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PERU

Congresso do Peru decide futuro do governo de Boluarte

Presidente vive em meio a um escândalo de relógios de luxo

Presidente do Peru, Dina BoluartePresidente do Peru, Dina Boluarte - Foto: Josh Edelson/AFP

O novo gabinete da presidente do Peru, Dina Boluarte, o terceiro em 16 meses, tentará nesta quarta-feira (3) obter um crucial voto de confiança no Congresso que lhe permita seguir governando em meio a um escândalo de relógios de luxo que envolve a mandatária.

O presidente do Conselho de Ministros, Gustavo Adrianzén, expôs diante do plenário do Parlamento unicameral os eixos da política geral de sua gestão. Após a apresentação, ocorreu um debate de quatro horas antes da votação da moção de confiança.

"Solicito ao honorável Congresso da República que conceda a confiança ao Gabinete Ministerial que presido a fim de iniciar as grandes tarefas que o povo peruano está esperando", disse Adrianzén ao concluir seu discurso de 105 minutos.

O dirigente acenou com "uma gestão de mãos limpas, um governo transparente para enfrentar a corrupção e a ineficiência". Entre suas prioridades enumerou a retomada econômica, a luta contra a corrupção, a ordem pública e a segurança e o narcotráfico.

Direita controla o Congresso 
O governo chega a essa votação debilitado depois do Rolexgate, um caso em que o Ministério Público investiga Boluarte por suposto enriquecimento ilícito, por supostos relógios Rolex e joias que a mandatária não declarou entre seus bens.

O escândalo provocou uma debandada no gabinete. Adrianzén, no cargo desde 6 de março, teve que nomear seis novos ministros na segunda-feira.

A Constituição prevê que os novos gabinetes têm que se submeter ao voto de confiança do Congresso em um prazo de 30 dias a partir de sua nomeação. Caso a Câmara o rejeite, Boluarte deverá nomear um novo.

Um voto contra tornaria ainda mais frágil seu governo, que não passa dos 10% de aprovação. Sua desaprovação chega aos 85%, a aprovação aos 9% e 6% não possuem opinião, segundo uma pesquisa nacional do Ipsos de março. O Congresso é tão impopular quanto a presidente.

O governo acredita que conseguirá a metade dos votos mais um dos 130 assentos do Congresso, graças aos grupos parlamentares que vão do centro à extrema direita, aos quais Boluarte se agarrou durante sua presidência diante da falta de uma bancada própria.

O poder do Congresso 
Os diversos legisladores desses partidos, que somam 73 assentos, já manifestaram que irão votar a favor do governo para evitar uma escalada que pode levar à antecipação das eleições gerais, previstas para 2026.

"Devemos dar o voto de confiança para garantir a governabilidade. Estamos em uma situação de crise", disse a jornalistas o congressista Jorge Montoya, do partido Renovação Popular.

A esquerda, que conta com 36 deputados, assegura que votará "contra a moção de confiança", disse à rádio RPP a parlamentar Sigrid Bazán. É um número insuficiente para rejeitar a moção de confiança, mesmo que somem os votos dos 21 deputados independentes.

Cenários do Rolexgate 
Está previsto que Boluarte, de 61 anos e que assumiu o poder em dezembro de 2022 em substituição ao destituído e preso Pedro Castillo por sua tentativa fracassada de autogolpe, deponha na sexta-feira diante dos promotores pela primeira vez desde que a polícia realizou buscas em sua casa e no gabinete presidencial em 30 de março.

Seu futuro "é incerto, embora seja jogado em duas cordas separadas que são a judicial e a política", disse à AFP o analista Augusto Alvarez Rodrich.

O MP pode investigá-la por um período máximo de oito meses depois de iniciada a investigação em março. Para acusá-la, terá de esperar até o final de seu mandato, em julho de 2026, conforme estipulado na Constituição.

Portanto, seria "na arena política, no Congresso, que se decidiria se ela permaneceria na presidência", enfatizou Alvarez.

O MP também investiga Boluarte pelos supostos crimes de "genocídio, homicídio qualificado e lesões graves", pela morte de mais de 50 civis "durante as mobilizações sociais entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023" que exigiram sua renúncia e novas eleições.

O Parlamento começou a processar uma moção de vacância (impeachment) por "incapacidade moral permanente" apresentada pelo Peru Libre, o partido de esquerda ao qual Boluarte pertencia. O pedido é apoiado por 30 membros do Congresso, mas para ser admitido para debate é necessário o apoio de mais de cinquenta congressistas.

Uma vez admitido, são necessários mais de 86 votos para destitui-la. A esquerda já apresentou dois pedidos de impeachment contra Boluarte, mas nenhum foi levado a debate.

Com Boluarte, já são seis os presidentes atingidos por casos de corrupção ao longo do século XXI. Desde 2016, o Peru já teve seis mandatários.

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