Confrontos com polícia israelense marcam funeral de jornalista palestina
Os conflitos começaram quando a polícia tentou dispersar a multidão após a saída do hospital do caixão da repórter
Milhares de palestinos se despediram nesta sexta-feira (13) da jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, morta durante uma operação militar israelense, em um funeral marcado por cenas de violência após uma intervenção da polícia no início do cortejo.
Os incidentes eclodiram quando a polícia tentou dispersar a multidão após a saída do hospital do caixão da repórter.
Imagens transmitidas pela Palestine TV mostram o caixão caindo no chão depois que policiais dispersaram pessoas que agitavam bandeiras palestinas.
Segundo a organização Crescente Vermelho, 33 pessoas ficaram feridas durante o funeral, das quais seis tiveram que ser hospitalizadas.
Através de seus dois principais funcionários, os Estados Unidos se declararam "profundamente perturbados" com as imagens de violência no funeral de Shireen.
"Todos vimos estas imagens, são profundamente perturbadoras", disse a porta-voz presidencial, Jen Psaki. "Condenamos a intrusão no que deveria ter sido uma procissão pacífica", acrescentou.
"Pedimos respeito ao cortejo fúnebre, aos familiares dos mortos e à família neste contexto delicado", prosseguiu Psaki, prestando homenagem à "notável jornalista" assassinada na quarta-feira.
Horas depois, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, também classificou a intrusão como "perturbadora" e acrescentou que "toda família merece poder despedir seus entes queridos de uma forma digna e sem obstáculos".
"Mantemos contato próximo com nossas contrapartes israelense e palestina e fazemos um apelo à manutenção da calma e evitar qualquer ação que possa escalar ainda mais as tensões", pediu.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também ficou "profundamente abalado" pelo agir de "alguns policiais israelenses" no funeral da jornalista, segundo seu vice-porta-voz, Farhan Haq.
Guterres "está profundamente abalado pelos confrontos entre as forças de segurança israelenses e os palestinos reunidos no Hospital St. Joseph, e pelo comportamento de alguns policiais presentes no local", disse o porta-voz.
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O chefe da ONU "continua pedindo o respeito aos direitos humanos fundamentais, incluídas as liberdades de opinião e expressão, e de reunião pacífica", acrescentou.
A União Europeia (UE) já tinha se declarado "consternada" pelo que chamou de uso "inútil" da força e os Estados Unidos disseram-se "profundamente perturbados" com as imagens do funeral.
"Condenamos a intrusão no que deveria ser uma procissão pacífica", declarou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
O corpo da popular repórter da emissora catari Al Jazeera, uma cristã de 51 anos nascida em Jerusalém oriental, foram levados para uma igreja da Cidade Santa, onde uma missa foi celebrada em sua homenagem.
As ruas vizinhas estavam lotadas de pessoas que vieram se despedir da jornalista.
A multidão acompanhou o caixão até o cemitério próximo à Cidade Velha, onde Shireen Abu Ableh foi sepultada perto dos pais.
A repórter, que usava um colete à prova de balas com a palavra "Imprensa" e um capacete, cobria uma operação militar em um campo de refugiados em Jenin, na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967.
Várias hipóteses surgiram sobre a origem do disparo. A Al Jazeera acusou as forças israelenses de matar "deliberadamente" e a "sangue frio" sua jornalista estrela.
O primeiro-ministro israelense, Naftali Bennet, disse que a repórter "provavelmente" morreu atingida por disparos de combatentes palestinos.
Horas mais tarde, porém, seu ministro da Defesa, Benny Gantz, disse que o exército "não está certo de como foi assassinada".
"Pode ter sido um palestino quem atirou nela (...) O disparo também pode vir do nosso lado, estamos investigando", acrescentou.
Novos confrontos
Durante o funeral houve novos confrontos em Jenin, que deixaram 13 feridos, segundo o ministério da Saúde palestino.
Jenin é um reduto de facções armadas palestinas, de onde procedem os autores de atentados recentes em Israel, que multiplicou as operações para capturá-los.
Um policial israelense morreu nesta sexta-feira em uma operação em Burqin, perto de Jenin, segundo um comunicado oficial. O grupo armado palestino Jihad Islâmica assumiu a autoria da morte do agente.
O presidente americano, Joe Biden, debateu com o rei Abdullah II, da Jordânia, "mecanismos urgentes" para frear a violência em Israel e na Cisjordânia, informou a Casa Branca.
A Autoridade Palestina, liderada por Mahmud Abbas, rejeitou a ideia de uma investigação conjunta com Israel e declarou que queria remeter o caso ao Tribunal Penal Internacional.
O anúncio da morte da jornalista comoveu a população palestina e o mundo árabe, que acompanhou por mais de duas décadas suas reportagens na Al Jazeera.
Em vários territórios palestinos, houve protestos espontâneos e uma rua de Ramallah foi renomeada Shireen Abu Akleh em sua homenagem.
Milhares de palestinos já a tinham homenageado durante uma cerimônia oficial em Ramallah, sede da Autoridade Palestina da Cisjordânia.