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Como escândalo da bolsa Dior de R$ 13 mil da primeira-dama contribuiu para crise na Coreia do Sul

Incidente lançou uma sombra sobre Yoon Suk-yeol num momento em que seu Partido do Poder Popular (PPP) conservador tentava retomar o controle do Parlamento na eleição em abril

Kim Keon-hee, primeira-dama sul-coreana, está no epicentro da crise política do país Kim Keon-hee, primeira-dama sul-coreana, está no epicentro da crise política do país  - Foto: Jim Watson/AFP

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, já estava em apuros quando um vídeo de sua mulher, Kim Keon-hee, contribuiu para escalar a crise política que desaguou na decretação da lei marcial, anulada pelo Parlamento.

A medida expôs o isolamento de um mandatário cada vez mais impopular e que agora enfrenta uma moção de censura para sofrer impeachment. No início do ano, um vídeo vazado no YouTube flagrou o momento em que a primeira-dama recebe uma bolsa da Dior de US$ 2,2 mil (cerca de R$ 13 mil, na cotação atual) como um presente de um pastor coreano-americano.

Nas imagens, Kim Keon-hee pega a bolsa de grife das mãos de um pastor chamado Choi Jae-young, em setembro de 2022. O vídeo foi gravado com uma câmera escondida em um relógio de pulso e divulgado no canal do YouTube de um grupo político liberal, o Voice of Seoul. A filmagem mostra Choi visitando Kim em seu escritório pessoal, fora do complexo presidencial, e entregando-lhe o presente.

 

Na ocasião, para tentar contornar a agitação de eleitores e da oposição, o presidente classificou o caso como uma "manobra política", às vésperas do pleito legislativo de abril.

— O vídeo [foi tornado público] numa altura em que as eleições gerais se aproximam, um ano depois do acontecimento, por isso podemos ver isto como uma manobra política — disse Yoon em entrevista realizada pela KBS, indicando que o incidente, descrito por ele como "lamentável", poderia ter ocorrido para influenciar a opinião pública.

Parlamentares da oposição afirmaram que a primeira-dama agiu de forma inadequada e pediram uma investigação. O fato de o presidente não ter se desculpado pelo escândalo também foi alvo de críticas.

— A atitude vergonhosa do presidente é inútil — disse o porta-voz do Partido Democrático da Coreia, Kwon Chil-seung. — É difícil dizer por quanto tempo continuaremos a observar a hipocrisia de um presidente que se recusa a admitir a culpa e a pedir desculpas ao povo.

O incidente lançou uma sombra sobre o presidente num momento em que seu Partido do Poder Popular (PPP) conservador tentava retomar o controle do Parlamento na eleição de abril.

— O fato de ela não ter sido capaz de rejeitá-lo [o presente] friamente foi o problema, se é que podemos chamar isso de problema, e é um pouco lamentável — disse Yoon na entrevista à KBS. — Não posso deixar de lamentar isso.

Na época do escândalo da bolsa de grife, a taxa de apoio a Yoon caiu para o seu nível mais baixo desde abril na pesquisa semanal de acompanhamento da Gallup Korea. A sondagem também mostrou que a taxa de apoio ao PPP de Yoon caiu para 34% de 36% na semana anterior, com a taxa para o principal partido da oposição, o Partido Democrático da Coreia, permanecendo inalterada em 35%.

Os presidentes sul-coreanos servem um único mandato de cinco anos.

Mudança de paradigma
Durante quase dois anos, Kim desafiou a forma como a sociedade profundamente patriarcal sul-coreana vê o papel da cônjuge presidencial. Ao contrário das primeiras-damas anteriores, que normalmente permaneciam na sombra do marido, ela aproveitou a atenção da mídia e até pressionou publicamente o governo de Yoon a proibir a criação e o abate de cães para consumo humano.

Ela falou sobre a devoção do marido por ela, dizendo em 2022 que ele havia prometido cozinhar para ela e "cumpriu essa promessa durante a última década".

Mas Kim também tem frequentemente gerado polêmica, às vezes de maneiras que, dizem os críticos, destacam sua influência indevida sobre o governo.

Em 2021, quando Yoon, um ex-promotor de justiça, fazia campanha para a Presidência, ela pediu desculpas por inflar seu currículo para promover seu negócio de exposições de arte. Depois, houve a divulgação de conversas com um repórter, que a gravou secretamente, em que sugeriu estar profundamente envolvida na campanha de seu marido. Ela chamou Yoon de "um tolo" que "não pode fazer nada sem mim". Ela também declarou que retaliaria contra a mídia hostil "se tomar o poder".

Kim também enfrentou acusações de que estava envolvida em um esquema de manipulação de preços de ações antes da eleição de Yoon. Em dezembro, o Parlamento controlado pela oposição aprovou um projeto de lei que teria indicado um procurador especial para investigar as alegações. Yoon e Kim negaram as acusações, e ele vetou o projeto. (Com Bloomberg e NYT.)

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