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MANIFESTAÇÃO

Comunidade congolesa cobra justiça por Moïse: 'Parem de nos matar'

'Vamos lutar até o fim', diz mãe do congolês. Centenas de manifestantes ocupam calçadão em frente a quiosque onde ele foi assassinado

Protesto em São Paulo Protesto em São Paulo  - Foto: Nelson Almeida/AFP

A comunidade congolesa no Rio de Janeiro realiza, na manhã deste sábado, uma manifestação na orla da Barra da Tijuca em frente ao quiosque onde Moïse Mugenyi Kabagambe foi brutalmente assassinado em 24 de janeiro.

Há manifestações também em outras capitais, como São Paulo e Brasília.

Centenas de manifestantes já ocuparam o calçadão. Muito emocionada, a mãe de Moise, Ivone, agradeceu a presença de todos:

- Vamos lutar por justiça até o final, obrigado por todo o amor que estão demonstrando ao meu filho.

Um dos irmãos da vítima, Djodjo magno também declarou sua indignação:

- Que todas as pessoas envolvidas com esse caso paguem pelo que fez.

Os manifestantes entoam palavras de ordem como “justiça, justiça!” e empunham cartazes com dizeres como “Parem de nos matar” e “Chega de racismo e xenofobia”.

- É importante a gente estar aqui representando a negritude diante de uma barbárie dessa, mostrando que a gente tem direito de existir e de ser tratado com dignidade. Lutamos por isso e faltammuitas conquistas. Iremos batalhar quantas vezes forem necessárias - afirma a estudante de Direito da UFF Thais Azevedo, de 24 anos.

O ritual de dança é um dos destaques do protesto. Em certo momento, um grupo com dezenas de imigrantes percorreu a Avenida Lúcio Costa cumprindo a tradição africana em momentos de luto.

- É assim que nós da África choramos, com alegria e tristeza. O Moïse era uma pessoa muito alegre, e nós estamos aqui com muita força gritando e lamentando por ele. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, independentemente de qualquer coisa. De certa forma, esta dança representa a alegria de Moïse - declarou Lecticia Canda, imigrante da Angola.

Diretor da Frente Nacional Antirracista, Geraldo Henrique afirma que a entidade 'vai enfrentar toda e qualquer injustiça contra o povo preto':

— O grande propósito deste ato é mostrar como o povo negro está unido para garantir nossa segurança e que iremos lutar quando houver racismo, xenofobia ou qualquer tipo de criminalidade que possa afetar a comunidade preta brasileira.

Do Centro de Articulação de População Marginalizada, Ivani Babalaô diz que é momento de reafirmar a luta e união do movimento negro:

- Moíse era do Congo, o primeiro grupo de escravizados que chegaram aqui, no século XVI. Estamos no século XXI, e a mentalidade sobre o povo negro é a mesma. Precisamos colocar no centro do debate o que foi a escravidão e a herança que deixou, relegando nosso povo a um tratamento desumano.

Moïse foi amarrado e espancado com mais de 30 pauladas atrás do quiosque Tropicália. Segundo familiares, ele trabalhava no estabelecimento por diárias e foi cobrar dois dias de expediente que a barraca lhe devia, o que gerou uma discussão que terminou com sua tortura. De acordo o Instituto Médico Legal, a morte foi causada por traumatismo no tórax e contusão pulmonar.

O espancamento foi registrado por câmeras de segurança, e a Polícia Civil investiga o caso. Pelo menos três suspeitos já foram presos.

A família do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe passará a ser a concessionária de um dos quiosques onde ele foi brutalmente assassinado no dia 24 de janeiro. A notícia foi dada pelo prefeito Eduardo Paes em seu perfil em uma rede social na manhã deste sábado.

Conforme informou Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, a prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Fazenda, vai transformar os quiosques Biruta e Tropicália em um memorial em homenagem à cultura congolesa e africana. A ação será realizada em parceria com a Orla Rio, concessionária que opera os estabelecimentos.

A reformulação dos quiosques pretende celebrar a “cultura e alegria do povo africano, tendo ali um ponto de referência com comida típica, e trazendo a oportunidade de empregar refugiados que vivem na cidade”, diz o secretário Pedro Paulo:

- O que aconteceu foi algo brutal, inaceitável e que não é da natureza do Rio. É nosso dever ser uma cidade antirracista, acolhedora e comprometida com a justiça social.

As oportunidades de emprego ligadas aos dois quiosques deverão, também, ser oferecidas a refugiados africanos residentes no Rio. Além disso, em parceria com o Sesc/Senac e com organizações sociais, a Prefeitura e Orla Rio vão criar um programa de treinamento e capacitação para esses imigrantes atuarem no setor de alimentação. 

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