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Guerra

Conflito entre Israel e Hezbollah mata em apenas 2 dias cerca de metade do total de libaneses mortos

Ministério da Saúde libanês afirma que 564 pessoas morreram nos últimos dois dias, sendo seis nesta terça-feira; na última tensão entre as partes, mais de mil morreram em 34 dias

Soldados libaneses e trabalhadores de resgate trabalham em rua no subúrbio de Beirute, no Líbano, que teve prédio atingido por ataques israelenses Soldados libaneses e trabalhadores de resgate trabalham em rua no subúrbio de Beirute, no Líbano, que teve prédio atingido por ataques israelenses  - Foto: AFP

O conflito atual entre Israel e o movimento xiita libanês Hezbollah já matou cerca de metade do total de libaneses mortos durante a guerra no Líbano em 2006 — naquele ano, 1,191 pessoas foram mortas ao longo de 34 dias, segundo autoridades libanesas citadas pela ONU.

Segundo balanço do Ministério da Saúde do Líbano publicado nesta terça-feira, 564 libaneses morreram na segunda-feira e terça-feira: 558 na segunda, o dia mais sangrento no país desde o fim da Guerra Civil Libanesa em 1990, e mais seis nesta terça em um bombardeio israelense a Beirute.

Porém, nada garante que o número não subirá mais nas próximas horas, já que o Exército israelense anunciou novos bombardeios "massivos" contra posições do grupo.

O ministro da Saúde do Líbano, Firass Abiad, disse que a "grande maioria, se não todos, dos mortos nos ataques de ontem eram pessoas desarmadas em suas casas".

No balanço divulgado nesta terça-feira, em que menciona os 558 mortos de segunda, a pasta afirma que, desse total, 50 eram menores de idade e 94, mulheres. Ainda não há informações detalhadas sobre os mortos em Beirute.

Inimigos de longa data, o Hezbollah e Israel têm se envolvido em trocas de tiros transfronteiriças quase diárias desde que o Hamas lançou um ataque terrorista contra Israel em 7 de outubro.

Nesta terça-feira, após anunciar ter bombardeado cerca de 1,6 mil alvos do movimento xiita no sul do Líbano e no Vale do Bekaa, Israel voltou realizar ataques "massivos" contra alvos do Hezbollah no Líbano na madrugada desta terça.

Mais cedo neste mesmo dia, o Exército israelense disse ter matado um comandante graduado do Hezbollah, Ibrahim Mohammed Kobeissi, em um ataque com "caças da Força Aérea" contra o subúrbio da capital libanesa, Beirute.

Em um comunicado, os militares descreveram Kobeissi como "comandante da rede de mísseis e foguetes da organização". Uma fonte próxima ao Hezbollah confirmou à AFP a morte do comandante.

Por sua vez, o Hezbollah disse que lançou dois ataques com dezenas de foguetes contra "a base de Dado", uma base militar no norte de Israel, com um total de 90 foguetes.

O ataque ocorreu horas depois que 180 de seus projéteis cruzaram o céu israelense, fazendo com que as pessoas na cidade de Haifa corressem para se proteger.

Em um balanço final, o prota-voz das forças armadas, o contra-almirante Daniel Hagari, afirmou em entrevista coletiva que "aproximadamente 300 foguetes" foram disparados contra Israel.

— [Os foguetes feriram] seis civis e soldados, a maioria deles levemente — informou.

Na guerra de 2006, cujo pontapé foi o lançamento de foguetes pelo Hezbollah contra posições militares israelenses e aldeias fronteiriças em paralelo ao cruzamento da chamada Linha Azul, a fronteira provisória traçada pelas Nações Unidas, por uma unidade do movimento, que resultou na morte de oitos soldados israelenses e na captura de outros dois.

Em resposta, Israel deu início a uma ampla ofensiva contra o Líbano, numa guerra que durou um mês e deixou mais de mil mortos.

Do lado israelense, naquele ano, pelo menos 43 civis teriam morrido e 997 ficaram feridos, segundo dados citados pela ONU. P

ara além dos mortos, a guerra provocou o deslocamento de mais de 900 mil libaneses e 300 mil israelenses. A resolução 1.701 das Nações Unidas estabeleceu um cessar-fogo ao conflito, que nunca foi completamente respeitado, prevalecendo o que ficou conhecido como "regras do jogo": para cada ataque, haveria uma reação proporcional do outro lado.

Pauta na Assembleia Geral da ONU
O conflito atual foi pauta na Assembleia Geral da ONU, em Nova York nesta terça-feira. O evento foi dominado pelo medo de uma guerra ampla no Oriente Médio, após a intensificação da escalada militar entre o Exército israelense e o Hezbollah.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, alertou que a situação era crítica.

— Todos nós devemos ficar alarmados com a escalada. O Líbano está à beira do abismo — disse, advertindo contra "a possibilidade de transformar o Líbano (em) outra Gaza".

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o aliado mais próximo de Israel, também alertou contra uma guerra total no Líbano durante seu discurso em Nova York, afirmando que "uma guerra em grande escala não é do interesse de ninguém."

— Embora a situação tenha se agravado, uma solução diplomática ainda é possível — acrescentou Biden.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby, fez uma recomendação para que os cidadãos americanos no Líbano deixem o país enquanto ainda há opções de voo comercial operando. No dia anterior, o Pentágono anunciou que vai enviar um número adicional de soldados ao Oriente Médio "por questões operacionais", sem detalhar em que tipo de missão estariam envolvidos.

China e Rússia criticaram as ações israelenses, enquanto o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, afirmou que Paris está solicitando uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Líbano, onde o país tem tropas alocadas como parte da força de manutenção da paz das Nações Unidas.

Barrot disse que a luta deve terminar imediatamente e citou as mortes de centenas de pessoas na segunda-feira em ataques aéreos israelenses.

O Irã, que financia e apoia o Hezbollah, assim como o Hamas, condenou os ataques, com seu presidente, Masoud Pezeshkian, dizendo que seu aliado "não pode ficar sozinho" contra Israel.

— Não podemos permitir que o Líbano se torne outra Gaza nas mãos de Israel — disse ele.

O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, afirmou que o Estado judeu "não deseja" realizar uma invasão no território libanês, alegando terem "experiência passada no Líbano". Uma autoridade dos EUA, falando sob condição de anonimato, disse que Washington se opunha a uma invasão terrestre israelense visando o Hezbollah e tinha "ideias concretas" sobre como diminuir a escalada da crise.

Apesar da pressão crescente sobre Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu continuar com a campanha aérea israelense no Líbano.

— Continuaremos a atingir o Hezbollah... aquele que tiver um míssil em sua sala de estar e um foguete em sua casa não terá um lar — disse ele.

"Inaceitável"
A ONU disse que dezenas de milhares de libaneses fugiram de suas casas desde segunda-feira, diante da intensificação do bombardeio israelense.

"Dezenas de milhares de pessoas foram forçadas a deixar suas casas ontem e durante a noite, e os números continuam a crescer", disse o porta-voz da agência de refugiados da ONU, Matthew Saltmarsh, acrescentando que "o número de civis atingidos é inaceitável".

Mais tarde, a agência disse que estava "indignada" depois que um membro de sua equipe e um contratado foram mortos.

Thuraya Harb, 41 anos, dona de casa em um centro improvisado para famílias desabrigadas em Beirute, descreveu a terça-feira como um "dia de terror".

— Eu não queria deixar minha casa, mas as crianças estavam com medo — disse a mãe de quatro filhos, acrescentando que sua família fugiu ‘sem nada além das roupas do corpo’.

Nem todos os deslocados ficaram no Líbano. Um oficial de segurança da vizinha Síria disse à AFP que cerca de 500 pessoas cruzaram a fronteira, fugindo dos bombardeios.

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