Comunidade do Japão, em Camaragibe, sofre com os estragos da chuva
Município de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, foi o mais afetado pelo forte temporal
A madrugada de segunda-feira (20) para terça-feira (21) foi de muita chuva para todo o estado de Pernambuco, e o município de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife (RMR), foi o mais afetado pelo forte temporal. Na Comunidade do Japão, os moradores buscam recuperar o estrago causado pela lama promovendo a solidariedade e buscando doações para sanar as grandes perdas materiais.
Com marcas de água chegando a 1,60m em todas as paredes da comunidade, colchões, sofás, armários, fogões e televisores eram reunidos no meio da rua, todos inutilizáveis e esperando apenas serem recolhidos para a reciclagem.
“Desde as 22h do domingo a gente está na maior luta do mundo. A população perdeu tudo, mas nós estamos aqui lutando e pedindo ajuda”, relata o líder comunitário, Josias Lima.
A sua irmã, Maria Cristina Lima da Silva, mora na comunidade há nove anos e perdeu a casa quando ela desabou devido à força da inundação. “Foi uma chuva constante e pesada, a água do rio começou a subir, então eu comecei a subir as minhas coisas para o alto. De repente começou: a água foi subindo, subindo e quando eu dei por mim, já estava acima da minha cintura. O pessoal tentou me ajudar mas não deu para tirar nada. Eu consegui sair e fui para uma casa de uma vizinha, quando eu voltei, me falaram ‘Cristina, sua casa já era’. Quando saí e olhei, não tinha mais casa”, contou Maria.
“Dessa vez foi fatal, eu perdi a minha casa. A gente sente uma tristeza, você já não tem condições, porque se tivesse, não morava tão perto do rio. Aí você olha, vê a sua casa construída e depois da chuva, tudo destruído. Agora é pedir força a Deus, não perder a fé e reconstruir”, completou ela.
Maria Cristina trabalhou a vida toda como ambulante, mas parou e agora a renda da família vem do seu filho ainda jovem que faz alguns 'bicos'. Quando viu os escombros do que era o seu lar, disse que nem chorou, ficou apenas olhando parada e sem reação. Para ela, o próximo passo vai ser reconstruir a casa com a ajuda dos vizinhos, exatamente no mesmo lugar.
“A gente tem força de vontade e agora é reconstruir no mesmo lugar, porque não tenho condições de ir para outro lugar”.
Cristina afirmou que representantes da prefeitura também teriam informado que a gestão municipal iria ajudar na reconstrução do imóvel. No entanto, procurada pela reportagem, a Prefeitura de Camaragibe informou que não possui linha de crédito ou recursos para auxílios neste sentido, mas que está dando assistência emergencial às famílias atingidas pelas chuvas, incluindo ações de limpeza e alimentação e, também, a criação de uma campanha para arrecadação de doações. [Veja mais detalhes abaixo, ao fim da reportagem.]
Os moradores relataram que a água do rio subiu e invadiu todas as ruas e casas. De acordo com eles, “Tudo virou rio”. Para conseguirem tirar as pessoas que precisavam de ajuda de dentro das casas, amarravam cordas e puxavam juntos devido a forte correnteza.
Jaqueline dos Santos tem 34 anos, passou 21 deles na comunidade do Japão e com as chuvas, perdeu tudo. No chão, completamente ensopados na frente de casa, estavam os documentos que iriam para o lixo. Na garagem, o carro que ficou submerso na água, parou de funcionar.
“Muito nervosismo, desgosto mesmo. A água invadiu e não deu tempo de tirar nada, só de ir embora, agora é recomeçar tudo de novo. Não tem como sair daqui, então temos que passar por isso.”
A sua mãe, Marlene dos Santos, tem diabetes e usava o carro para emergências, quando sentia muita dor e precisava ir para o hospital. “Esse sofrimento todinho dentro de casa, a moto não pega mais, perdemos o carro. Tínhamos que ter o carro… se eu passar mal, quem me socorre?” questionou.
Todos os seus eletrodomésticos estavam boiando na água quando mãe e filha voltaram para casa depois do temporal para ver o estado de seus pertences. Marlene contou que se tivesse outro lugar para ir, não teria dúvidas em deixar o local: “Se eu tivesse quatro paus e uma lona em cima, eu ia, só para não ficar aqui”.
Carlos Alberto tem 41 anos e mora com a esposa na comunidade há três anos. Desde o período de chuva, ele conta com a ajuda dos amigos da igreja para limpar a casa e se desfazer dos móveis. “Só a minha esposa estava, os vizinhos que ajudaram ela a tirar as coisas de casa, quando eu cheguei, a água estava no meu ombro. A parede de trás caiu e eu agora estou sendo ajudado, pela solidariedade das pessoas, eu só tenho a agradecer a Deus. Minha esposa está bem, eu estou bem”, explicou. Para ele, apesar do momento de crise, tem uma coisa boa acontecendo.
"A gente vê nisso a bondade, a solidariedade. As pessoas estão juntas, comida por exemplo não falta aqui.”
Quem levou a comida do almoço nesta quarta-feira (22) foram Cássia Oliveira e Maria Eduarda, de 19 e 18 anos, respectivamente. As amigas moram em uma parte da comunidade do Japão que é mais elevada e não foi atingida pela chuva.
“A gente se mobilizou para ajudar a comunidade, recebemos doações de alimentos e quantias de dinheiro. Compramos carne, feijão e arroz, fizemos as comidas e trazemos para cá. Também doamos roupas, sapatos”, explicou Cássia.
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Maria Eduarda acrescentou:"Graças a Deus a gente está recebendo ajuda, muita ajuda. Para doar, pode entrar em contato pelo número (81) 98657-0260”.
O líder comunitário, Josias, também faz um apelo. “Estamos precisando urgentemente de colchão, produtos de limpeza, alimento, roupas. Há gente que só comeu porque a gente está ajudando, todo mundo sem nada. Para doar, pode ligar para o telefone 8565-1146 e procurar Josias”.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Camaragibe informou, por meio da Secretaria de Assistência Social, que equipes técnicas realizaram o cadastro de 210 famílias atingidas diretamente pelas chuvas no município nos últimos dias.
Segundo a gestão municipal, os moradores já começaram a receber cestas básicas, refeições prontas, além de colchões e lençóis. Equipes das secretarias de Infraestrutura e Serviços Públicos continuam intensificando as ações de limpeza das áreas e auxiliando os moradores no retorno às suas casas.
A prefeitura também informou que a população em geral pode ajudar com doação de eletrodomésticos, móveis, roupas e alimentos não perecíveis, levando os itens até a sede da Secretaria de Assistência Social, localizada na Rua Treze de Maio, Timbi, de segunda à sexta, das 8h às 16h.
Por fim, o órgão ressaltou que a Defesa Civil do município funciona 24 horas e a população pode entrar em contato por meio dos números (81) 2129-9564, 999453015 e 153.