Congresso do Peru rejeita novamente antecipação das eleições para 2023
Plenário rejeitou a segunda proposta para antecipar as eleições com 54 votos a favor, 68 contra
O Congresso do Peru não aprovou, nesta quarta-feira (1º), um projeto de lei que contemplava a realização de eleições gerais em 2023, em meio a uma onda de protestos contra a presidente Dina Boluarte e os parlamentares que já soma 48 mortes em sete semanas.
Após um debate de cinco horas, o plenário rejeitou a segunda proposta para antecipar as eleições com 54 votos a favor, 68 contra e duas abstenções. Eram necessários 87 votos para aprovar a iniciativa legislativa, que propunha a realização do pleito em dezembro deste ano.
"Senhores congressistas, o projeto de reforma constitucional não obteve o número de votos previsto no artigo 206 da Constituição para sua aprovação", disse o presidente do Parlamento, José Williams.
Os congressistas de esquerda aplaudiram a rejeição ao projeto de lei apresentado pelo partido fujimorista Fuerza Popular (FP, direita), que contava com o apoio da presidente Boluarte.
O projeto rejeitado contemplava antecipar as eleições gerais para dezembro de 2023 e que as novas autoridades assumissem seus cargos em maio de 2024.
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"O objetivo desta proposta é um só, temas que avançar neste tema porque nosso país está sangrando até a morte", advertiu o parlamentar do FP e autor do projeto, Hernando Guerra García, ao abrir a sessão plenária.
Boluarte havia convocado o Congresso no domingo para aprovar as eleições antecipadas diante da crise social que abala o país. Caso isso não aconteça, ela garante que vai promover reformas constitucionais para que essas eleições sejam impostas.
Esta foi a terceira vez desde o início da crise em 7 de dezembro que o Congresso rejeita o adiantamento das eleições para 2023, enquanto a principal reivindicação dos manifestantes nas ruas é que haja novas eleições para presidente e para o Congresso. "Que saiam todos", dizem os cartazes.
"Este é o divórcio total entre a classe política e a população", disse à AFP Alonso Cárdenas, professor de Ciência Política da Universidade Antonio Ruiz de Montoya (UARM).
Desde a sexta-feira, o Congresso vem tentando discutir a antecipação do pleito, dividido pelo interesse das bancadas de esquerda de condicionar seu voto em troca de um referendo para formar uma nova Assembleia Constituinte.
- 'Bomba-relógio' -
Após a rejeição do projeto para antecipar as eleições, o Congresso começou a discutir uma nova proposta das bancadas de esquerda, que inclui uma consulta para a realização de uma Assembleia Constituinte, mas o debate durou poucos minutos devido à discussão acalorada entre os congressistas. A sessão foi suspensa e será retomada nesta quinta-feira.
"É uma bomba-relógio, é o pior cenário que poderia acontecer no país, com uma presidente que não renuncia e um Congresso que pretende seguir como se nada tivesse acontecido", disse o cientista político Cárdenas.
Em um parlamento fragmentado em mais de dez forças políticas, além de congressistas independentes, as bancadas de direita impulsionam a antecipação das eleições.
Boluarte e o Fuerza Popular defendem a antecipação de eleições para apaziguar os protestos que já somam 48 mortes desde que a crise começou em 7 de dezembro com a destituição e detenção do ex-presidente esquerdista Pedro Castillo, que tentou dissolver o Congresso e governar por decreto.
Em paralelo à crise política, os protestos continuavam nesta quarta-feira em várias áreas do país, incluído o centro de Lima.
As autoridades de Transporte contabilizaram 81 piquetes que obstaculizavam rodovias de seis das 25 regiões peruanas que pedem a renúncia de Boluarte.
No sul andino, uma região historicamente desassistida, havia bloqueios de rotas com pneus e troncos incendiados.