entrevista

Como pensa Dom Paulo Jackson; saiba o que diz o novo arcebispo de Olinda e Recife sobre alguns temas

Oficializado publicamente na nova missão neste domingo (13), em entrevista coletiva, o religioso falou sobre temas diversos

Dom Paulo JacksonDom Paulo Jackson - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Dom Paulo Jackson, novo arcebispo de Olinda e Recife, oficializado publicamente neste domingo (13), em cerimônia no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães – Geraldão, assume a missão de ser o principal líder das dioceses de 19 municípios pernambucanos e do arquipélago de Fernando de Noronha, com um total de quase quatro milhões de fieis. 

Nesta manhã, em entrevista coletiva à imprensa, ele falou sobre algumas questões caras à Igreja Católica e à sociedade. Entre elas, as relações institucionais com o estado e municípios, como trazer de volta fieis egressos do catolicismo, a formação da prática cristã e como a Igreja deve atuar em casos de denúncia de abusos sexuais, principalmente após a notoriedade do caso do padre Airton Freire, de Arcoverde (lembrando que este município não está vinculado à Arquidiocese de Olinda e Recife).

Veja as principais falas de Dom Paulo Jackson

Início do arcebispado
“O primeiro passo é escutar, escutar e escutar. O papa Francisco, neste processo de  preparação para o Sínodo, que vai acontecer em outubro, lá em Roma, tem nos ajudado muito, como Igreja, a aprender a escutar, mas, a escutar com os ouvidos de Deus, movidos pela fé.

(...)

A partir daí, a gente vai traçando alguns perfis, encontrando onde estão os elementos maiores de força e oportunidade e, também, onde estão as fragilidades e os elementos que, possivelmente, no futuro precisam ser mudados e corrigidos.

Progressismo ou conservadorismo?
O papa Francisco é extremamente aberto. Como um bom jesuíta, é alguém que tem um senso de discernimento da realidade muito profundo, tenta compreender os movimentos, as moções do espírito, compreender os sinais dos tempos e daquilo que está acontecendo ao nosso redor.
 
(...)

Os papas conservam elementos fundamentais que precisam, de fato, ser conservados, mas a interpretação de dogmas é uma interpretação dinâmica na luz do espírito, à luz dos novos desafios e sinais dos tempos que a História nos oferece (...) Temos um elemento central e perene, que é Jesus e o seu Evangelho, mas este elemento de perenidade dialoga, na luz e na força do espírito, com os novos desafios e realidades que vão se descortinando.

Perfil
A minha linha é a da Igreja, é a do papa Francisco, a minha linha é a da palavra de Deus, é a linha deste perene conjunto de valores que nós professamos no diálogo com as novas realidades. Eu não vim substituir nem Dom Fernando(Saburido), nem Dom José Cardoso (Sobrinho), nem Dom Hélder (Câmara), nem Dom Vital, mas, ao mesmo tempo, todos esses irmãos e muitos outros que vieram antes de mim tiveram papeis maravilhosos e fundamentais. 

Certamente, elementos dessa rica tradição de 31 bispos antes de mim, permanecerão. Porém, há os novos desafios das realidades desses 20 municípios, o diálogo com os poderes públicos, com as situações de pobreza, de fome, de insalubridade,do jeito como as pessoas moram e vivem, das dificuldades em relação ao trabalho.

(...)

Por um lado, nós manteremos elementos dessa rica história da Arquidiocese de Olinda e Recife. Por outro lado, teremos muita atenção aos desafios novos que a realidade nos oferece. À luz desses desafios, o Espírito Santo suscita em nós, na Igreja, os modos concretos de atuar. Isso é fruto de muito discernimento, muita oração e joelhos dobrados para tentar compreender o que é que o espírito fala às igrejas, à Igreja da Arquidiocese de Olinda e Recife hoje. 

Entrevista coletiva com Dom Paulo JacksonColetiva de imprensa com Dom Paulo Jackson, neste domingo (13)


Relações com a sociedade
Aqui temos um grande desafio. Formação de jovens é fundamental, porque disso depende, inclusive, a continuação das nossas comunidades, das nossas paróquias, da própria Igreja Diocesana. Formação será um elemento muito importante. Segundo, o modo como nós celebramos. E terceiro, como nós vivenciamos esta fé.

À luz da palavra de Deus, da Eucaristia, nós somos presença e testemunho qualificador na História, para encontrarmos caminhos novos para as realidades sociais tão dolorosas, tão difíceis, sobretudo no processo pós-pandemia… o processo de esgarçamento social, processo de polarização, de empobrecimento de nossa gente foi gritante.

Isso precisa ser refletido, não somente na nossa Arquidiocese, mas em nível do estado de Pernambuco e, eu diria mais, alargando a reflexão para todo o Nordeste.

Relações institucionais
A Igreja Católica tem um histórico de atuação no campo da filantropia, da beneficência, e uma grande experiência no campo das pastorais sociais.(...) Temos a presença da Igreja enquanto presença qualificadora da caridade, mas também com uma reflexão sobre as causas profundas que geram pobreza e desigualdade. A Igreja tem algo a dizer neste sentido. 

É muito importante que os padres, os seminaristas sejam formados nessa perspectiva. Já não é para estarmos dentro do governo, participando da máquina administrativa, mas como uma instituição que tem algo a dizer e a colaborar. 

No Ginásio Geraldo Magalhães, o "Geraldão", Dom Jackson  era aguardado por católicos fieis. Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

O princípio da subsidiariedade é fundamental da doutrina social da Igreja, e isso se faz por meio laços/diálogos institucionais e por meio de ações concretas, como A Casa do Pão, que é um exemplo bem concreto de relações profundas com os poderes públicos, mas, ao mesmo tempo, se mantém uma identidade católica. 

Ali é uma casa não somente para dar comida, com possibilidade de dar banho, lavar roupa, ou de assistência jurídica e odontológica ou médica, mas é também uma casa de evangelização, para dizer que Jesus é o centro da nossa existência. Nenhum filho de Deus nasceu para ser jogado na rua, abandonado, sem identidade, morando no lixo.

Reaproximar fiéis da Igreja
(...) Nos EUA cunharam uma expressão muito engraçada: “I believe, but I don’t belong” (“eu creio, mas eu não pertenço"). São pessoas que têm fé, vinculação com Deus, mas não querem pertencer institucionalmente a nenhum grupo. 

Alguns paradigmas da evangelização estão obsoletos (...) Então, com criatividade, à luz do espírito,a gente tem que encontrar outras maneiras para nos aproximarmos das pessoas. (...) O vínculo comunitário, numa cultura pós-moderna em que se exacerbou o individualismo, é muito importante (...) as pessoas estão hiperconectadas, mas existem poucas relações, talvez aqui esteja um elemento fundamental para as nossas comunidades.

Posse de Dom Paulo Jackson no GeraldãoA cidade paraibana de Patos marcou presença na cerimônia de posse de Dom Paulo Jackson como arcebispo. Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Ajudar aos jovens que já são da geração do “internetês” a, sem abandonar a conectividade – que me parece que é um traço que não é possível mais retroceder –, encontrar mecanismos de vínculos. Teatro, música, jogo de futebol,gincanas, visitas a lugares pitorescos,tudo pode ser instrumento para aproximar.

Denúncias de abuso sexual na Igreja
Em 2016, o papa Bento percebeu que não tinha idade e forças suficientes para enfrentar esta temática. O papa Francisco chegou e criou um protocolo de atuação, inclusive implicando diretamente os bispos. A prevaricação de um bispo num caso concreto de denúncia é algo bastante grave na Igreja e é motivo de afastamento, como já aconteceu pelo mundo afora.

(...)

O caminho é bastante claro: chegou um caso de denúncia, cada bispo deve fazer uma investigação prévia, por meio desta comissão presidida pelo próprio bispo. Se houver plausibilidade e verossimilhança de que, possivelmente, o caso é verdadeiro, a partir daí se inicia o processo judicial/canônico para a continuação da investigação. Imediatamente, o caso precisa ser comunicado a Roma. A partir de Roma vem as orientações precisas para se conduzir o processo. É um pouco também o que acontece no nível civil.

– Tem que haver minimamente plausibilidade e verossimilhança, porque, infelizmente, também há jogos grotescos, gente malévola, há quadrilhas que estão atuando com extorsão, gente que já suicidou por casos de extorsão, Brasil afora… coisas muito tristes – 

Como nós iremos atuar? Da mesma forma como Dom Fernando vinha atuando e da mesma forma que o papa Francisco nos pede que atuemos.

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