Equador

Conheça as principais facções criminosas do Equador, que disputam o controle de Guayaquil

Avanço das gangues de narcotráfico no país fez com que onda de violência atingisse níveis recordes; casos envolvem assassinatos, lavagem de dinheiro e até mineração ilegal

Avanço das gangues de narcotráfico fez com que a onda de violência atingisse níveis recordes no Equador Avanço das gangues de narcotráfico fez com que a onda de violência atingisse níveis recordes no Equador  - Foto: Fernando Machado / AFP

O Equador era conhecido, há poucos anos, como um pequeno país latino-americano com economia estável e dolarizada e relativa segurança, se comparado às nações vizinhas. Em pouco tempo, porém, o avanço das gangues de narcotráfico na região fez com que a onda de violência no território atingisse níveis recordes: o país chegou a ficar em terceiro lugar no ranking dos mais violentos da América do Sul em 2022.

Nesta semana, a população viu a fuga de dois membros das maiores quadrilhas criminosas do Equador, o governo decretou um estado de exceção, policiais foram sequestrados ou mantidos como reféns durante tumultos em presídios, e houve ataques com explosivos nas ruas. O cenário compõe a primeira crise do governo do presidente Daniel Noboa, de 36 anos, mas aponta para problemas estruturais e de violência que o precedem.

Noboa declarou, nesta terça-feira, que o país vivia um “estado de conflito armado interno” e nomeou 22 grupos criminosos como “organizações terroristas”. A ação ocorreu após Adolfo Macías, conhecido como Fito, líder da gangue Los Choneros, ter fugido da prisão no último domingo. Após sua fuga, ocorreu outra, a de Fabricio Colón Pico, membro de Los Lobos. Os dois casos ativaram fortes operações policiais, já que ambas as gangues são as mais proeminentes do país.

A crise com os Choneros e Lobos foi intensificada durante a pandemia, quando as gangues ganharam terreno enquanto também aumentava a penetração de dois dos principais cartéis mexicanos no país. O objetivo dos criminosos é controlar a área metropolitana de Guayaquil, a cidade mais populosa do país e porto-chave para as rotas internacionais do narcotráfico que partem da Colômbia e chegam aos EUA e Europa.

Quem são Los Choneros?
O grupo teve início com o traficante de drogas Jorge Bismarck Véliz España, que na década de 1990 ganhou fama como um criminoso que não tinha medo de usar a violência para atingir seus objetivos. Parentes dele começaram a usar seu nome para cobrar dívidas em sua cidade natal, Chone. Lá, sua reputação fez com que ele recebesse o apelido de “Teniente España” ou “El Chonero”.

Nos anos 2000, Véliz España mudou-se para Manta e identificou no fluxo regular de cocaína colombiana uma oportunidade. Ele passou a tentar unir gangues de traficantes locais para ajudar no transporte da droga, e o novo grupo criminoso assumiu seu apelido, tornando-se Los Choneros, uma das gangues mais poderosas do Equador.

Em 2011, segundo o InSight Crime, o grupo tinha extensas redes dentro e fora das prisões e as usava para controlar o tráfico de drogas, gerir esquemas de extorsão e organizar assassinatos por encomenda. Como era de se esperar, a gangue incomodou outras organizações de microtráfico, como os Queseros. As disputas entre eles atraíram a atenção nacional, mas os Choneros tinham a vantagem de ter os amigos certos.

O comércio de cocaína já era dominado por outros atores, incluindo o maior traficante de drogas do Equador, Washington Prado Alava, conhecido como “Gerald”. Segundo investigação do InSight Crime, Gerald começou sua atuação como piloto, dirigindo barcos rápidos que transportavam cocaína para fora do país. Depois, construiu um império de drogas centrado em Manabí. Em seu auge, enviava de três a quatro barcos por semana, cada um com até uma tonelada de coca.

Véliz España, porém, não viveu para ver a nova era: foi morto a tiros em 2007. Ele foi substituído por Jorge Luis Zambrano González, conhecido como “Rasquiña”. Este último fez com que os Choneros se tornassem um grupo armado a serviço de Gerald, atuando para proteger suas remessas desde a fronteira colombiana. O grupo passou a ajudar no envio da droga para os EUA, México e Europa, segundo o jornal equatoriano El Diario.

A relação entre os Choneros e Gerald ocorreu, em grande parte, por meio de Fito — o atual líder da organização que fugiu da prisão no domingo. Especialista em lavagem de dinheiro, ele foi acusado de lavar a renda do tráfico de cocaína de Gerald, além de supervisionar os carregamentos de drogas e até organizar paradas de reabastecimento para os barcos, conforme relatos de investigadores equatorianos ao InSight Crime.

O acordo entre as duas organizações durou até que Fito, ao lado de um capitão da polícia e sua esposa, criou um plano para derrubar Gerald. O criminoso recebeu informações falsas de que um trabalhador da construção civil havia roubado milhões de seus esconderijos. O operário foi assassinado, e o trio atuou para garantir que a polícia prestasse atenção. O caso revelou a extensão do império do tráfico de Gerald.

Gerald foi preso na Colômbia em abril de 2017 e extraditado para os EUA em 2018, onde atualmente cumpre uma pena de 19 anos. Depois disso, os Choneros buscaram preencher a lacuna e conseguiram o apoio de outras gangues. Além do tráfico de drogas, o grupo também atuou com extorsões, assassinatos por encomenda e comércio de contrabando.

Quem são Los Lobos?
Los Choneros, braço do Cartel de Sinaloa, é considerada a facção dominante no país, mas sua hegemonia ficou estremecida após a morte de Rasquiña, em 2020. Isso abriu caminho para Los Lobos, que, assim como muitas das gangues equatorianas, começaram como um grupo dissidente dos Choneros. Desde 2016, a organização, que supostamente fornece armas e segurança para o mexicano Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG), assumiu o controle de uma poderosa federação de gangues que se autodenominam coletivamente de Nova Geração.

Em fevereiro de 2021, a Nova Geração coordenou ataques contra os líderes regionais dos Los Choneros, tendo como alvo dois potenciais sucessores. Ambos conseguiram sair vivos, mas as disputas deixaram 80 mortos. Nos últimos anos, o grupo esteve envolvido em vários massacres em presídios, totalizando mais de 315 presos mortos só em 2021.

Los Lobos, que atua principalmente com tráfico de drogas, também se tornou muito ativa na indústria de mineração ilegal. Segundo o jornal equatoriano GK, o líder dos Lobos era Wilmer Chavarría, conhecido como “Pipo”. A polícia acredita que ele foi morto durante um tumulto na prisão em 2021, no qual 34 detentos foram assassinados, embora isso nunca tenha sido comprovado. Depois disso, Alexander Quesada, conhecido como “Ariel”, passou a ser considerado o líder da gangue.

Com as disputas entre as facções, as taxas de homicídio no Equador dispararam: passaram de 5,6 por 100 mil habitantes em 2017, para 25,32 por 100 mil habitantes em 2022, a maior da História. Com isso, o Equador ultrapassou o Brasil — que teve uma taxa de homicídios de 19,5 por 100 mil habitantes no mesmo ano — e se tornou o terceiro país mais violento da América do Sul, atrás apenas da Venezuela e da Colômbia.

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