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Pesquisa

Confinamento na pandemia faz crescer casos de miopia em crianças

Segundo oftalmologistas, os períodos mais longos dentro de casa, longe da luz natural e encarando telas pequenas sem descanso, são os principais responsáveis

Segundo pesquisadores, o número de crianças com miopia cresceu até três vezes em comparação com os cinco anos anterioresSegundo pesquisadores, o número de crianças com miopia cresceu até três vezes em comparação com os cinco anos anteriores - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

As crianças, especialmente aquelas com idades entre 6 e 8 anos, estão ficando mais míopes na pandemia. Segundo oftalmologistas, os períodos mais longos dentro de casa, longe da luz natural e encarando telas pequenas sem descanso, são os principais responsáveis pelo aumento de casos do distúrbio nessa faixa etária.

Em um artigo publicado em janeiro deste ano na revista científica Jama Ophthalmology, pesquisadores da China relatam que, em 2020, o número de casos de miopia nas crianças entre 6 e 8 anos cresceu até três vezes em comparação com os cinco anos anteriores.

Os resultados vêm de um estudo que contou com a participação de mais de 120 mil crianças. Elas foram examinadas com a técnica do photoscreening, um tipo de exame que usa uma câmera para analisar os olhos sem dilatação.

As crianças de 6 anos foram as mais afetadas. A prevalência da miopia em 2020 nesse grupo foi de 21,5%, enquanto no período de 2015 a 2019 a prevalência mais alta registrada havia sido de 5,7%. No artigo, os pesquisadores afirmam que para crianças de idades entre 9 e 13 anos não houve mudanças significativas.

No Brasil, a situação é semelhante. Com as aulas regulares interrompidas há mais de um ano e as medidas restritivas para diminuir a circulação de pessoas e evitar a transmissão da Covid-19, os mais jovens passaram muito mais tempo dentro de casa no ano de 2020. As consequências já são percebidas nos consultórios médicos.

"Temos observado um aumento significativo de miopia nas crianças no último ano. Elas se queixam mais da dificuldade para ver coisas que estão longe", afirma Christiane Rolim-de-Moura, oftalmologista no Sabará Hospital Infantil.

Segundo o oftalmologista Emerson Castro, do Hospital Sírio-Libanês, o esperado era que os atendimentos diminuíssem durante a pandemia, mas isso não aconteceu: "Estou atendendo mais pacientes agora. O olho é a nossa comunicação com o mundo e todos o estão usando ainda mais neste período, crianças e adultos", diz.

A miopia é a dificuldade para enxergar coisas que estão mais longe. O distúrbio visual surge quando o olho cresce mais do que deveria, e isso dificulta ver com clareza coisas mais distantes. Existe um fator genético para o surgimento da miopia -filhos de pais míopes têm mais chances de ficarem míopes-, mas há fatores ambientais que podem causar o distúrbio.

No caso dos mais jovens, os médicos apontam alguns motivos para o aumento da miopia. O primeiro seria o uso de telas, principal distração durante o confinamento.

Moura explica que quando precisamos enxergar algo muito próximo (a menos de 33 centímetros), ativamos uma musculatura que, se não recebe descanso, causa o crescimento do olho, o que pode levar à miopia.

A falta de atividades ao ar livre e a ausência da luz natural também estão associadas ao surgimento do distúrbio, completa Castro. O sono irregular é outro fator que interfere na qualidade da visão, acrescenta o médico.

Mas por que os mais jovens são os mais afetados? Segundo Moura, o olho das crianças é mais elástico e, portanto, mais suscetível ao crescimento do globo ocular.

De acordo com Castro, são necessárias políticas públicas para lidar com a pandemia de miopia que segue o coronavírus. "Não é só colocar o óculos que resolve, há outros problemas associados, como a maior chance de aparecer outras doenças, como o descolamento da retina ou o glaucoma", diz.

"Em países mais pobres, onde é mais difícil corrigir o problema da miopia, há dificuldades no desenvolvimento escolar dessas crianças", afirma Castro.

Para evitar que o problema apareça, os especialistas sugerem descansos periódicos a cada 30 minutos ou 1 hora de uso contínuo de tela. Essas pausas devem durar alguns segundos ou minutos com os olhos observando objetos mais distantes para relaxar a musculatura. Olhar pela janela, lavar a louça, cozinhar e varrer o chão são algumas das atividades que podem aliviar os olhos.

Os médicos alertam ainda que telas muito pequenas, como as de telefones e tablets, são as mais prejudiciais. Computadores e televisões geralmente ficam mais distantes dos olhos e fazem menos mal.
Atividades ao ar livre, quando forem seguras, são recomendadas.

O papel dos adultos é fundamental para a saúde dos olhos dos mais novos. Quando a criança se aproxima muito de algo para enxergar, é sinal de que está na hora de visitar o oftalmologista, afirmam os médicos.

Mas é importante não esperar até que o problema se agrave. "A sugestão é que a criança passe por exames no primeiro ano de vida e, novamente, por volta dos 5 anos para que seja feita a detecção precoce", diz Moura.

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