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Opinião

Conde Só Brega: a chegada do reconhecimento

Quem acompanha o atual momento por que passa o cenário do Movimento Brega em Pernambuco tem percebido um maior destaque atribuído ao artista Conde Só Brega. Vale aqui ressaltar a longínqua trajetória desse artista que desde a década de 1990, com a Banda Só Brega, vem imprimindo o seu estilo próprio e inconfundível refletido, sobretudo, na sua forma de vestir e nos seus trejeitos ao interpretar as canções.
Houve um tempo em que o artista era visto apenas como uma espécie de figura folclórica, caricata e poucos naquela época enxergavam o verdadeiro sentido artístico desempenhado por ele. Felizmente, após tantas dificuldades perpassadas, percebe-se hoje o quão longe se conseguiu chegar. Sua voz começou a ganhar cada vez mais repercussão e notoriedade. Todavia, ainda não se conseguira atingir o merecido reconhecimento pela magnitude de sua obra frente ao brega romântico pernambucano. Conforme atesta um excerto de uma de suas mais conhecidas canções: “Nessa vida tudo passa. Continuo a esperar”. Ademais, ele possui todas as credenciais para ainda conquistar o Brasil inteiro através do seu trabalho.

A partir das periferias do Recife, Conde expandiu sua arte pelos diversos rincões do estado e foi sedimentando um considerável número de fãs e admiradores. O Conde Só Brega se tornou um dos maiores expoentes do brega romântico de Pernambucano. Com a partida do Rei Reginaldo Rossi em 2013, a cena brega local ficou órfã de um representante com tamanha envergadura. Em abril do ano passado, Augusto César também partira alargando ainda mais o vácuo existente. Eis que se passou a se perceber com mais nitidez pela mídia o já consagrado trabalho desenvolvido pelo Conde, mas que ainda carece de um maior reconhecimento.

O Brega está alcançando maior robustez e vem se consolidando como importante gênero musical pernambucano. Nessa perspectiva, em 2017 uma Lei estadual incluiu o brega no rol de expressões tidas como genuinamente pernambucanas. No ano passado, o Brega passou a ser reconhecido como patrimônio imaterial do Recife através de Lei municipal sancionada pelo prefeito João Campos. Atualmente, divide-se em subgêneros abarcando toda uma infinidade de personagens envolvidos dentre os quais diversos MCs e bandas com destaque para o Brega Funk fomentando uma gigantesca cadeia produtiva e gerando emprego e renda para muita gente.

Se a princípio a musicalidade brega emergente das comunidades periféricas recifenses era consumida apenas nas próprias comunidades que a produziam, com uma notável mudança de paradigma, passou a ser consumida em espaços diversos. Tem sido de fundamental importância o trabalho desenvolvido pelo Conde Só Brega. Sendo também fonte de inspiração para muitos jovens que adentram nesse universo musical. Cria-se com isso novos ídolos que ascendem social e economicamente passando também a ser referências. Algo inimaginável outrora. Uma das mais célebres canções interpretadas pelo artista em comento afirma: “Queria ter poder pra poder fazer. Você às vezes dizer sim ao invés do não. Pra fome, pra saúde, pra pobreza. Pra miséria e educação.”

Hodiernamente, não se pode mais falar do brega em Pernambuco sem de alguma forma fazer menção a tal artista. Trata-se, pois, de um efetivo representante cultural das massas populares. Uma voz marcante de todo um movimento. Um reconhecimento tardio, mas de suma importância para um artista que com muito afinco vem defendendo com unhas e dentes a música brega pernambucana e, dessa forma, elevando a cultura do estado. Acabara de lançar em dezembro o DVD ‘Livre pra voar’, celebrando 22 anos de carreira e cantando os clássicos de sua trajetória de sucesso e que já tem espaço garantido no imaginário popular pernambucano.
Desejo vida longa e muito sucesso ao Conde Só Brega, um ícone e referência cultural viva de um movimento tão pujante que é o Brega pernambucano. Ainda teremos muito a desfrutar de sua arte. Críticos em sentido contrário podem também existir. Porém, de acordo com ele próprio noutra canção: “Porque meu bem, ninguém é perfeito e a vida é assim”.


*Advogado, membro da comissão de cultura da OAB/PE e professor


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