma que vai manter leilões

Vendas dessa temporada representam quase metade da receita anual da casa de leilões; compradores demonstram preocupação com risco de vazamentos de dados

Christie'sChristie's - Foto: Reprodução/Internet

A Christie's vai manter as vendas da temporada, que representam quase metade da receita anual da casa de leilões, apesar da empresa ter perdido o controle de seu site oficial na quinta-feira, num ataque hacker que testou a lealdade de seus clientes ultra-ricos.

Guillaume Cerruti, CEO da Christie's, deu sua primeira declaração sobre o caso na noite de domingo, confirmando oito leilões programados para esta semana.

“Estamos ansiosos para recebê-los em nossas exposições e inscrevê-los para participar desses leilões”, escreveu ele em um comunicado enviado por e-mail.

Na quinta-feira, o site da Christie's ficou fora do ar, no que a empresa chamou de “problema de segurança tecnológica”.

Na manhã desta segunda-feira o site ainda traz a mensagem "Pedimos desculpas porque nosso site completo está fora do ar no momento. Estamos procurando resolver isso o mais rápido possível e lamentamos qualquer inconveniente."

Foi a segunda vez em menos de um ano que a Christie’s sofreu um ataque. Em agosto, uma empresa alemã de cibersegurança revelou uma violação de dados na casa de leilões que revelou a localização de obras de arte detidas por alguns dos colecionadores mais ricos do mundo.

Catálogos físicos
Ao longo do fim de semana, dezenas de potenciais compradores se reuniram nas galerias da Christie's no Rockefeller Center, em Manhattan, para avaliar as obras de arte e discutir lances. O valor total dos itens em leilão chega a US$ 840 milhões. Entre as obras apresentadas estava a pintura em serigrafia “Flores”, feita por Andy Warhol em 1964, com valor estimado de US$ 30 milhões.

Nas galerias, funcionários da Christie's garantiam a alguns clientes que a correção do site era “iminente”. Já na tarde de sábado, no entanto, ele foi substituído por uma página estática com o aviso de que estava fora do ar. No site temporário é possível navegar em catálogos on-line de vendas futuras, mas o usuário não pode fazer lances ou registros on-line.

Nos bastidores, dois funcionários da casa de leilões, que pediram para não serem identificados, descreveram um estado de pânico na empresa, com os principais líderes mantendo silêncio sobre os detalhes da violação de segurança, sem responder se os hackers acessaram informações confidenciais dos clientes. Vários compradores e vendedores afirmaram não terem sido informados sobre o ataque hacker.

“Um ataque cibernético como este é o equivalente no século 21 a uma granada de mão em uma sala pequena”, disse o advogado do mercado de arte Thomas C. Danziger, que frequentemente representa clientes em leilões. “Vinte e cinco anos atrás, teria sido uma inundação ou um furacão.”

Wendy Cromwell, consultora de arte, disse que compradores sérios encontrariam maneiras de fazer negócios com a casa de leilões, mesmo que ela enfrentasse dificuldades técnicas. “É um pesadelo, obviamente, com todos os dados de pagamentos e compradores que eles possuem. Não recebi notícias da Christie’s sobre a conta da minha empresa”, escreveu ela por e-mail. Em relação aos próximos leilões, ela acrescentou: “Estou planejando comparecer pessoalmente às vendas noturnas. Normalmente não faço lances online.”

Na tarde de sábado, enquanto os colecionadores percorriam as galerias, uma recepcionista disse que Cerutti não estava no escritório. Ele assumiu o comando da empresa em 2016, num momento em que as casas de leilão lutavam para encontrar obras fortes o bastante para atrair novos compradores.

A invasão ocorreu em um mau momento – não apenas para os executivos da Christie’s, mas para a família Pinault, que controla a casa de leilões por meio do Groupe Artémis, uma holding. A Artémis também controla a Kering, grupo de luxo dono de marcas de moda como Gucci e Balenciaga dirigido pelo bilionário François-Henri Pinault, que também é sócio-gerente da Artémis (com seu pai, François Pinault, o patriarca da família).

Em março, a Kering emitiu um alerta de lucros que previa uma queda de 10% nas receitas do grupo nos primeiros três meses de 2024, com as vendas da Gucci, a sua maior marca, caindo quase 20% em termos anuais no primeiro trimestre.

O ataque hacker à Christie’s também ocorreu no meio de uma transição de liderança: o neto de François Pinault, de 26 anos, François Louis Nicolas Pinault, assumiu o lugar do magnata no conselho da casa de leilões no início deste ano.

Sotheby’s e Phillips – as outras duas grandes casas de leilões – disseram não ter sofrido nenhum ataque cibernético nas últimas semanas. Chelsea Binns, especialista em crimes cibernéticos que leciona no John Jay College of Criminal Justice, em Manhattan, disse que a maioria das empresas não está preparada para ataques hacker e deveria se preparar fazendo exercícios e elaborando um plano de backup.

— Mas é só uma questão de tempo — disse ela. — Há um pouco de negação sobre a realidade.

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