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TEA

Como normalizar convívio ou perceber uma pessoa autista em lugares sociais? Especialista responde

Uma criança autista pode ser identificada nos primeiros meses de vida, através de diversos fatores

João Papariello, 17 anos, tem TEAJoão Papariello, 17 anos, tem TEA - Foto: Arthur Mota/ Folha de Pernambuco

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que compromete as atividades físicas e funcionais do cérebro, reunindo desordens neurológicas. Uma criança autista, por exemplo, pode ser identificada já nos primeiros meses de vida por determinadas alterações comportamentais, como dificuldade para interagir socialmente, firmeza do foco visual, expressão facial, os gestos, dificuldade na comunicação, repetição de palavras e apego excessivo a rotinas.

Em lugares abertos e sociais, como praias, restaurantes, parques e clubes, a pessoa autista pode apresentar comportamentos que causem estranheza nos demais, devido à hipersensibilidade causada pela falta de costume de conviver com muita gente.

Daí surgem os questionamentos por parte de quem não entende do assunto e a má interpretação, o que se torna uma questão sensorial. A partir disso, as possibilidades de críticas e reações desnecessárias se abrem. Dito isso, também é preciso entender que pessoas com TEA não apresentam características físicas, por exemplo, no rosto, que estampem a condição. Mas o que fazer para normalizar o convívio com essas pessoas?

Com mais de 20 anos de trabalho com o autismo, o neurocientista Victor Eustáquio, que é sócio-fundador da clínica Somar Special Care, tira dúvidas sobre a rotina com pessoas que possuem o TEA e dá dicas de como tornar a rotina com elas mais amigável. Segundo ele, existem acessórios que podem identificar uma pessoa com essa condição.

Dr. Victor Eustáquio, sócio-fundador da Somar Essential CareDr. Victor Eustáquio, sócio-fundador da Somar Special Care | Foto: Arthur Mota/ Folha de Pernambuco

"Hoje é comum as famílias usarem no pulso ou pescoço o símbolo do quebra-cabeça multicolorido, mundialmente conhecido. Também vem sendo bastante utilizado o símbolo do girassol. Como documento de identificação, tem a Ciptea [Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista] em Pernambuco. A solicitação dela pode ser feita no site da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança, Juventude e Prevenção à Violência e às Drogas (SDSCJPVD)", explica ele.

No Recife, segundo o especialista, existem locais que possuem adaptação para autistas, como, por exemplo, os parques da Jaqueira, Dona Lindu e Santana. A Praia de Boa Viagem também é uma indicação, bem como o RioMar Recife.

"Esses espaços podem oferecer ambientes ao ar livre e atividades recreativas que podem ser agradáveis para pessoas com o espectro autista. No entanto, é sempre importante verificar as necessidades individuais e preferências da pessoa autista antes de visitar qualquer local", justifica.

Uma recomendação que ele dá aos pais é sobre a segurança das pessoas com TEA em locais abertos. Todo cuidado é pouco.

"Importante considerar a utilização de identificação ou pulseiras de alerta, em caso de emergência. Ensinar e explicar habilidades sociais apropriadas para interações com outras pessoas também é importante. Os pais devem estar próximos dos terapeutas dos filhos para que, em conjunto, se construam histórias sociais, visando uma melhor acomodação nesses ambientes", acrescenta. 

"Lembre-se de que cada criança autista é única, portanto, adapte as orientações às necessidades individuais do seu filho", aconselha Victor Eustáquio.

Com a chegada do Dia das Crianças, outra questão levantada pelas pessoas é sobre qual presente dar a um autista. Eustáquio explica que o ideal é observar o hiperfoco deles e conversar com os familiares da criança antes de escolher.

"Hiperfoco é um estado de concentração intensa em alguma atividade ou tarefa. A criança ou o jovem pode ter esse hiperfoco em uma série, em um livro, em um quebra-cabeça. Então para que ninguém erre na escolha do presente, converse com o pai ou com a mãe do pequeno e veja se ele tem hiperfoco. É uma boa pista para não errar. Pode ser determinante", acrescenta.

João Pedro Papariello, de 17 anos, faz tratamento na Somar Special Care, unidade Torre, onde o doutor Victor Eustáquio atende. Quem cuida dele na unidade é Bruna Souza, que é aplicadora ABA da sala de Habilidades Sociais. Ela conversou com a Folha de Pernambuco e falou sobre a rotina com o jovem.

"A gente busca trabalhar com as crianças a socialização em grupo e a autonomia delas no dia a dia. Especialmente na semana das crianças, a gente trabalhou com João a confecção da decoração da clínica, para que ele passe pelos corredores e veja o que preparou. Ele é muito carinhoso e ama abraçar. Isso facilita e contribui muito para o desenvolvimento dele. É isso que a gente busca", afirma ela.

João Papariello faz tratamento na SomarJoão Papariello faz tratamento na Somar | Foto: Arthur Mota/ Folha de Pernambuco

 

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