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Conflito entre Guiana e Venezuela deve ser resolvido por países da região e fora da OEA, diz Amorim

Sem citar nominalmente os EUA, assessor especial de Lula disse que o caso na OEA seria tratado por apenas "uma superpotência"

O assessor especial da Presidência, Celso Amorim O assessor especial da Presidência, Celso Amorim  - Foto: Ludovic Marin/AFP

O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, defende que o conflito entre a Guiana e a Venezuela, que disputam a região de Essequibo, deve ser discutida no âmbito da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

Para Amorim, o caso não deve ser levado para a Organização dos Estados Americanos (OEA), que tem entre seus integrantes os Estados Unidos.

— A presença de uma superpotência gera manifestações mais emotivas — afirmou, ao Globo, o ex-chanceler do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos dois primeiros mandatos.

Celso Amorim participou, na semana passada, em São Vicente e Granadinas, de uma reunião entre os presidentes de Guiana, Irfaan Ali, e Venezuela, Nicolás Maduro. Ambos concordaram em evitar a escalada do conflito pela região de Essequibo, que está na Guiana e é cobiçada por Maduro.

Na avaliação de Amorim, um dos principais pontos do acordo foi a retirada do pedido de Ali para que o caso fosse discutido no âmbito da OEA. Ele ressaltou que, mesmo suspensa do organismo, a Venezuela não iria concordar e a tensão aumentaria.

— Bem ou mal, haveria uma superpotência na OEA e isso colocaria a questão entre Guiana e Venezuela em um quadro de rivalidades geopolíticas que não queremos que ocorra. Um conflito entre latino-americanos é melhor que seja resolvido dentro de um contexto latino-americano — disse.
 

O conflito entre os dois países por causa de Essequibo começou há mais de cem anos. Porém, Nicolás Maduro reforçou o discurso e realizou um plebiscito, no início do mês. Conforme o presidente da Venezuela, 95% da população concordaram em fornecer cidadania venezuelana ao povo da Guiana. Além disso, Maduro assinou documentos para criar um estado venezuelano na região, rica em petróleo, e nomear uma autoridade.

Estados Unidos e União Europeia defenderam a soberania da Guiana. O Brasil enviou tropas para fortalecer a fronteira com os dois países. E a Venezuela buscou o apoio de outros atores, como a Rússia.

Amorim citou como exemplo a crise diplomática entre Colômbia, Equador e Venezuela, em 2008. Disse que o caso foi resolvido pelo Grupo do Rio, substituído depois pela Celac.

Na época, o Exército colombiano anunciou que matou o número 2 das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes, na fronteira com o Equador. Aliado do presidente equatoriano, Rafael Corrêa, o então presidente venezuelano, Hugo Chávez, ordenou a saída de todos os funcionários da embaixada em Bogotá.

Na reunião de São Vicente e Granadinas, os líderes da Venezuela e da Guiana marcaram uma nova reunião, para daqui a três meses, no Brasil. Entre outros pontos do acordo, eles decidiram “não ameaçar ou usar a força uns contra os outros em quaisquer circunstâncias, incluindo aquelas decorrentes de quaisquer controvérsias entre os dois Estados”.

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